Capítulo XXXIII

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Com o passar de duas semanas, uma angústia se apossou de mim.

Eu nunca tive tantas saudades da minha mãe como naquela noite. Saber que no dia seguinte eu estaria me casando sem a presença dela me deixava com um vazio dentro do peito.

Queria que ela se sentasse ao meu lado e me desse conselhos maternais sobre casamento, apesar dela nunca ter se casado.

Me despedi de Dorian na porta do quarto e me deitei com uma sensação estranha. Não era dúvida ou insegurança, só sentia que me faltava algo.

Minha mãe.

Talvez fosse nervosismo. Eu estaria diante de várias pessoas na igreja, os olhos postos em mim. Não estava acostumada a ser o centro das atenções.

Mas os rostos conhecidos iriam me confortar. Agnes e minha querida amiga Camila. Os amigos de Dorian, que eu já tinha aprendido a gostar e a respeitar. Não haveria estranhos, apenas nossa família. Era isso que eles eram, tanto para mim quanto para Dorian.

Eu sabia que a presença de seus amigos, irmãos de guerra, era importante. Tinha visto seu esforço para que o senhor DeLuna se sentisse confortável e o quanto confiava naqueles homens.

Passei cerca de uma hora tentando atingir o sono, ao menos foi isso que eu pensei, mas quando conferi no relógio, não tinha passado nem mesmo meia hora.

Levantei e me sentei na cama. Só então percebi que havia um envelope no chão, perto da porta.

Por um instante fiquei receosa. Aquilo era um tanto estranho, mas meu coração se apertou ao ver o autor daquela façanha.

Com amor, Dorian Anders.

A caligrafia estava torta e nem um pouco reta. Parecia que uma criança no início da alfabetização havia escrito.

Era a primeira vez que eu via sua escrita. Ele devia ter se esforçado bastante já que nem mesmo as cartas oficiais ele se dava o trabalho de escrever.

Sentei-me na cama e abri a carta.

Minha Hope, espero que não se importe com a caligrafia torta e descida, sei que até mesmo William escreveria bem melhor do que eu, ainda assim, preciso lhe confessar algo.

Quando eu estava na guerra e acordei em uma cela sem nenhuma luz, o desespero tomou conta de mim. Pensei que a morte seria um destino melhor, me pouparia muito sofrimento. Mesmo tendo a companhia de meus companheiros, me sentia sozinho na maior parte do tempo.

Um certo dia, quando meu desespero não cabia dentro de mim, roguei a Deus pela morte. Demorei até me acalmar, pensei que enlouqueceria, até que dormi. Em meus sonhos, não havia cela ou guerra. Eu estava deitado em um verde pasto, era como se meu corpo flutuasse por águas tranquilas.

Naquele dia acordei com alguém me arrastando para fora da cela, pensei que Deus tinha decidido conceder meu pedido, mas era a ajuda chegando. Eu estava livre, mas ter voltado não significava ter minha vida de volta.

Não sou o mesmo homem de quando parti, mas não me julgo melhor. Quase nada fazia sentido, aquilo que eu mais almejava estava nas minhas mãos, mas não me trouxe nenhuma satisfação. Me vi totalmente frustrado, até que você apareceu: como se fosse a resposta para alguma oração que eu não tinha feito, ainda assim, Deus me respondeu.

A espero amanhã no altar, onde vou prometer continuar a amá-la diante de Deus e dos homens.

Com amor, seu Dorian.

Meu coração ficou dividido entre a tristeza de seus dias de prisioneiro com a alegria por seu amor. Deitei-me sentindo lágrimas brotarem em meus olhos, mas eram de felicidade.

As palavras de Dorian me trouxeram conforto necessário para conseguir dormir. Eu precisava daquilo. Até metade da noite, eu não tive sonhos, pelo menos não que me lembrasse, ainda assim, na minha mente, o quarto começou a ficar cinzento.

Abri os olhos devagar, como se meu corpo se recusasse a acordar. Suspirei na esperança de retornar ao sono, mas o cheiro de fumaça me fez ficar em alerta. Barulho de passos e latidos.

Me sentei na mesma hora que a porta do meu quarto se abriu e Harold apareceu.

– Precisamos sair, a casa está em chamas!

Levantei o mais rápido possível e Harold segurou meu pulso me puxando para fora. Corri com ele enquanto alguns criados subiam as escadas carregando baldes com água.

Agnes já estava lá fora com William e Bob.

– Onde está Dorian? – Perguntei com urgência na voz.

– Vou atrás dele! – Harold disse já subindo a escadaria. – Não o encontrei no quarto.

Meus olhos foram para a casa, quando estávamos a uma boa distância, e arfei. Fumaça preta manchava a noite que deveria ser iluminada, o cheiro forte me atingiu como se tivessem misturado álcool com outra coisa.

O estrago maior começava no quarto de Dorian.

– Como isso pode ter acontecido? – Agnes murmurou ao meu lado, as mãos segurando os ombros de William.

Anders Hall estava em chamas.

As criadas também estavam do lado de fora, boquiabertas com aquilo. Encontrei a senhora Taylor entre elas e fiquei mais tranquila.

Um estrondo forte ecoou pela noite e eu o reconheci no mesmo instante.

Bob começou a latir freneticamente.

– Foi um tiro. – Falei devagar enquanto subia a escadaria.

– Hope, não pode entrar aí! – Agnes soltou William e veio ao meu encontro. – Harold já foi atrás de Dorian e ele odiaria saber que você entrou em uma casa em chamas.

– Conheço esse lugar como a palma da minha mão, já era para Harold ter o encontrado. – Senti um arrepio por meu corpo. – Volto logo.

– Vou com você. – Ela disse segurando meu braço.

– É melhor ficar com William. – Me virei para ela. – Chame ajuda, peça para que alguém vá até os McLean, o senhor Noah pode ajudar.

Agnes olhou para a casa e depois para mim.

– Se algo acontecer a você...

– Não vai acontecer nada, chame o senhor Noah. – Disse me livrando de suas mãos e subindo o restante dos degraus.

O mais rápido que pude, fui diretamente para a origem do fogo.

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⏰ Última atualização: 20 hours ago ⏰

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