Eu, culpado?

27 6 0
                                    

Abraçados, alheios a tudo ao redor, Mia enchia Rafael de pequenos beijinhos pelas bochechas, cada um acompanhado de uma risada gostosa dele, que mantinha os bracinhos apertados ao redor do pescoço dela.

A cena era de uma ternura quase palpável. Mia parecia finalmente ter encontrado um refúgio naquele abraço, enquanto Rafael, com toda a inocência do mundo, respondia ao carinho dela com aquele sorriso que iluminava qualquer lugar.

Por alguns instantes, parecia que o mundo parava para eles dois, como se nada mais importasse além daquele momento. A Mia que eu conhecia, a Mia cheia de vida, estava ali, naquele sorriso, naquele olhar de amor que ela tinha enquanto segurava o Rafael.

Eu continuei parado, observando. Era impossível não ser tocado por aquilo, mesmo com a confusão que ainda pesava na minha cabeça. Aquele momento era deles, e eu sabia que, de alguma forma, aquilo era o que Mia precisava para se reconectar, para lembrar quem ela era, apesar de tudo o que estivesse acontecendo.

Me aproximei devagar, acenando com a cabeça e dando uma boa noite tranquila para Rosane, que respondeu com um sorriso acolhedor. Mia também fez o mesmo, embora sua atenção estivesse quase que completamente voltada para Rafael, que parecia estar transbordando de alegria por tê-la por perto.

- Olha, Mia! disse ele animado, puxando o moletom dela enquanto segurava um livro de colorir cheio de ilustrações vibrantes.

- Huum, temos muito o que fazer, hein?" respondeu ela, com aquele tom doce e animado que só ela sabia usar com ele. Sem hesitar, pegou-o no colo novamente, girando levemente enquanto ele ria com a expectativa de passar mais tempo com ela.

Era bonito de ver como Rafael tinha o poder de trazer à tona o melhor dela, mesmo quando tudo ao redor parecia tão pesado. A conexão entre os dois era tão natural que me fazia querer congelar aquele momento. Enquanto ela falava com ele, folheando as páginas do livro e perguntando qual desenho ele queria pintar primeiro, percebi que talvez ali, na pureza daquele vínculo, estivesse uma chance dela encontrar o equilíbrio que parecia tão frágil nos últimos dias.

- Cuida bem dele! disse Rosane, com um tom firme e direto, enquanto franzia o cenho de uma forma que deixava claro que estava desconfiada de algo. O olhar dela transitava entre mim e Mia, como se estivesse tentando decifrar algo que não estava à vista.

- Pode deixar, Rosane, respondi, tentando manter a calma e a confiança na voz. - Ele tá em boas mãos, como sempre.

Mia, que estava distraída mostrando as páginas do livro para Rafael, também percebeu o tom na voz de Rosane. Ela ergueu os olhos rapidamente, mas desviou logo em seguida, voltando a se concentrar nele, como se quisesse evitar qualquer troca de palavras ou olhares que pudessem trazer mais tensão.

A sensação de que Rosane sabia ou desconfiava de algo só aumentava meu desconforto. Era como se ela também notasse que havia algo fora do lugar, mas, por algum motivo, preferisse não dizer diretamente. De qualquer forma, não era o momento para discutir ou tentar descobrir o que estava na cabeça dela. O mais importante agora era garantir que Rafael tivesse um fim de semana tranquilo e que Mia conseguisse, de alguma forma, relaxar e se reconectar.

- Vamos, amorzinho? perguntei suavemente para Mia, que assentiu enquanto ajeitava Rafael no colo. Ela deu um último sorriso para Rosane, um pouco forçado, e seguimos em direção ao carro, prontos para seguir em frente, mas com o peso daquela frase ainda pairando no ar.

- Roberto, espere! disse Rosane, com a voz um pouco mais firme, me fazendo parar no meio do caminho e virar para encará-la.

Mia também parou, olhando para trás com Rafael ainda no colo, o semblante carregado de surpresa e talvez um pouco de preocupação. Rosane se mudou, os braços cruzados, mas o olhar cheio de algo mais—um misto de apreensão e urgência.

Paixão AcidentalOnde histórias criam vida. Descubra agora