Capítulo 3: Entre as Sombras

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O sol mal havia nascido quando Gabriela chegou à redação do jornal, ainda com o corpo cansado da noite mal dormida e a mente fervendo com as palavras de Vince. Ela tentou se concentrar no trabalho, escrever sobre outra história qualquer, algo que não a envolvesse com o temido mafioso, mas seu pensamento sempre voltava a ele, a seus olhos penetrantes e sua voz firme, cheia de promessas e ameaças disfarçadas.

O telefone de sua mesa tocou. Ela hesitou por um instante, mas, ao olhar a tela, viu o número desconhecido. Era ele.

— Gabriela, você não me respondeu ontem. — A voz de Vince estava tão calma quanto sempre, mas havia algo mais profundo por trás do tom sereno. Ele não estava apenas interessado nela como jornalista. Ele a observava, estudando-a como uma peça em um tabuleiro de xadrez. — Sei que está ocupada, mas gostaria de vê-la novamente. Temos algumas coisas a discutir.

Ela deu um suspiro exasperado, sentindo um misto de curiosidade e desconforto. Gabriela sabia que, ao aceitar mais uma conversa com Vince, estava cavando um buraco ainda mais fundo. Mas, por algum motivo inexplicável, ela sabia que não conseguiria evitar. O mistério dele a chamava como um imã.

— Onde? — ela perguntou, já preparando-se para o inevitável.

— Eu a encontro em 30 minutos. Você escolhe o lugar. Mas, que seja... discreto. — Vince deu a última palavra como uma ameaça velada, embora a suavidade de sua voz quase fizesse a ameaça parecer um convite.

Ela desligou o telefone sem hesitar, o coração batendo mais rápido, mas sem mostrar qualquer sinal de fraqueza. Gabriela sabia o que estava fazendo, ou pelo menos pensava que sabia.

Escolheu um restaurante italiano discreto, com luz baixa e decoração sofisticada, que ficava nos arredores do centro da cidade. Era um local onde ela poderia se esconder em meio às sombras, sem atrair atenção demais.

Quando chegou, o lugar estava tranquilo, quase vazio, o que fez com que ela se sentisse ainda mais desconfortável. O que ela estava esperando? Ele? Claro, mas também, a reação dela mesma diante dele. Ela já sabia que a atração entre eles era inevitável. Não estava apenas lidando com um homem perigoso, mas com um homem que sabia exatamente como seduzir sua mente e seu coração.

— Olá, Gabriela. — A voz suave e cheia de certeza a fez se virar.

Vince estava ali, de terno escuro, com uma presença imponente, mas nada agressiva. Ele era elegante e, ao mesmo tempo, parecia ser parte da própria escuridão que tomava conta daquele restaurante. Ele não precisou de palavras excessivas para que todos os olhos se voltassem para ele. Seu poder estava na maneira como se movia e, principalmente, no modo como fazia as pessoas se sentirem pequenas.

Gabriela tentou manter a compostura. Sua profissão exigia que ela fosse racional, que usasse a lógica, mas naquele momento, em frente a ele, tudo parecia desmoronar. A atração não era apenas pela sua beleza fria e arrogante, mas pela complexidade que ele representava. Vince era uma prisão de segredos, e ela não sabia até onde poderia se perder.

— Você me chamou para conversar? — ela perguntou, tentando manter a voz firme, sem mostrar qualquer vestígio de ansiedade.

Vince sentou-se à mesa, sua postura relaxada, mas com os olhos fixos nela, como se estivesse lendo sua alma.

— Sim, mas não sobre o que você pensa — respondeu ele, com um sorriso lento. — Sei o que você está tentando fazer. Acha que pode me pegar em um erro, ou em um descuido. Você é inteligente, Gabriela. Eu gosto disso.

Ela se inclinou um pouco para frente, tentando manter o controle da situação. Era difícil, mas ela sabia que não poderia demonstrar vulnerabilidade. Não com ele.

— Eu não estou aqui para jogar joguinhos, Vince. Eu estou aqui para descobrir a verdade. O que você realmente faz? Por que tanta corrupção ao seu redor? Qual é o seu verdadeiro objetivo?

Vince parecia ponderar a pergunta, seus olhos mais profundos que o mar, como se ele estivesse decidindo até onde poderia levá-la.

— A verdade? — Ele riu suavemente, quase de forma amarga. — A verdade é relativa, Gabriela. E, no meu mundo, a verdade é o que você pode controlar. O que você pode manipular para fazer as coisas acontecerem do jeito que você quer. Mas você está aqui porque não quer apenas a verdade. Você quer algo mais. Você quer saber quem eu sou, o que me motiva, o que me move. E, eu posso te dizer, você ainda não está pronta para isso.

Ela franziu a testa, sentindo um frio na espinha. Sabia que ele estava certo em parte. Não era apenas a verdade que a movia, mas o desejo de entender aquela figura enigmática, o homem por trás de todos os rumores e mitos. Ela precisava entender por que ele era o que era. E, talvez, até por que ela sentia algo mais ao estar perto dele.

— Você não pode controlar tudo, Vince. — Gabriela falou, suas palavras carregadas de uma confiança que ela não sentia por dentro. — Eu vou expor o que você faz. Nada vai me impedir.

Vince a olhou por um longo momento, a expressão inalterada, mas algo em seu olhar se suavizou. Era como se ele estivesse considerando suas palavras, pesando o que dizer a seguir.

— Eu espero que você faça isso, Gabriela. — Sua voz foi baixa, mas havia um toque de respeito nela. — Porque a verdade, seja ela qual for, sempre tem um preço. E, quem sabe, quando você descobrir a sua… você vai ver o mundo com outros olhos.

Ela deu um passo atrás, sentindo um arrepio. Era como se ele estivesse dando um aviso, mas também uma promessa de algo muito maior e mais perigoso. Algo que não poderia ser desfeito, não importa o que acontecesse.

A jornalista e o Mafioso Onde histórias criam vida. Descubra agora