Epílogo

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O sol de fim de tarde filtrava-se suavemente pelas cortinas da sala, tingindo tudo com um tom dourado. Anne estava sentada no sofá, com uma xícara de chá nas mãos, enquanto Gabriel preparava o jantar na cozinha. Aila, agora com 10 anos, brincava no quintal com o cachorro da família, uma cena que enchia os dois de uma paz tranquila, rara na correria de suas vidas. A casa que escolheram anos atrás, com uma varanda perfeita para os churrascos e as noites de vinho, agora era o lar de tantas memórias felizes.

Aila entrou pela porta, os cabelos bagunçados pelo vento, os olhos cheios de curiosidade.

— Mamãe, papai! — Ela gritou, correndo até eles com uma expressão animada. — Vocês nunca me contaram como se conheceram de verdade!

Anne trocou um olhar divertido com Gabriel, que secava as mãos com um pano de prato. Ele sorriu para a esposa, já sabendo que esse momento chegaria.

— Ah, a famosa história — Gabriel disse, andando até o sofá e sentando ao lado de Anne. Ele passou o braço ao redor dela, e Aila pulou no meio dos dois, já com os olhos brilhando de expectativa. — Quer ouvir toda a verdade?

— Claro! — Aila respondeu, mal contendo a excitação.

Anne suspirou, mas com um sorriso no rosto. Eles já haviam contado partes da história ao longo dos anos, mas agora parecia o momento certo para compartilhar tudo, especialmente os detalhes que eles sempre deixaram de lado nas versões mais curtas.

— Bom, tudo começou quando seu pai entrou no meu estúdio de tatuagem — Anne começou, olhando para Gabriel com um olhar cúmplice. — Eu não fazia ideia de quem ele era, mesmo ele sendo todo famosinho, sabe? Ele chegou todo arrogante, achando que eu ia me impressionar logo de cara.

Gabriel riu, balançando a cabeça.

— Eu não era tão arrogante assim... — Ele tentou se defender, mas Anne deu uma risada.

— Era sim! — Ela retrucou, e até Aila riu. — Mas a verdade é que, mesmo com toda a arrogância, eu achei ele intrigante. Ele queria fazer uma tatuagem e começou a me provocar o tempo todo.

— Ah, é! — Gabriel continuou. — Fiquei semanas indo ao estúdio, provocando sua mãe, tentando convencê-la a sair comigo. E ela me esnobava.

— É claro que eu esnobava! Você me irritava tanto — Anne riu, balançando a cabeça, lembrando de como os primeiros encontros entre eles foram cheios de faíscas, com ambos se desafiando a todo momento. — Mas, com o tempo, percebi que ele era muito mais do que mostrava. E foi aí que a gente começou a sair de verdade. Deixamos as provocações de lado e... bom, aí as coisas mudaram.

Aila ouvia tudo com atenção, absorvendo cada detalhe como se fosse uma história mágica. Ela olhava para os pais com uma admiração genuína, fascinada com o fato de que, por trás de toda a rotina e familiaridade, havia uma história tão especial.

— E quando vocês decidiram casar? — Aila perguntou, sua curiosidade crescendo.

— Ah, essa é uma boa parte da história — Gabriel disse, apertando de leve a mão de Anne. — A gente passou por muita coisa antes de chegar ao casamento. Teve muita confusão, briga e reconciliação. Eu tive que viajar por um tempo, e ficamos um ano separados enquanto eu filmava em outro país. Foi uma fase difícil, mas conseguimos passar por isso.

Anne olhou para ele, lembrando-se de como aquele período havia sido complicado. Eles quase haviam desistido, mas o amor e a vontade de ficar juntos falaram mais alto no final.

— Quando eu voltei, pedi sua mãe em casamento pela segunda vez. A primeira vez foi meio improvisada — Gabriel confessou, rindo. — Mas a segunda... eu quis fazer tudo direito. Levei ela para um lugar especial, e dessa vez, ela disse 'sim' sem pensar duas vezes.

— Foi um dos dias mais felizes da minha vida — Anne acrescentou, sorrindo. — E logo depois, a gente se mudou para essa casa. Tudo parecia finalmente se encaixar.

Aila sorriu largamente, adorando a ideia de que sua casa, onde ela cresceu, tinha tanta história por trás. Mas, como toda criança curiosa, ela não se conteve:

— E eu? Como eu entrei nessa história?

Anne e Gabriel se entreolharam e riram.

— Ah, isso é fácil — Gabriel respondeu. — Você é fruto da nossa lua de mel. Fomos para as Maldivas, foi uma viagem incrível, e quando voltamos... bem, pouco tempo depois descobrimos que você estava a caminho.

Aila deu uma risadinha, claramente adorando a ideia de ser "fruto" de uma viagem exótica.

— E foi uma surpresa maravilhosa — Anne disse, com um brilho no olhar. — Desde o momento que soubemos que você estava chegando, nossas vidas mudaram completamente.

— Lembro do dia em que descobrimos que você seria uma menina — Gabriel acrescentou, sorrindo ao se lembrar de quando recebeu a notícia. — E decidimos que seu nome seria Aila. Algo forte, doce, como você.

Aila se aconchegou entre os dois, satisfeita com a resposta, mas ainda não completamente saciada.

— E a tatuagem? — Ela perguntou, curiosa.

Gabriel deu uma risada alta, balançando a cabeça.

— Ah, é... — Ele olhou para Anne. — Até hoje sua mãe não fez a tatuagem que eu queria.

Anne revirou os olhos, sorrindo.

— Eu acho que já está na hora, né? — Anne brincou, apertando de leve a mão de Gabriel.

— Acho que sim — Gabriel respondeu, olhando para ela com carinho. — Mas dessa vez, vamos fazer juntos. Algo que simbolize tudo o que a gente construiu até agora. Você, eu, Aila... nossa família.

Aila olhou para os pais, completamente encantada com a história. Eles se abraçaram, e naquele momento, a pequena menina percebeu que, por trás de todas as aventuras, dramas e reviravoltas, o que realmente importava era o amor que mantinha tudo unido.

— E qual vai ser o desenho da tatuagem? — Aila perguntou, já sonhando com a resposta.

Anne olhou para Gabriel e sorriu.

— Acho que vamos descobrir isso juntos. Mas uma coisa eu sei — ela disse, olhando nos olhos dele. — Vai ser algo que carregue a nossa história. Algo que a gente possa olhar e lembrar de cada parte dessa jornada.

— E eu posso fazer uma quando crescer? — Aila perguntou animada.

Gabriel e Anne riram.

— Vamos conversar sobre isso quando você tiver 18 — Gabriel respondeu, bagunçando os cabelos da filha.

Com Aila rindo entre eles, Gabriel e Anne trocaram um olhar cúmplice, sabendo que, não importa o que viesse, eles sempre teriam um ao outro e sua pequena família.

Sin límites - Gabriel GuevaraOnde histórias criam vida. Descubra agora