Capítulo 1

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"É curioso como o coração pode ser tão rebelde, ignorando o que é certo e se entregando ao que não pode ter. Às vezes, me pego pensando que é o desejo que nos define, não a razão, e, se for assim, então estou perdida há muito tempo."

— Autor desconhecido

Sentia a brisa gelada enquanto observava ao redor

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Sentia a brisa gelada enquanto observava ao redor. Adorava admirar as pessoas, imaginar como eram suas vidas, o que faziam, como viviam. Eu sempre me perdia nesse transe, imersa em minha própria mente. Fui despertada de meus devaneios por Anastasia, minha única e melhor amiga. A pessoa em quem mais confiava.

— Você precisa parar de ser tão... tão... você! — ela exclamou com um sorriso travesso.

Olhei para Anastasia, franzindo o cenho, enquanto segurava a risada. Era o tipo de comentário que só ela conseguia fazer soar como um elogio e uma crítica ao mesmo tempo. Estávamos sentadas no gramado gelado da universidade, observando a neve começar a cobrir o campus. Era uma das poucas pausas entre as aulas, e meu único momento livre do dia.

— E o que exatamente eu sou? — perguntei brincando, enquanto ajeitava o cachecol ao redor do pescoço.

— Tímida demais, focada demais... — Ela diz, eu não posso negar, pois todos me diziam isso, eu passei a minha adolescência toda em casa, mal saia para para aproveitar, era da escola para casa e de casa para a escola. E no final esta eu com 19 anos beijei somente uma pessoa a minha vida toda e ainda virgem. Isso é meio humilhante.

— Você precisa aproveitar a vida, Duda! — ela completa com um brilho nos olhos.

Ela era sempre assim: cheia de energia, expansiva, como se o mundo inteiro fosse feito para girar ao redor dela. E, de alguma forma, girava. Eu ri, mas não respondi. Tinha acabado de me acostumar com Nova Iorque e ainda estava tentando me adaptar ao ritmo frenético dessa cidade.

— Quanto tempo faz que você está aqui, mesmo? Uns seis meses? — Anastasia perguntou, mordendo um pedaço do seu sanduíche enquanto me olhava com curiosidade.

— Sete, na verdade. Me mudei em fevereiro, lembra? Meu pai achou que seria melhor estudar aqui do que continuar no Brasil...

Minha voz saiu mais baixa ao mencionar isso. Não era um assunto que eu gostava de revisitar. Minha mãe ficou feliz por eu ter vindo para Nova York, mas sei que ela sente minha falta. Para ela, esta cidade sempre foi um sonho distante, quase inatingível. Já meu pai... Ele nunca foi exatamente presente. Achava que dinheiro resolvia tudo, como se presentes caros pudessem substituir o afeto ou as palavras que eu nunca ouvi: "Estou orgulhoso de você."

Minha mãe, por outro lado, sempre esteve lá, mas de uma forma que pesava. Suas cobranças eram constantes, como se cada passo errado fosse a prova de que eu nunca seria suficiente. Ela dizia que ninguém jamais me amaria, que eu sempre seria "difícil". Cresci ouvindo isso, e, por mais que eu tentasse ser perfeita, parecia nunca ser o bastante. Isso me marcou de um jeito que até hoje sinto — uma dificuldade em me conectar com os outros, como se algo em mim fosse fundamentalmente errado.

A marca do proibidoOnde histórias criam vida. Descubra agora