A vida de Matheus é um tanto complicada. Ao sofrer bullying na escola por seus problemas mentais, ele acha conforto em seu transtorno alimentar e tudo que o envolve. Porém, ao conhecer Rafaela, as coisas podem mudar; afinal, a esperança é a última...
O fatídico dia havia chegado- o dia em que eu teria que voltar para a escola. Tive sucessivos pesadelos sobre isso na noite anterior, até o despertador tocar, interrompendo-os. A única coisa agradável no alarme era a música que ele tocava- "Take me Out", da banda Franz Ferdinand.
Levantei-me da cama. Eram seis horas; meu irmão chegaria para me levar às seis e meia. Eu só precisava de tomar banho, vestir o uniforme e escovar os dentes. Devia ter acordado mais tarde. Como tinha tempo livre, resolvi olhar minhas mensagens.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Larguei o celular e fui tomar meu banho. Antes de entrar no chuveiro, me olhei no espelho; então tirei uma foto. É claro que ele me pediria uma, para "acompanhar meu progresso". Nós dois sabíamos que não era esse o motivo de Gabriel pedir fotos minhas, mas eu não ligava, desde que eu conseguisse o que queria... A ducha fria me despertou. Primeiro dia de aula, lá vamos nós.
-
"Bom dia, Matheus! E aí, tá preparado pra aula?" Meu irmão me perguntou, animado.
"Não muito. Esse é meu último ano de aula, sabe? É assustador." Respondi sinceramente.
"Vai dar tudo certo, relaxa! Lembre-se de focar nos estudos e ignorar os idiotas que te importunam, certo?" Ele me aconselhou. Concordei acenando a cabeça.
Já estávamos perto da escola- sabia disso pelo trânsito já agitado que ficava nas proximidades do lugar. O dia estava ensolarado, quente, o que era bom, pois tinha pouca tolerância ao frio. Eu queria estar em uma viagem de carro que durasse oito horas; eu queria que aquele momento durasse para sempre. Mas não durou, e eventualmente chegamos.
"Boa aula, Matheus!" Ian se despediu de mim. Suspirei.
"Bom trabalho, Ian." Respondi, saindo do carro.
Por um momento, hesitei. Observei a edificação da minha escola, fria e imponente. Os alunos já estavam entrando, como formigas em um formigueiro. Era hora de se misturar com a multidão.
Não havia nada de diferente no interior do colégio, exceto pelas fotos dos aprovados do ano anterior que haviam sido trocadas. Iríamos ficar na sala 2, no térreo, o que significava que não precisava que não precisaria mais de subir e descer dois lances de escada todos os dias. Antes de entrar na sala, ouvi a familiar voz de Tielly e seu grupinho. Eu teria que encarar seus rostos todos os dias, durante um ano, começando por hoje.
Peguei o lugar dos fundos, na fila do meio. Dava pra ver todo o quadro e os professores não ficavam enchendo o saco. Assim que sentei na carteira, voltei a minha atenção para Tielly. Ela havia feito tranças afro no cabelo, o que ficou bonito. Uma pena que não podia dizer o mesmo para o resto de sua aparência. Não entendia como ela podia ter tantos amigos sendo tão desprovida de beleza...
"Oi, Clara!" Tielly me cumprimentou. Ela notou minha existência. Durante o ano anterior inteiro, ela e o seu grupo tinham fingido que eu havia morrido. Não foi muito divertido, me fez desejar ter morrido de verdade. Agora seus olhares perfuravam minha pele.
