capitulo 7

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Kathelaine _________⭐_______________

Eu estava exausta. Cada degrau daquelas escadas parecia zombar de mim. Tudo porque uma certa pessoa decidiu, convenientemente, não mencionar que o elevador precisava de uma chave. Como eu saberia disso, se todas as vezes que desci foi com a companhia daquela insuportável? Era ridículo. Minha paciência, já desgastada, agora estava por um fio. Quem ela pensa que é para me tratar assim? Não bastava estar presa nesse lugar deprimente; agora tinha que aturar uma garota se achando engraçada às minhas custas.

Quando finalmente alcancei o refeitório, meu humor já era péssimo. Olhei para a bandeja colocada à minha frente e suspirei, derrotada. Tudo nela parecia apetitoso à primeira vista: ovos mexidos com queijo, duas fatias de pão integral tostado, um copo de suco de limão, uma laranja e um iogurte natural com granola. Meu estômago, vazio desde cedo, parecia implorar por qualquer coisa, mas, infelizmente, minha alergia não permitia tal luxo.

O pão? Massa.
As frutas cítricas? Nem pensar.
Até os ovos com queijo eram um risco.

Sobrou apenas o iogurte. Peguei a colher, enquanto empurrava o restante da bandeja oque fez um barulho enorme naquele refeitório, e chamei Kira:
— Me traz algo decente.

Ela hesitou, parecendo desconfortável. Seus olhos baixaram, quase em um pedido silencioso de desculpas.
— Eu sinto muito, mas a diretora disse que todos devem seguir o mesmo cardápio. Tentei encontrar algo diferente para você hoje, mas... não consegui.

Observei seu semblante por alguns segundos. Pelo menos ela tentou. Isso era mais do que podia dizer sobre meus próprios pais, que, provavelmente, não se deram ao trabalho de informar minha condição para essa escola.

Respirei fundo, decidida a não mostrar fraqueza. Se meus pais queriam que eu me virasse sozinha, eu faria isso.
— Certo. Vou ficar só com isso aqui. — Apontando para o iogurte, afirmei com indiferença, enquanto ela recolhia a bandeja.

Por dentro, minha frustração crescia. O primeiro dia nesse lugar já parecia um teste constante.

As salas de aula eram exageradamente espaçosas. Não entendi a necessidade de tanto espaço para um grupo pequeno de alunos. Sentada na última fileira, perto da janela, observei a luz do sol filtrando-se pelas cortinas, iluminando os móveis impecavelmente arrumados. Tudo ali parecia impecável.

Química era a matéria, e eu não poderia odiar mais. Fórmulas, números, explicações complexas... nada disso me interessava. Ainda assim, anotava tudo, como se estivesse prestando atenção. Não tinha escolha: precisava ser a melhor. Era o que meus pais sempre esperavam.

Olhei para o relógio no celular. Duas e quarenta. Só mais vinte minutos até o fim da aula. Minha cabeça latejava, minha barriga roncava alto, e eu mal conseguia me concentrar. Mandei uma mensagem rápida para Kira, pedindo que comprasse uma barra de cereal na máquina do refeitório. Talvez isso segurasse minha fome até a hora do jantar.

Foi então que meus olhos se voltaram para ela. A loira sentava-se três cadeiras à frente, bem no meio da sala. Estava tão concentrada que era quase irritante. Seu cabelo preso em um coque deixava visíveis os brincos que adornavam suas orelhas. Sua nuca, exposta, capturou meu olhar de um jeito que me incomodou.

Por que ela se veste assim? Sempre com bermuda e regata, parecendo um menino. Não combinava com a beleza que tinha. Suspirei, desviando o olhar. Mas meus pensamentos não obedeceram. Seu jeito confiante, quase despreocupado, fazia meu estômago revirar. Era isso que me irritava: ela era exatamente meu tipo.

Mas nada disso importava. Ela era só uma pirralha que me tirava do sério. Nada além disso.

Depois de finalmente comer algo que sustentasse, decidi explorar o colégio. Voltar ao quarto não era uma opção. O corredor estava silencioso enquanto eu caminhava, passando pelas salas de aula uma a uma.

As salas eram todas grandes, iluminadas e impecavelmente organizadas. Cada espaço parecia feito para impressionar: a sala de artes com quadros alinhados; a sala de ciências cheia de equipamentos caros; até mesmo a sala de leitura tinha um aroma leve de madeira polida e papel novo.

Mas nenhuma dessas me interessava. O que eu realmente queria encontrar era a sala de música.

Já tinha ouvido comentários de outras alunas sobre uma sala que não era mais usada. Diziam que os instrumentos ainda estavam lá, mas a porta permanecia trancada. Não sabia ao certo por que estava tão curiosa, mas algo naquela ideia me atraía.

Depois de vasculhar quase todo o andar, finalmente parei em frente à porta de número 105. Nao era diferente das outras. Só uma porta normal. Tentei girar a maçaneta, mas, como esperado, estava trancada.

Fiquei ali por um momento, encarando a porta. Como eu conseguiria a chave? Talvez a zeladora tivesse uma. Olhei para os lados, mas o corredor estava vazio. Senti uma pontada de frustração, como se algo estivesse me escapando.

Suspirei, derrotada, e comecei a descer as escadas. Talvez fosse melhor deixar isso para outro dia. Ainda tinha uma aula de natação pela frente, mas, no momento, só queria que esse dia acabasse.

não te pertençoOnde histórias criam vida. Descubra agora