UTOPIA: A caminho do sol

Quando o humano enfim foi marcado pelo Tenebris

Levi e Haneul ficaram responsáveis por espalhar a notícia sobre a revolta aos moradores de NewGlory. Eles partiram pelas sombras, entregando panfletos e explicando brevemente o significado das siglas neles. Nas entrelinhas, convocavam as pessoas a se reunirem ao nascer do sol no dia seguinte, pois atacariam o palácio com tudo o que tinham.

Desde que Soobin soube que seus prisioneiros haviam sido resgatados, ele estava irritado e assustado. Por isso, ordenou que outros Tenebris se espalhassem por todo o reino em busca deles. Já haviam encontrado o navio no qual tinham chegado e o incendiado, o que confirmava que eles ainda não haviam escapado. Sherlock ficou furioso com o que fizeram ao Midnight Owl, e vários Tenebris estavam agora com curativos na cabeça.

Como a situação estava delicada, Levi e Haneul eram os únicos que podiam sair, já que seus nomes não constavam na lista de procurados, tampouco se sabia da existência deles. Por isso, os demais passavam o dia no abrigo. Apesar de usarem todo o tempo para treinar, isso começou a se tornar tedioso.

Yeonjun finalmente acordou e foi informado da situação: seria usado como isca para fazer Soobin ceder. No entanto, ele achava que isso era uma perda de tempo. Não acreditava que o amigo abandonaria tudo por ele, já que o plano de dominação mundial era maior do que qualquer outra coisa, até mesmo que a amizade de anos entre eles. Quando contou isso a Yunjin, ela concordou que ele tinha razão. Pelo pouco que conhecia daquele Tenebris, era provável que ele realmente não se rendesse, mas ainda assim tentariam. Porém, caso falhassem, Yunjin temia o que poderia acontecer.

— Tanto faz se arrancarem o meu pescoço na guilhotina — disse ele, dando de ombros. — É melhor que eu morra mesmo. Uma existência inútil como a minha não vale nada.

A Tenebris estava separando gomos de tangerina e os dava na boca dele, já que suas mãos estavam amarradas.

— Já disse que as coisas não precisam ser assim. Agora que você é humano, pode simplesmente viver a sua vida...

— E você acha que os seus amigos vão simplesmente me deixar ir depois de tudo o que eu fiz? Sou parcialmente responsável por tudo o que aconteceu, parece que você se esqueceu.

Ela o encarou e deu de ombros.

— As pessoas mudam... Você está diferente agora.

Yeonjun mastigou o gomo de tangerina devagar, olhando para ela.

— Por que parece que você gosta de mim?

Ela ficou envergonhada e o empurrou com o ombro.

— Você é quem não sai de perto de mim. Não é estranho? Foi por minha causa que você perdeu os seus poderes. Não deveria me odiar?

Ele refletiu por um momento e, em seguida, deu de ombros.

— É porque você é a única pessoa neste mundo que viu o quanto eu sofri, que sabe de tudo o que eu passei. Acho que, por causa disso, me sinto mais próximo de você.

Yunjin entendia de onde vinha esse sentimento. Apesar de tudo, sentia que havia se conectado profundamente a ele, e que o tempo que passou sentada do lado de fora de sua cela não foi em vão. Era difícil admitir, mas sentimentos estranhos haviam crescido em seu coração. Não sabia dizer se era pena ou se tinha se afeiçoado a ele. Porém, definitivamente havia algo ali.

— Se tudo der certo e sobrevivermos, gostaria de conhecer a minha terra natal? — perguntou ela de repente. — Sunset Way é uma cidade portuária muito bonita e colorida. Lá, você certamente conseguiria um emprego para se sustentar.

Yeonjun nunca havia pensado no futuro. Desde que perdera seus poderes, afundara-se em lamentações e não queria mais existir. Por isso, imaginar um futuro no qual seria como todos os outros, com um emprego entre humanos, parecia estranho. Ao mesmo tempo, sentiu que a semente da curiosidade havia brotado em seu coração. Se sobrevivesse, era porque sua hora ainda não havia chegado. E, se não era a sua hora, talvez valesse a pena dar uma chance.