Bianca Andrade
Era sábado de manhã, e eu estava em casa, mergulhada nos preparativos para o aniversário da Emily. A sala estava um caos: balões, fitas, caixas de doces e embrulhos de presente ocupavam cada canto. A energia da Emi, que corria de um lado para o outro, só tornava o ambiente mais animado e... caótico. Eu estava na cozinha, tentando organizar os últimos detalhes, mas sabia que precisava de reforços. Felizmente, Manuela, minha melhor amiga e madrinha da Emily, tinha prometido passar aqui para me ajudar. Só de pensar nisso, senti um pequeno alívio.
Manu era mais do que minha melhor amiga; ela era minha fortaleza. E hoje, mais do que nunca, eu precisava de alguém assim. Não só para dividir o trabalho com os preparativos, mas também para colocar em palavras os conflitos internos que estavam me consumindo nos últimos dias. Claro que, como sempre, Diogo já havia saído para trabalhar. E, como sempre, os compromissos dele pareciam mais importantes do que qualquer momento em família.
A campainha tocou, e Emily, com sua energia contagiante, correu até a porta, gritando com entusiasmo:
– Tia Manu! Tia Manu chegou!
Abri a porta para ela, e Manuela entrou com aquele sorriso que iluminava qualquer ambiente, segurando um embrulho colorido nas mãos.
– Oi, minha princesa! Adivinha o que a tia trouxe pra você?
– Um presente? – Emily respondeu, com os olhos brilhando de expectativa.
– Claro! – Manu disse, agachando-se para ficar na altura dela. – Mas você só pode abrir na hora da festa, hein?
Emily fez uma careta adorável, arrancando risadas de nós duas, antes de voltar correndo para brincar com suas bonecas. Manu se levantou e me encarou com aquele olhar sagaz que só ela sabia dar. Eu estava parada na porta da cozinha, observando a cena com um leve sorriso nos lábios, mas já sabia que vinha provocação.
– E aí, dona mãe? Pronta para o circo que você chama de casamento fazer mais um show no aniversário da Emi? – disse ela, com o sarcasmo habitual.
Revirei os olhos, mas sorri. Era impossível não sorrir com ela, mesmo quando suas provocações tocavam em feridas abertas.
– Você veio ajudar ou criticar? – retruquei, entrando na cozinha com ela logo atrás.
– Criticar, é claro. Alguém precisa fazer esse papel na sua vida. – respondeu, pegando uma xícara e se servindo de café.
– Não tenho dúvidas disso... – murmurei, tentando manter a leveza.
– Bianca, eu estou falando sério. – Ela se aproximou, apoiando os cotovelos na bancada e me encarando. – Você não pode continuar nesse casamento só por causa da Emi.
Suspirei fundo, sentindo o peso das palavras dela e do cansaço acumulado.
– Manu, eu sei que o Diogo não é perfeito. – minha voz saiu quase automática. – Mas ele é um bom pai, e eu preciso manter a família unida por ela.
Manu bufou, frustrada, e cruzou os braços.
– Família unida? – Ela repetiu, com uma dose de ironia. – Amiga, você está unida a um homem que só aparece para dar ordens ou fazer cena. Isso não é uma família, e você sabe disso. Emi não precisa desse exemplo, Bi. Ela precisa de uma mãe feliz, realizada. E você... você não está nem perto disso.
As palavras dela me atingiram como uma avalanche. Ela não estava errada, mas eu não queria admitir. Não agora. Não com o aniversário da Emily tão perto e tantas emoções já à flor da pele.
– Manu, por favor. Vamos focar na festa, tá bom? Eu não quero pensar nisso agora.
Manuela estreitou os olhos, claramente insatisfeita com a tentativa de desviar o assunto. Mas, para minha surpresa, ela apenas deu um pequeno sorriso e balançou a cabeça.
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Porque Eu Te Amo
Romance"Assim que se olharam, amaram-se; assim que se amaram, suspiraram; assim que suspiraram, perguntaram-se um ao outro o motivo; assim que descobriram o motivo, procuraram o remédio" William Shakespeare