19| Não foi sua culpa

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O som rítmico das ondas quebrando contra os penhascos de La Push era como um lamento distante. Maximus Leclair avançava pelo terreno irregular, os olhos atentos às marcas deixadas no chão.

Pegadas lupinas davam lugar a pegadas humanas, um rastro que parecia conduzi-lo para algo que ele temia encontrar. O ar estava pesado, carregado com uma mistura de sal e algo mais sombrio: o cheiro metálico de magia e sofrimento. Lilith.

Então, ele ouviu. Um som baixo, quase sufocado: um choro. Max parou, os músculos tensos. Ele seguiu o som com passos firmes, ignorando os galhos que arranhavam sua pele ou os rochedos traiçoeiros sob seus pés.

Quando finalmente a viu, seu coração afundou. Leah Clearwater estava ajoelhada perto da borda do penhasco, lutando para puxar uma corrente pesada da água. Max prendeu a respiração ao reconhecer o corpo pálido e imóvel que ela arrastava: Lilith. Sua irmã parecia um fantasma, os pulsos marcados por queimaduras profundas, a pele fria e sem vida.

_ Leah… - Max chamou, hesitante, sua voz um sussurro de surpresa e alívio misturados. 

Leah girou o corpo rapidamente, os olhos brilhando de lágrimas que ela se recusava a deixar cair. O peso da corrente que segurava era visível, mas o peso em sua expressão era ainda maior. 

_ Eu... Eu fiz o que pude. - A voz dela saiu trêmula, carregada de culpa e exaustão. 

Max correu até elas, ajoelhando-se ao lado de Lilith. Ele estendeu a mão para tocar a corrente, mas recuou imediatamente quando um chiado agudo e uma dor ardente atravessaram sua pele. 

_ Prata. - Ele murmurou, sentindo a raiva subir como um fogo incontrolável. Seus olhos vermelhos brilharam intensamente quando ele se virou para Leah. - Como conseguiram isso? 

Leah desviou o olhar, os ombros tensos como se fossem carregar o peso do mundo. 

_ Elena. - Ela cuspiu o nome como um veneno. - Disse que era necessário para contê-la. Disse que... que era o único jeito de protegermos nossa matilha. 

Max apertou os punhos, o poder mágico irradiando dele em ondas visíveis. A visão de sua irmã naquela condição e a explicação de Leah só alimentavam sua raiva, mas ele sabia que perder o controle ali não ajudaria ninguém. Afinal,Leah era uma vítima.

Ele respirou fundo, recitando um feitiço em voz baixa. Palavras antigas ecoaram no ar, envolvendo Lilith em um brilho cálido e reconfortante. A corrente começou a se desintegrar, e quando finalmente desapareceu, Lilith soltou um gemido fraco, abrindo os olhos devagar. 

_ Max... - Ela murmurou, a voz trêmula e cheia de desespero. - Me tira daqui... Por favor... 

Max segurou-a contra o peito, os braços firmes ao redor dela, enquanto murmurava palavras tranquilizadoras. Ele olhou para Leah, que agora estava sentada na beira do penhasco, os olhos fixos no horizonte como se tentasse fugir da realidade. 

_ Leah. - Ele a chamou, a voz carregada de algo mais suave desta vez. 

_ Vai embora, bruxo. - Ela respondeu, irritada, mas havia uma fragilidade em sua voz que não passou despercebida. 

Max ajustou Lilith em seus braços e caminhou até ela, abaixando-se ao seu lado. 

_ Não foi culpa sua. - Ele disse, tentando encontrar os olhos dela. 

Leah bufou, balançando a cabeça. 

_ Não tenta me consolar, Max. - Ela disse, com um sorriso amargo. - Você não entende o que é falhar com sua própria família. 

_ Acha mesmo que não entendo? - Ele rebateu, os olhos fixos nela. - Olha pra minha irmã. Isso aconteceu porque eu não cheguei a tempo. Eu falhei. Mas ficar se martirizando não vai trazer ninguém de volta, Leah. 

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