One - Far From You

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"A infância não vai do nascimento até certa idade, e a certa altura a criança está crescida, deixando de lado as coisas de criança. A infância é o reino onde ninguém morrer."

Edna St. Vincent Millay


Diana Miller - Washington DC


O primeiro ano longe de casa foi o mais difícil, mamãe e papai tentaram me convencer que o passar dos meses resolveria tudo e que poderíamos visitar a vovó no natal, então me agarrei a isso, tentei me lembrar das palavras de Sam, eu era uma garota corajosa e durona, pensei muito nas palavras dele naquele primeiro ano, não fomos visitar a vovó no natal como o papai tinha prometido, conforme o tempo foi passando eu descobri que o papai ia quebrar muitas de suas promessas, então me forcei a me adaptar a nova vida, ao colégio grande e caro, as novas roupas, os novos lugares que passamos a frequentar, a casa grande que moramos que só serviu pra evidenciar essa distancia que eu e meus pais sempre tivemos, uma casa que agora vivia cheia de amigos dos meus pais, esses mesmos pais que raramente falavam com os vizinhos em La Push, mas eu aguentava firme com os telefonemas da vovó alegrando meus dias, as coisas que ela me mandava e suas poucas visitas, os próximos anos passaram como um borrão e cada vez mais a idéia de voltar para La Push parecia distante.

- Querida, Diana! - A voz alta da minha mãe me desperta dos meus pensamentos, a encaro em dúvida, só eram 7 da manhã e ela já estava gritando.

- Sim mamãe - Contenho meu suspiro e a encaro fingindo uma paciência que já parecia não existir em mim a muito tempo, não conseguia entender porque andava tão impaciente nesses últimos tempos.

- Estou falando com você, o que acha de sairmos hoje para escolher um vestido novo para a festa do seu pai? - Sua voz volta a ser doce e a mesma me encara em expectativa.

- Mamãe eu já tenho um monte de vestidos no closet que ainda nem tirei a etiqueta, não preciso de mais um. - Ela me encara com aquele olhar de que eu ainda era nova demais para entender o real sentido das coisas, mas eu sabia muito bem as intenções dela, não era de hoje que ela e papai confabulavam para tentar me empurrar para o filho de um dos amigos dele, eu estava terminando a escola esse ano e já tinha iniciado um curso para dar aulas, o que ia de contramão com todos os planos deles, meu pai queria que eu fizesse direito, me casasse com um dos filhos dos amigos dele, como esse que estão tentando me empurrar agora, e morar em alguma casa tipo essa que estávamos e sabe lá o que mais, eu só tenho 17 anos e eles já decidiram toda minha vida.

- Não seja sem graça, é em comemoração ao seu pai virar sócio da companhia, não é qualquer festa. - Conheço minha mãe, ela não vai ceder, mas hoje não estou disposta a deixá-la ganhar.

- E entre os vários vestidos que tenho, definitivamente algum vai servir, preciso sair deu minha hora, nos vemos mais tarde. - Não deixo que ela fale mais nada, pego minha bolsa sobre a cadeira ao meu lado e me levanto mandando um beijo para ela enquanto saio, eu tinha escola de manhã, curso a tarde e um trabalho a noite, gostava de me manter ocupada e gostava de ter meu próprio dinheiro, meus pais não eram de fazer questão comigo, mas essa coisa de ficar pedindo dinheiro toda hora me incomodava, meu pai costumava me dar uma mesada, até meus 15 anos, depois ele disse que eu podia simplesmente pedir o dinheiro para ele quando precisasse, uma forma disfarçada para me controlar, tenho uma conta que eu mesma abri no banco e desde antes dele parar de me dar o dinheiro eu já estava guardando em casa e passei o dinheiro para a conta posteriormente, agora meu salário também vai para lá.

A manhã na escola passa de forma pacífica, entrego alguns trabalhos e ajudo na orientação de alguns novos alunos e quando estou livre caminho até o curso que não é longe, eu sempre gostei de crianças e a possibilidade de trabalhar com elas sempre me encantou e depois de uma visita que minha escola fez a um abrigo eu tive ainda mais certeza de que era em algo assim que eu queria me envolver e trabalhar, eu trabalhava num bar a noite, nada muito grandioso, mas as gorjetas eram boas, meus pais não sabiam disso, mas eles estavam sempre envolvidos demais nas próprias coisas para prestar atenção no meu sumiço, as 22h eu termino o meu turno e pego um ônibus para voltar para casa, estou exausta, tomo um banho, arrumo minhas coisas para o dia seguinte e faço um sanduíche, quando finalmente deito na cama não demoro muito a dormir, e sonho com La Push, a praia que eu tanto gostava, a floresta, o cheiro de terra molhada pela chuva, minha avó fazendo alguma receita na cozinha aconchegante com chão de tacos escuros, meu antigo quarto e Sam Uley aparece, tão bonito como eu me lembrava, sorrindo para mim, sua mão segurando forte a minha e trazendo meu corpo para perto e me apertando contra o peito forte e quente, acordo de repente, meus olhos piscam tentando se adaptar a escuridão do quarto, um aperto no meu peito faz ele doer de um jeito estranho, quando passo a mão pelo meu rosto ele está molhado pelas minhas lágrimas, um soluço fraco escapole pela minha boca e um sentimento que não pode ser outro além de uma saudade esmagadora me atinge, eu tinha sempre pensado em Sam nesses anos longe, ele foi um bom amigo e acho que posso dizer que foi o meu primeiro amor platônico, mas eu nunca tinha experimentado essa sensação, também não era a primeira vez que sonhava com ele, mas dessa vez foi diferente, ele parecia mais velho e eu também, confusa demais para raciocinar qualquer coisa coerente volto a me deitar, Sam Uley estava a quilômetros de distância e com certeza já havia esquecido de mim, não deixo que o incômodo dessa constatação me tire o sono, fecho os olhos com força e algum tempo depois de muito rolar na cama finalmente consigo dormir, sonhando outra vez com o dono dos pares de olhos negros mais lindos que já vi. 

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