A Revelação

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Raven

O som abafado da música preenchia o espaço da casa de Lila, onde a festa estava no auge.
A luz baixa e as risadas ecoando criavam um cenário caótico e, ao mesmo tempo, intoxicante.
Eu estava encostada na bancada da cozinha, uma taça de ponche vermelho nas mãos, tentando ignorar a presença constante de Damian, que parecia estar em toda parte.

Desde que entrei na festa, eu sentia o olhar dele queimando em minha direção. Não importava onde estivesse, podia sentir aquela presença intensa, a energia que ele trazia consigo.

- Você vai ficar aqui a noite toda fingindo que não o vê? - Lila perguntou, aproximando-se com um sorriso malicioso.

- Eu não sei do que você está falando, - respondi, fingindo desinteresse enquanto tomava um gole da bebida.

- Ah, sabe sim - provocou Lila. - Damian está te devorando com os olhos desde o momento em que você chegou. Se isso não é uma oportunidade, eu não sei o que é.

Revirei os olhos, mas por dentro, uma inquietação crescia. Eu sabia que teria que confrontá-lo eventualmente, e uma parte minha queria isso.

Porra.

- Eu já volto - disse, deixando a taça de lado e me afastando antes que Lila pudesse fazer mais comentários.

Caminhei pelos corredores da casa, meus passos ecoando levemente no chão de madeira. Quando finalmente encontrei um espaço mais silencioso - o escritório do pai de Lila, vazio e parcialmente iluminado pela luz da lua entrando pela janela -, senti um alívio momentâneo.

Mas não estava sozinha por muito tempo.

- Você está fugindo de mim? - a voz baixa e controlada de Damian soou atrás de mim, fazendo com que eu me virasse rapidamente.

Ele estava parado na porta, as mãos nos bolsos e aquele olhar penetrante fixo em mim.

- Fugindo? Por que eu faria isso? - respondi, cruzando os braços em uma tentativa de parecer indiferente.

Damian entrou no escritório, fechando a porta atrás de si. O som do trinco ecoou no silêncio.

- Porque você sabe que precisa - ele disse, aproximando-se lentamente. - Mas não consegue.

Eu dei um passo para trás, sentindo as costas tocarem a borda da mesa.
- O que você quer, Damian?

- Quero saber por que você também está jogando - ele disse, parando a poucos passos de mim.

Arquei uma sobrancelha, mantendo o olhar fixo no dele.
- Eu não estou jogando.

Ele riu, um som baixo e carregado de ironia. - Ah, Raven. Desde o dia em que deixou aquele bilhete no meu armário, você tem provocado, testado, me desafiado. Não finja que é algo unilateral.

Eu abri a boca para responder, mas ele continuou, dando mais um passo à frente.

- Você não é tão inocente quanto gosta de fingir - ele disse, inclinando-se ligeiramente. - E eu amo isso.

Senti uma onda de calor subir por meu corpo, mas me recusava a ceder.
- Você tem muita certeza de si mesmo. E se eu só quisesse te expor? Mostrar para todo mundo o quão perturbador você é?

Damian sorriu, mas havia algo sombrio naquele gesto.
- Então por que não fez isso ainda?

Fiquei em silêncio por um momento, meu coração batendo forte. Ele me desafiava de uma maneira que ninguém mais fazia, e eu odiava admitir o quanto isso me atraía ainda mais.

- Talvez eu esteja esperando o momento certo - finalmente respondi, tentando recuperar o controle.

Damian inclinou a cabeça, estudando-me com atenção.
- Ou talvez você tenha percebido que somos mais parecidos do que quer admitir.

Ri, mas havia nervosismo em minha voz. -Parecidos? Nem de longe. Você é obcecado, Damian. Eu só estava curiosa.

- Curiosa o suficiente para me seguir - ele rebateu. - Curiosa o suficiente para invadir meu espaço e vasculhar minhas coisas. Isso não é só curiosidade, Raven. Isso é algo mais.

Eu senti o rosto esquentar. Ele estava certo, mas eu não queria admitir.

- Você não sabe nada sobre mim - disse, tentando soar firme.

- Não? - Damian deu outro passo, fechando completamente a distância entre eles. Ele estava tão perto agora que eu podia sentir o calor de sua respiração.

- Eu sei mais do que você imagina - ele sussurrou, sua voz suave como um desafio.

Eu o encarou, meu coração batendo tão rápido que parecia ecoar no silêncio do quarto.

- Então, me diga - provoquei, levantando o queixo. - O que você sabe sobre mim?

Damian sorriu novamente, mas dessa vez havia algo mais suave naquele gesto. Ele alcançou o bolso interno da jaqueta e tirou um pequeno pedaço de papel.

- Você quer saber o que sei? - ele perguntou, entregando o papel pra mim.

Peguei, hesitante antes de desdobrá-lo. Quando finalmente li o que estava escrito, senti o ar sair de meus pulmões.

Era uma lista. Não de coisas aleatórias, mas de momentos específicos, pequenos detalhes que só alguém que me observava atentamente teria notado.

"1. Quando você olha para o céu no meio de uma conversa e suspira, como se estivesse em outro lugar.
2. O jeito que você morde o lábio inferior quando está nervosa.
3. Como seu sorriso muda quando você está realmente feliz - mais aberto, mais sincero.
4. Sua risada quando acha algo genuinamente engraçado, mas tenta segurar.
5. O modo como você se fecha quando acha que ninguém está olhando."

Eu li cada linha lentamente, sentindo-me simultaneamente exposta e compreendida.

- Como você... - parei, incapaz de terminar a frase.

- Porque eu presto atenção - Damian disse, seus olhos fixos nos meus. - Mais do que qualquer outra pessoa.

Senti um nó se formar em minha garganta. Por mais perturbador que fosse, havia algo de profundamente verdadeiro em suas palavras. Algo que me atraía, mesmo que eu não quisesse admitir.

- Isso não é normal, Damian - disse, tentando manter o controle.

- E quem quer ser normal? - ele rebateu. - Você não. Eu não. Somos melhores do que isso.

Balancei a cabeça, mas não me afastou.

- Você acha que isso nos torna especiais?

- Eu acho que isso nos torna reais - ele respondeu.

Por um momento, o silêncio caiu entre nós. Eu segurava o papel com força, sentindo a tensão no ar. Damian não disse mais nada, mas o olhar dele falava por si.

Finalmente, eu dei um passo para o lado, desviando dele e indo em direção à porta.

- Isso não acabou - disse antes de sair.

- Eu sei - Damian respondeu, um sorriso discreto surgindo em seus lábios enquanto me observava ir embora.

E, no fundo, sabia que ele estava certo. Isso estava apenas começando.





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