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Escritório de advogacia M&R associados.

- Bom dia senhora Freire. - recepcionista cumprimentou a advogada que acabava de chegar no escritório.

- Bom dia. Por gentileza, pode me dizer se tenho algum cliente agora pela manhã Sônia? Eu perdi a minha agenda.

- Um instante...

Os óculos escuros escondiam as olheiras que nem o corretivo foram capazes de disfarçar. A maquiagem era simples, mas geralmente cobria as imperfeições.

- Tem agenda com o Matheus. Ele pediu que assim que a senhora chegasse fosse a sala dele.

- Obrigada Sônia.

Esgotada de uma noite mal dormida, Juliette se encaminhou a sala de Matheus seu chefe, um renomado professor universitário, juiz de direito e exemplar pai de família.

...

No escritório de Matheus.

- Bom dia doutor Matheus. - ela disse retirando os óculos escuros e Matheus lhe deu um "bom dia" sonoro. - O senhor quer conversar comigo?

- Sente-se por favor.

Matheus falou de toda a trajetória de Juliette no escritório. Já se iam quatro anos e da competência dela, além de outros por menores.

- Nesse momento tenho uma missão importante para você.

- Uma missão?

- Sim. Cuidar da gerência do escritório. Tenho que ir a Europa com meu filho, o Rodolffo, ele está doente e o médico acha que fora do Brasil há o melhor tratamento.

- Nossa... Eu não conheço o seu filho, mas sinto muito.

- Ele está com câncer Juliette. O primeiro foco foi no testículo, agora houve metástase óssea e linfática. Gostaria de saber se seria capaz de fazer isso por nós?

- Posso sim, mas confesso que tenho receio de não dá conta.

- Seu salário será aumentado. Lhe darei mais benefícios e todo suporte te fornecerei online. Vai dá certo, mas a viagem só ocorrerá daqui a três semanas. Ainda temos tempo.

- Que bom. Vai dá tudo certo senhor. O importante é que seu filho fique bem.

- E que o escritório também fique em boas mãos. O quê se passa Juliette? Parece triste.

- Hoje é aniversário de morte do meu marido. A vida é tão difícil sem ele.

- Mas você é uma mulher forte. Independente.

- Não totalmente. Eu o amava e nós dois juntos fizemos muitos planos, é como se nada mais fizesse sentido. Desculpa o desabafo.

- Não é fácil, mas você irá superar. Ainda é jovem, poderá casar novamente.

- Não tenho esse plano, mas obrigada por me ouvir.

- Amanhã pode chegar às 7 horas? Temos muito o quê vê até eu me ausentar. Se hoje não tiver atendimentos, pode tirar o dia de folga, as vezes precisamos disso quando o dia é difícil.

- Obrigada doutor Matheus. Até amanhã.

Juliette aceitou a folga sem fazer cerimônia. Saindo dali pegou seu carro e foi para uma barraca na beira mar onde ela e o marido costumavam sempre ir.

Ali ela teve inúmeros pensamentos e a dona do estabelecimento sentou-se ao seu lado.

- Por que a vida é injusta?

- A senhora acha isso?

- Acho. Eu não dou conta de tudo sozinha. Estou exausta. Ganho 8 mil reais e não posso ter um lazer ou um dia só para mim. São três expedientes e nem ao menos posso me dá ao luxo de ir num salão de bairro. É a prestação do apartamento, do carro, é luz, é água, internet, gás, condomínio, alimentação e se não fosse o meu outro trabalho, literalmente passaria fome.

- Talvez a senhora necessite mudar o estilo de vida. Trocar o apartamento,o carro e aceitar que 8 mil reais no Rio de Janeiro não é muito dinheiro para o seu padrão de vida.

- Talvez...

Juliette ainda falou de outras vivências e só se voltou ao celular quando chegou uma notificação. Era do site que "Helena" estava inscrita.

- Eu quero te ver hoje de novo. É possível Helena? - o misterioso homem da noite anterior voltava a entrar em contato. - Só queria que fosse mais cedo. As 21 horas é possível?

Geralmente nas segundas raramente ela tinha encontros, então aceitou sem pensar muito.

- Suíte N°150 no mesmo motel de ontem. Eu te espero. - ela respondeu prontamente.

Deu mais dois goles na sua água de coco e pagou sua conta, seguindo para o seu apartamento.

...




Suíte N°150Onde histórias criam vida. Descubra agora