Capítulo XXVIII

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Os eventos da noite anterior ainda estavam nítidos em minha mente enquanto eu observava a neve cair lá fora. Eu estava sentada em um dos sofás em frente a uma janela. A febre tinha baixado, mas ainda permanecia.

Dorian ainda estava em seu quarto e o senhor Baylor estava parado na varanda olhando para o nada. Não conseguia sequer imaginar seu esforço com um zumbido contínuo em sua mente.

Vez ou outra ele se movia, andava de lá para cá e voltava a olhar para nada novamente. Parecia perdido, ou bem pertubado, com seus próprios pensamentos.

Levantei devagar percebendo que um pouco de movimento estava fazendo bem para meu pé. Caminhei até a porta e me juntei ao senhor Baylor.

– Bom dia, senhorita Hope. – Ele me cumprimentou com gentileza.

– Bom dia, senhor Baylor.

– Vince, por favor. – Ele sorriu. – Dorian ainda não levantou?

– Não.

Vince se moveu como se estivesse incomodado.

– A senhorita está melhor?

– Sim, ainda com febre, mas não é nada preocupante.

– Difícil é convencer Dorian sobre isso. Sabe, senhorita Hope, é a primeira vez que o vejo tão apreensivo com algo desde que voltamos da guerra.

– Sinto muito, não é minha intenção deixá-lo inquieto. Dorian é bastante teimoso e cabeça dura. É difícil convencê-lo de algo.

– Acredito que esse seja um traço que a guerra não conseguiu apagar.

– Certamente. – Murmurei. – Ele não era o mais gentil dos homens e lhe garanto que não havia um ser mais arrogante do que ele em toda Seasons City.

Vince sorriu.

– E agora? O que pensa ou sabe de Dorian?

O encarei pensando em sua pergunta.

– Seu amigo é obstinado e leal. – Disse devagar. – Não sou ingênua, sei que ele nunca iria me dirigir a palavra tantos meses antes. Mas agora sei que não era apenas arrogância, ele estava tão obcecado por algo que ignorava todo o resto. Sei também que é um homem honrado, protetor e que ama sua família. – Suspirei com minhas próprias palavras, além de tudo pensava nas pequenas coisas, como mandar investigar Jefford porque era importante para mim. – É um bom homem.

Vince assentiu, pensei que falaria algo, mas seu olhar se afastou para longe nos deixando em longos minutos de silêncio. Ainda nevava, mas o sol aparecia.

– Incrível como a falta de dinheiro é a causa de tantas separações, não acha, senhorita Hope? – Vince perguntou ainda sem me olhar. – Antes da guerra a senhorita não estaria noiva dele e não seríamos amigos porque ele, ainda que tarde demais, foi uma criança rica e nós sobrevivemos. Acredito que a senhorita saiba do que estou falando.

Eu sabia.

Mesmo em uma casa acolhedora, havia um limite bem definido que colocava minha mãe e eu de um lado e nossos patrões de outro. Eu vi a mesma coisa na casa de meu pai.

– Imagine que o filho do ferreiro, que estava seguindo os passos do pai e trabalhando na ferrovia, se apaixona por alguém. Ela é uma linda mulher, filha de um rico comerciante que, por alguma razão, ia à estação de trem só para me ver. Mas o que eu poderia lhe oferecer? Uma casa que dividia com meus pais e irmãos? Não poderia lhe dar o tipo de vida que ela está acostumada, mas o amor é estranho, ele quer quebrar barreiras e enfrentar o mundo. Eu estava disposto a tudo para me casar com ela, fui a um baile na cidade, entrei escondido com roupas emprestadas. Queria encontrá-la e dizer que poderíamos fugir.

Já poderia até imaginar como aquilo tinha acabado.

– Já havia um anel de noivado em seu dedo. – Vince finalmente se virou para mim, havia pesar em seu rosto. – Não posso me casar com um quase pedinte! Achou mesmo que eu me casaria com você? Ela usou essas palavras. A pior parte foi ter testemunhas, suas amigas com risadinhas e eu me senti tão humilhado e ridículo. Não vou mentir, não via mais sentido em minha vida, então aceitei de bom grado partir para a guerra. Um jovem sem a menor ideia dos horrores que viriam a seguir. Não acho que tenha valido a pena, mas pelo menos agora me chamam de capitão.

– Ela deve estar bem arrependida.

– Acredito que não, ela está ocupada vivendo seu luto. Ficou viúva. – Ele fez uma careta. – Não que eu me alegre por isso, ao contrário.

– O senhor a viu depois que voltou?

– Não. E espero que continuemos assim. – Vince deu um passo em minha direção. – Minha intenção lhe contando isso, senhorita Hope, é que entenda que eu sei muito bem o que é não ser correspondido. Dorian não é um homem perfeito, mas ele a ama, sei disso. Ainda assim, a senhorita resiste ao noivado. Não a julgo, mas se o despreza, por favor, seja sincera com meu amigo.

Suas palavras me fizeram ficar em silêncio. Eu já tinha sido bem sincera com Dorian lhe dizendo que não podia me casar com ele.

Mas o fato era que não poder era diferente de não querer.

Agradeci a Deus quando nossa conversa foi interrompida pela chegada do senhor Hunt. Vince o levou para dentro e eu o acompanhei em silêncio, mas fui logo para meu quarto.

Mesmo tentando me concentrar em outra coisa, ao som do piano, minha mente só conseguia pensar em Dorian e em como eu deveria ser sincera com ele.

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