O fim!

77 12 22
                                    

Tentei ao máximo segurar as lágrimas desde que entrei pela porta da casa de Olga. Ver a alegria da família de Saulo em nos receber fez meu peito dar cambalhotas e a aquela pontinha de inveja se instalar novamente em meu âmago. Ver o quanto eles eram unidos e felizes fez as lembranças dolorosas voltarem com força.

Era como nadar contra a maré, em uma correnteza forte e violenta me puxando para o abismo das lágrimas. Foi uma força enorme que fiz para não fugir dali. Eu quase não vinha, mas Adriana insistiu que devíamos vir e dar um show entre nós, para que eles nos deixassem em paz.

Eu poderia fazer isso, eu disse a ela, assim, Helena e eu ficaríamos em paz finalmente. Mas, ao ver como essas mulheres adoraram minha filha, tecendo elogios e gargalhando das pequenas coisas que ela fazia fez um arrependimento crescer dentro de mim.

Não por ter vindo, mas por privar Helena disso. Eu queria que ela fizesse parte dessa família que pareciam ja amá-la mesmo sem saber quem ela era.

Elas eram as tias de Helena, tias alegres e mães maravilhosas, como pude ver 9 carinho com que tratavam seus filhos e eu sabia que não era ensaiado, os filhos dela eram crianças alegres e saudáveis. E eu tinha certeza que minha filha seria feliz rodeada por essas pessoas enquanto crecia.

Imaginei-nos ali fazendo parte daquela família e doeu profundamente porque eu não faria parte, Helena faria, eu não. Eu era apenas a mãe da sobrinha e neta deles, nada mais que isso.

Ver a cumplicidade entre eles fez uma dor profunda cavar meu coração. Eu passei minha infância e juventude imaginando como seria fazer parte de uma família assim. Ter pais, avós, irmãos, tios e primos.

Quantas vezes ouvi minhas colegas comentando em como odiavam ter que dividir algo com os irmãos ou como era chato ter irmãos ou pais que pegavam em seus pés, quando eu, eu daria tudo para ter aquilo que elas tinham. Passei a maior parte da minha vida tendo inveja dos outros, querendo até mesmo as partes ruins de uma família. Irmãos para brigar, pais para pegarem no meu pé, e depois nos reunirmos para comemorar algo bobo, dividir as conquistas e a tristezas.

E ver como Helena estava feliz com aquelas pessoas ao seu redor fez meu peito comprimir ao tamanho de uma ervilha. Diferente de mim Helena tinha a oportunidade de ter uma grande família ao seu redor, ela já tinha avós, tias, tio, primos e primas, e com certeza teria irmãos em breve quando Saulo casar e tiver filhos com sua esposa. Eu parecia uma idiota separando Helena daquela família, eu parecia uma criminosa.

As cenas a minha frente pareciam coisa do destino. Armação de algum deus brincalhão que talvez quisesse me dar uma oportunidade, ou me fazer ver que eu nunca possuiria aquilo.

Se alguém me contasse que depois de transar com um cara desconhecido em outro país eu me mudaria de país e iria parar bem no meio da família dele eu riria e a mandaria procurar um psiquiatra, porque seria como ganhar na loteria, uma chance em um milhão, coisa de livros clichês idiotas. E olhe só para mim, cumprindo o papel que o destino está escrevendo sobre mim.

Destino sádico idiota!

Mesmo com o coração em pedaços por afastar Helena de sua família por parte do pai, eu não tenho coragem de contar. Não suportaria ouvir minha filha contando sobre sua madrasta e em como ela era incrível, ou em como ela e Saulo eram pais perfeitos. Se eu contasse a ele, Saulo não a deixaria por nós e com razão, eu não o amo, ele não me ama, nós dois mal nos conhecemos, e o que ouve entre nós foi apenas sexo, incrível e gostoso, sexo de uma noite apenas.

Ele amava a noiva e disso eu tinha certeza já que, seis meses depois da nossa conversa na minha cozinha, ele ainda estava noivo dela. E o medo dele querer tomar Helena de mim para criá-la com outra mulher me fez mudar de ideia sobre contar. Mesmo que Helena me odiasse quando fosse mais velha e descobrisse a verdade.

Meu Pequeno Milagre Onde histórias criam vida. Descubra agora