Kyra
༺ ❀ ༻Talvez os acontecimentos de hoje mais cedo tenham me deixado um pouco aérea, e com menas vontade de voltar para casa, na verdade minha vontade era ir até o dormitório, para o quarto que dividia com ela, só para poder ficar perto mais uma vez. Por isso estava remanchando enquanto ia em direção ao portão do colégio, porque sabia que a partir do momento que entrasse naquele carro seria o mesmo que ir para uma prisão.
O vento suave balançava as folhas das árvores ao longo do caminho, criando um som sussurrante que contrastava com o burburinho dos estudantes ao redor. Os corredores, por incrível que pareça, ainda estavam consideravelmente cheios de alunos conversando animadamente, alguns rindo, (um completo contraste do estado que estou), outros se despedindo.
O som dos passos ecoava pelo chão de concreto, se misturando com o barulho distante dos carros na rua próxima. Tentei de certa forma prender minha atenção nesses detalhes: as paredes do colégio, cobertas de grafites coloridos e cartazes de eventos escolares, que eu ainda não tive cabeça para olhar…
Posso dizer que me encontrar com a Duarte tenha realmente mexido comigo, falar que só mexeu era quase um eufemismo. Depois de semanas sem ter qualquer contato com ela, ter a sensação de senti-la perto de mim, mesmo por poucos minutos (nas circunstâncias, que não vem ao acaso agora) e, finalmente poder admirar de perto aqueles olhos âmbar, e ouvir a voz doce que tanto tenho saudades.
Saber que ela continua usando a nossa aliança era como se tivesse a grande prova, que apesar do que fiz, do que falei, ela ainda era capaz de gostar de mim, com certeza isso acalentava meu coração, porém ao mesmo tempo a dor estava ali, como se me queimasse por dentro. Doía desejar mais do que tudo estar perto de alguém, e não poder.
Quando estava perto dela tudo pareceu ter voltado ao normal, me permitir por alguns minutos esquecer de tudo, só me foquei nela, em seu cheiro, no brilho dos seus olhos, na sua boca pequena e rosada. Estar ali parecia o suficiente no momento, mas quando a realidade me alcançou foi como uma queda livre, sem paraquedas. Desesperador.
Tenho a impressão que me manter longe dela, está se tornando difícil demais, para que eu consiga…
A última conversa que tive com meu pai, vem me assombrando, se ele realmente está me grampeando, então ele sabe o que fiz ontem a noite…
O que mais ele seria capaz de fazer?
Balanço a cabeça em negação, tentando afastar a preocupação que está me martelando, mas era impossível. Olhei para meu lado, vendo como Beatriz caminhava atenta no que acontecia ao nosso redor, e uma coisa me veio à mente, eu estou a colocando em risco também?
Enquanto nos aproximávamos do portão, avistei um dos carros da minha família estacionado do outro lado da rua. Onde estava o capacho que Jorge contratou, porque obviamente ele está lá, encostado no carro igual uma estátua. O veículo, um Porsche Panamera Turbo S da cor preta, parecia deslocado em meio à agitação juvenil do colégio.— Bem que você podia dormir lá em casa – murmurou baixinho enquanto saímos pelos os portões do colégio
Dou um pequeno sorriso com a oferta, mas a grande verdade era que gostaria de desabar, assim que chegasse no meu quarto e para isso queria ficar sozinha. Queria tentar organizar meus pensamentos, ou melhor, não pensar em nada. Estava cansada disso tudo.
— Não sei Bia, talvez seja melhor não
— Mas porque? Você sempre dormiu lá – ela para de andar, segurando meu braço me fazendo parar também — E podemos usar uma desculpa de meus pais estar de plantão – dá de ombros — É bem capaz deles terem um mesmo hoje. Por favor limãozinho, a gente quase não está se vendo
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(Nem) Todos os Clichês São Iguais
RomansaAs vezes precisamos olhar para dentro de nós, para descobrir quem realmente somos, e isso nem sempre é uma missão fácil, dúvidas, questionamentos, inseguranças, medos, tudo isso fazem parte do processo. Mais a jornada se torna mais fácil quando tem...