Desconfiado

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Depois de um plantão de 48 horas, só falando com a Mia pelo Whats, eu já não aguentava mais de vontade de vê-la. Cada mensagem que a gente trocava só aumentava minha saudade, como se faltasse algo, sabe? Não era só o cansaço do trabalho que pesava, mas essa vontade absurda de estar com ela, ouvir sua voz de pertinho, sentir sua energia.Por mais que nossas conversas fossem cheias de carinho, não dava conta de segurar a ansiedade. Tudo o que eu queria era que o tempo passasse logo pra finalmente estar frente a frente com ela.

Logo cedo, mal o sol tinha nascido, fui buscar a Mia pra gente passar o final de semana juntos. O cansaço já não importava mais, só a ideia de ter ela ao meu lado pelos próximos dias.o que por algumas horas.

Quando bati na porta da casa, ela foi rapidamente aberta, revelando um sorriso suave e acolhedor em seu rosto. Com um olhar terno e um pequeno sorriso de canto, ela me chamou:

- Denguinho!

A voz dela era suave e cheia de afeto, carregada de um tom familiar e caloroso. Seu gesto, quase instantâneo, parecia preencher o ambiente com uma sensação de conforto. A luz suave da sala iluminava seus traços, e eu percebia como o momento parecia suspenso, como se o tempo tivesse desacelerado para me permitir absorver toda a sua presença.

Entrei na casa e, sem hesitar, a envolvi em um abraço apertado, repleto de saudade. O abraço era como um retorno a algo que sempre me foi tão familiar, quase como se o tempo não tivesse passado. Enquanto a envolvia, um beijo suave na testa dela escapou de meus lábios, como sempre fazia, um gesto de carinho que carregava em si a memória de tantos outros momentos. Aquele beijo era uma forma silenciosa de expressar o quanto a sua presença significava para mim, como se, por um instante, tudo o que havia de turbulento no mundo se acalmava.

Na cozinha, o som de risadas fluía suavemente pelo ambiente, vindo de sua mãe e de quem parecia ser um possível acompanhante, talvez um namorado, embora eu não pudesse ter certeza. O clima descontraído e a alegria que preenchiam o espaço me faziam questionar sobre a vida dela, sobre o que havia mudado ou se algo mais estava acontecendo que eu ainda não sabia.


Com a curiosidade batendo forte, olhei para ela e, sem conter a pergunta, disse:- Quem é Mia? - perguntei, com uma ponta de curiosidade, tentando entender mais sobre o que acontecia ao redor dela e o que isso poderia significar.


Ela deu de ombros com um semblante triste, como se as palavras tivessem um peso maior do que o esperado.


- Beto é o namorado da mamãe- ela respondeu, e a maneira como falou transmitia um certo desapego, talvez um pouco de mágoa, algo que ainda não estava totalmente resolvido dentro dela.Sem mais palavras, Mia me puxou suavemente pelo braço, conduzindo-me até o quarto dela. O gesto parecia querer distanciar-nos da conversa desconfortável, como se o espaço íntimo fosse um refúgio onde ela poderia se sentir mais à vontade, longe das tensões que pairavam na sala. Ao entrar no quarto, o ambiente parecia refletir a personalidade dela, com detalhes que falavam de suas escolhas e sentimentos mais profundos, talvez algo que ela só estivesse pronta para compartilhar ali, naquele momento. Ela não tinha o brilho de sempre nos olhos, e sua energia parecia ter diminuído, como se algo essencial estivesse faltando. O sorriso que antes iluminava seu rosto agora parecia raro, quase apagado, como se ela estivesse segurando algo dentro de si, algo que não queria ou não sabia como expressar.O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi o modo como estava vestida. As roupas, que antes eram sempre justas e caíam perfeitamente sobre seu corpo, agora estavam mais comportadas, quase formais, como se ela tivesse se esforçado para esconder quem realmente era por baixo daquelas peças. Mesmo com o calor intenso que fazia, ela optou por algo mais contido, mais sóbrio, o que me surpreendeu profundamente. Nunca havia mencionado nada sobre o modo como se vestia; eu sempre gostei do jeito como ela se expressava por meio da roupa, como algo autêntico. Nunca achei que precisasse mudar. Mas, naquele momento, algo estava claramente diferente. Algo fora do lugar, e eu podia sentir isso no ar, como se houvesse um peso invisível que nos separava.

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