A manhã estava pesada, como se cada passo que dávamos fosse marcado por uma bomba prestes a explodir. O silêncio na sala só era quebrado pelo som abafado dos passos de Roberto e Rosane descendo as escadas. Eu os esperava próxima à porta, tentando ignorar o nervosismo que se acumulava no peito. Era estranho vê-los juntos depois de tudo, mas eu sabia que essa encenação era necessária.
Rosane estava ocupada lotando Roberto de recomendações. Cada palavra dela era carregada de preocupação, mesmo que viesse acompanhada de uma rispidez típica.
— Pelo amor de Deus, Roberto, não solta nenhuma das suas pérolas na frente da mamãe. Você sabe como ela é sensível. — A voz dela era firme, mas eu podia ouvir o cansaço escondido por trás.
— Relaxa, Rose. Eu sei como agir. Não vou matar a mulher do coração — ele respondeu, com aquela tranquilidade provocadora que só ele conseguia exibir.
Quando finalmente saímos de casa, caminhamos até o carro que estava estacionado na garagem da frente. Roberto, sempre com aquele ar de cavalheiro improvável, abriu a porta do passageiro para mim, mas eu balancei a cabeça em recusa. Não era o momento para ele tentar demonstrar qualquer tipo de atenção especial.
— Melhor a Rosane ir na frente para vocês se reconectarem como casal. Vai ser mais fácil pra atuar na frente da mamãe. — Minha voz saiu mais dura do que eu pretendia, mas era a verdade. — Vocês precisam manter a fachada.
Roberto soltou uma risada baixa, mas o comentário que veio a seguir cortou o ar como uma faca.
— Sua irmã odiava conectar o meu pau na buceta dela quando éramos casados e isso não mudou.
Fiquei imóvel, o choque me atingindo como um golpe. Antes que eu pudesse reagir, Rosane deu um tapa forte no ombro dele, o som ecoando no pequeno espaço.
— Para de falar desse jeito na frente da menina, Roberto! — Ela praticamente gritou, o rosto corado de raiva.
— Você acha que transamos por mensagens? — Roberto retrucou, sua paciência claramente esgotando. Ele lançou um olhar para ela, os olhos faiscando. — Para de tratar a Marina como se fosse uma criança.
A troca de palavras era tão intensa que eu me senti pequena entre os dois, como se fosse invisível. Rosane, no entanto, não recuou. Ela endireitou os ombros, os olhos estreitados enquanto encarava Roberto.
— Pra mim ela sempre vai ser uma menina! Não tenho culpa se você trata uma garota 20 anos mais nova que você como se fosse adulta. — O tom dela era cortante, mas havia algo mais ali, uma mistura de mágoa e proteção que a tornava ainda mais incisiva.
Rosane entrou no carro sem dizer mais nada, batendo a porta com mais força do que o necessário. Roberto ficou parado por um momento, os músculos da mandíbula tensos. Ele fechou a porta do passageiro com calma exagerada, como se tentasse controlar a irritação.
Ele se virou para mim, o olhar mais suave agora, embora eu pudesse sentir a frustração ainda presente.
— Pega leve com ela — murmurei, tentando trazer algum equilíbrio à situação. — Ela é minha irmã mais velha. Obviamente, não me vê como uma mulher.
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos de forma quase automática, como se isso pudesse aliviar a tensão que carregava.
— Tá certo. Vou tentar. — Sua voz era baixa, mas eu sabia que ele ainda estava remoendo as palavras de Rosane.
Ele abriu a porta de trás e me fez sinal para entrar. Obedeci sem discutir, sentindo o peso de tudo o que não estava sendo dito. Enquanto eu me acomodava no banco, o silêncio no carro parecia quase sufocante.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Conexão Obscena
Teen FictionQuando Marina, a cunhada de Nascimento, vem passar um tempo na casa deles para se preparar para um concurso, ele a vê apenas como uma responsabilidade extra em sua já tumultuada vida. No entanto, a proximidade diária e as conversas inesperadas revel...