Capítulo 23: Vamos precisar de glitter.

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Luca Hollis

Eu deveria começar a pensar mais antes de falar as coisas. Tudo bem que normalmente eu já não falo muito, mas dessa vez eu não posso negar que deixei escapar algo que simplesmente não tenho como explicar agora. Seria a mesma coisa que olhar pra Hannah e dizer que gosto dela. Não tenho coragem de fazer isso.

—Foi só modo de dizer. —Falei, umedecendo os lábios com a língua quando ela ergueu uma das sobrancelhas, porque óbvio que minha resposta não fazia sentido nenhum. —Acho que você não entenderia se eu explicasse agora. É um pouco complicado.

—Por que você não tenta? —Hannah sugeriu, e eu senti o calor se espalhando pelo meu corpo quando ela usou um tom de voz tão doce que eu não estava acostumado a ver. O arrepio subiu pela minha pele quando Hannah se inclinou para perto de mim. Perto demais, a ponto de eu sentir sua respiração no meu queixo, o que deixou minha boca seca. —Gosto de coisas complicadas.

Apertei a mão dela involuntariamente, sentindo aquele calor do meu corpo se concentrar nas minhas bochechas, além da sensação elétrica que passou pelas minhas veias. Não consegui desviar os olhos dos dela, porque Hannah parecia estar me puxando na direção dela, como um ímã.

—Ou você pode me mandar na próxima carta. É a sua vez, a propósito. —Hannah se afastou, e eu passei a língua sobre os lábios, sem fazer ideia de como ela agia daquela forma tão natural, como se só eu estivesse sentindo meus sentimentos transbordando a ponto de eu ficar todo sem jeito.

—Vou escrever ela logo. —Prometi, porque acho que era a única coisa que eu seria capaz de falar depois dos últimos minutos. Hannah abriu um sorrisinho, com os olhos brilhando em animação. Por um segundo quase imaginei que ela tinha noção do que estava causando em mim. —Acho melhor eu voltar pro quarto. Talvez seja melhor a gente ir dormir.

Hannah não disse nada, mas assentiu com a cabeça, deslizando o polegar pela minha pele antes de soltar minha mão e me deixar levantar. Fiz isso muito lentamente, porque não tinha certeza da força nas minhas pernas, já que meu corpo inteiro parecia interessado o suficiente em não ir pra longe de Hannah.

—Boa noite, Hannah. —Falei, caminhando até a porta, vendo Hannah se deitar na cama, com Petúnia se ajeitando em seus pés.

—Boa noite, Luca. —Hannah piscou pra mim, e eu engoli em seco antes de sair do quarto.

Fechei os olhos e escorei a testa na porta do quarto dela, puxando o ar com força enquanto tentava retomar o controle do meu corpo. Estava muito tentado em voltar lá e perguntar se poderíamos conversar mais um pouco. Mas fiz o que era mais seguro pra mim mesmo, fui pro meu próprio quarto e escrevi minha carta pra Hannah.

[...]

Tinha saído pra caminhar assim que amanheceu, antes mesmo dos outros acordarem. Gostava de ver as ruas cobertas de neve e os enfeites de Natal. Zack tinha dito que a cidade ficava linda em Dezembro e ele tinha razão. A maioria das árvores estava coberta por pisca pisca, além do frio agradável do inverno, que eu particularmente gostava bastante.

Voltei pra casa de Zack quando imaginei que eles provavelmente já estavam se preparando pra tomar café. Não queria que eles ficassem preocupados ao notarem que eu sumi e nem deixá-los esperando. A primeira coisa que notei quando abri a porta, foi o chão da sala coberto com o que parecia ser um pó branco.

Um rastro pelo piso de madeira brilhoso, que seguia até a mesa do café da manhã. Ainda não havia qualquer sinal e que alguém iria tomar café ali, além de Zack e Bia estarem sentados um do lado do outro, cobertos com aquele mesmo pó branco que estava no chão. Os cabelos totalmente brancos, assim como os lábios, os cílios e parte da roupa.

Hannah estava parada na frente deles, balançando a cabeça negativamente sem parar. Nenhum deles parecia nem um pouco feliz. Na verdade, eram uma expressão perfeita de derrota. Comprimi meus lábios ao caminhar até a mesa e parar ao lado de Hannah, fazendo-os notar a minha presença.

—O que é isso? —Questionei, apontando para os dois, antes de notar que aquele rastro no chão seguia para dentro da cozinha, até a porta da dispensa.

—Farinha. —Foi Hannah quem respondeu, e eu podia jurar que ela estava se segurando para não cair na risada. —Explodiu em cima dos dois quando eles foram entrar na dispensa.

—Não pensei que eles fossem armar duas vezes no mesmo dia. —Falei, olhando dos dois para Hannah e depois pra eles de novo. Bia fechou os olhos e soltou um suspiro pesado, antes de escorar a cabeça no ombro de Zack e dar de ombros.

—Bem, não é contra as regras, então isso valeu. E não foi o Peter de novo. O Kyle, a Florence, o Caleb e a Elisa já reivindicaram o ponto da vez. —Zack afirmou, e Bia soltou um muxoxo contra o ombro dele, que fez Hannah tossir para esconder a risada,

—Tudo bem, ainda estamos com dois pontos, apesar de empatados. Podemos passar na frente deles. —Retruquei, porque eles não pareciam muito animados depois daquele péssimo começo de dia. —Temos que fazer alguma coisa nos próximos dias. Amanhã, se for o caso.

—Uau, parece que alguém pegou gosto pela coisa rápido. —Hannah sussurrou, junto com uma risada que percorreu meu corpo inteiro. Ela nem tinha chegado perto de mim, mas eu já sentia minha pele inteira arrepiada e fervendo. —Você tem alguma ideia do que a gente pode fazer?

—Não, mas... —Parei de falar, tentando pensar em alguma coisa rápido, mas nada vinha na minha cabeça.

—Eu tenho uma ideia. —Zack ergueu a mão, antes de dar de ombros quando olhamos pra ele. —Podemos fazer diferente. Em vez de armar pra uma equipe só, podemos fazer isso com duas ao mesmo tempo, o que nos dá uma chance maior de fazer pontos.

—Com as duas equipes que ainda estão com um ponto só, assim elas não passariam a gente se descobrissem. —Hannah completou pelo irmão, e eu vi Bia abrir um sorriso, antes de fazer uma careta, provavelmente por conta da farinha que estava grudada na sua boca. —Então, o que vamos fazer?

—Vamos precisar de glitter. —Zack afirmou, antes de olhar na direção de Bia e erguer uma das sobrancelhas, como se pudesse imaginar que ela sabia o que aquilo significava. —Bastante glitter.



Continua...

A última jogada do coração/ Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora