Prazer, Chico Moedas

100 12 1
                                    

- Ela me conhece.

Nesse momento, Ana Gabriela - que notou que Veiga demorava a retornar - olhou para trás, à sua procura. Ela viu as duas mãos do, agora, loiro segurarem os copos com tanta força que seus dedos ficaram esbranquiçados. Então, levantou-se, chamando-o. Contudo, ele parecia não ouvir. Ele tinha um semblante chocado e seus olhos estavam cheios de lágrimas, prontas para escorrer. Ela não sabia o que estava acontecendo e se preocupou.

- Você está bem? - ela tirou os copos de suas mãos e os colocou sobre o balcão, junto ao seu celular. Ela ficou o fitando por alguns segundos, mas ele nada disse. As lágrimas apenas escorreram por suas bochechas - O que está acontecendo, Francisco? - questionou preocupada.

- Você... - ele finalmente falou, erguendo seus olhos para os dela - Você veio para me dizer que tá tudo acabado, né? Que você vai se afastar de mim.

Ela ficou calada e engoliu em seco. Este era o motivo pelo qual ela veio. Ela nada disse, então ele assentiu e fungou, passando a mão agressivamente por seu rosto, antes de se direcionar à porta e destrancá-la.

- Você não precisa dizer mais nada. Não precisa nem se explicar. Eu já sei. - ele suspirou e a fitou novamente - Eu já sei os teus motivos.

Ele abriu a porta, como se esperasse ela passar e ir embora.

- Francisco, eu-

- Chico. - corrigiu, novamente secando as lágrimas agressivamente - Você pode me chamar de Chico. Pode até chamar de Chico Moedas se quiser também.

Ele tinha um tom irritado em sua voz. Porém, aquela não era raiva, mas ressentimento e tristeza. Era sempre a mesma história. Sempre acabava assim.

- O quê que tá acontecendo? - ela estava visivelmente confusa.

- Você não precisa mais fingir que não me conhece pra me agradar ou... Sei lá o que você pensou. - ele apontou para a porta ainda aberta - Só vai embora, Ana Gabriela. Tá tudo certo. Não vou mais te passar mensagem.

Ela suspirou pesadamente e foi até a porta. Ela até tentaria conversar, mas sentiu que ele estava irritado e ela também estava de cabeça quente. Aquela não seria a melhor hora para nada. Com seu celular e sua chave em mãos, ela apenas passou por ele, dando uma pausa e encarando seu rosto. Ele estava olhando para o outro lado, evitando-a. Então, ela apenas suspirou pesadamente e saiu, pegando o elevador e o caminho para sua casa.

Ele fechou a porta e se direcionou ao seu quarto, pegando o celular, deletando o número dela e desinstalando o Tinder, que ainda continuava lá sem uso.

- Eu sabia que isso ia acabar assim. Eu tinha certeza! - ele acabou levantando e pegando um cigarro, direcionando-se à varanda. Lá, acendeu-o e ficou fitando a rua pouco movimentada. Ele conseguiu ver Ana entrar em um carro, que tinha o sinal do Uber no vidro, e ele se direcionar à esquina, levando-a embora.

Veiga fechou os olhos com força e soltou toda a fumaça de seus pulmões, sentindo as lágrimas também escorrerem por seu rosto. Quando a poeira iria baixar sobre aquela história? Quando ele ia conseguir encontrar alguém que quisesse olhar para o futuro e não para o passado?

- Não, moço! Pera! - exclamou Ana, avançando sobre o banco do motorista, um pouco afoita - Me deixa aqui mesmo. Encosta!

- Tá tudo bem, moça?

- Tá sim. Eu pago a corrida! Não se preocupa! Mas eu preciso voltar! - exclamou ela, vendo o motorista encostar. Ela ajustou as coisas no aplicativo, pagando a corrida e ele a finalizou. Ela mostrou o comprovante de pagamento a ele, antes de agradecer e sair do carro correndo.

Fingir sem FugirOnde histórias criam vida. Descubra agora