Célia Nunes Correa, também conhecida como Célia Xakriabá (Itacarambi,[nota 1] 10 de maio de 1989[1][2][3]), é uma professora ativista indígena do povo Xakriabá em Minas Gerais, Brasil filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).[4] A luta dela centra-se na reestruturação do sistema educacional, no apoio às mulheres[5] e à juventude[6] dentro dos Xakriabá; e na mudança das fronteiras geográficas para manter o território do seu povo.[7] Em 2022, tornou-se a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal por Minas Gerais,
com 101.078 votos.[8]FORMAÇÃO ACADÊMICA
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Célia Xakriabá fez os seus estudos de Educação Básica na Escola Indígena Estadual Xukurank, em São João das Missões, Minas Gerais[9]. Depois, ela foi parte da primeira turma de Educação Indígena da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2013[4]. Obteve um mestrado em Desenvolvimento Sustentável, Área de Concentração em Sustentabilidade Junto a Povos Tradicionais, na Universidade de Brasília (UNB), onde estudou por dois anos entre 2016 e 2018.[7] Primeira mestre de seu povo, atualmente cursa o doutorado em Antropologia na UFMG.CARREIRA POLÍTICA
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Em 2015, com apenas 25 anos de idade, Célia foi a primeira mulher indígena que entrou para formar parte da equipe do órgão central da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, permanecendo até 2017.“A minha entrada aqui foi um convite da própria secretária. Eu falei para ela que há várias pessoas com o perfil mais direcionado e com grande experiência nessa área. Porém, ela disse que o fato de ser mulher, jovem e de vir dessa militância há 13 anos foram importantes nessa escolha”[9].
Desde tal posição ela luta pelos direitos das línguas indígenas ameaçadas.
Trabalhou na Superintendência de Modalidades e Temáticas Especiais do Ensino, aportando os seus conhecimentos sobre as culturas indígenas e integrando-las no currículo de ensino[9].Em 2019, iniciou assessoria parlamentar como membra do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no mandato da deputada federal Áurea Carolina (PSOL).[10][11]
Em 2022 Xakriabá tornou-se a primeira mulher indígena a ser eleita deputada federal (PSOL) por Minas Gerais, com 101.078 votos.[8]
Célia Xakriabá acredita que o problema principal dos povos indígenas no Brasil é a demarcação territorial. Este direito estava reconhecido na Constituição brasileira de 1988, mas foi contestado pela PEC 215, que dá o poder de mudar as demarcações territoriais indígenas ao Congresso Nacional em vez dos órgãos do Estado especializados na questão indígena, como a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Assim, os territórios indígenas que não foram reconhecidos antes de 1988 agora têm muitos obstáculos para conseguir seu reconhecimento. Sem a demarcação, os territórios indígenas são invadidos, e seus recursos naturais são levados[12][4]. A relação entre o povo e a terra indígena não é apenas material, também tem uma dimensão espiritual. Por isso, Célia Xakriabá propõe um reconhecimento real dos direitos e dos territórios indígenas, e também a integração dos povos indígenas nas narrativas da história, cultura e memória do Brasil, sem preconceitos nem prejuízos[4][7].
Célia defende que as escolas dos povoados indígenas tem que oferecer uma educação baseada nos conhecimentos indígenas e nos processos pedagógicos de cada povo, que são diferentes devido aos seus contextos diferentes. Também fala da indigenização, quilombolização e camponização das escolas ocidentais, para que os alunos que não são parte dessas comunidades possam aprender dos outros povos que constituem o país. Ela acha que a escola indígena quer usar a relação entre as pessoas e o território para ensinar como ensinar e que o estado deve garantir o acesso ao ensino médio para os povos indígenas. Além disso, o calendário das escolas tem que refletir os eventos importantes da comunidade e não as datas impostas pelo calendário gregoriano, como o Carnaval, que não tem significado para os povos indígenas[13].
O papel da mulher indígena
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Em muitos artigos,[4][7] entrevistas[6] e palestras,[5] Célia menciona como as mulheres indígenas são tratadas. Ela chama a atenção para a ausência das mulheres nas posições de poder, como posições políticas, e indica que esta falta de representação pode contribuir para a violência contra este grupo[7]. Segundo a ativista, a influência das mulheres também é limitada pela maneira em que as escolas apresentam a história da colonização[4].Esta declaração revela de novo o seu desejo de mudar o sistema educacional existente.