Coração Em chamas, Mente Em alerta.

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A morte de Clara Ribeiro havia sido devastadora para Sara. O luto era um peso que não saía de seu peito, como se cada respiração fosse uma luta contra a dor. Sua mãe havia partido vítima de câncer, uma doença cruel que, além de consumir a vida, roubava a dignidade e deixava os entes queridos impotentes diante do sofrimento. Clara sofreu até o último momento, e Sara assistiu, sem poder fazer nada para salvá-la.

Depois da perda, Sara precisava de apoio. Seu pai era tudo o que lhe restava, a única família que ela tinha. Ela acreditou, ainda que brevemente, que poderiam enfrentar aquele momento juntos, compartilhar a dor e reconstruir algum laço perdido. Mas isso não aconteceu.

Seu pai, sempre político, usou a morte de Clara como uma estratégia eleitoral. Transformou o luto em discurso, a tragédia em ferramenta de manipulação. Foi a maior traição que Sara poderia imaginar, e o ressentimento que ela sentia não diminuía com o tempo.

Nos três dias que se passaram desde que a mãe de Evandro desapareceu e, felizmente, voltou, Sara vinha arquitetando um plano. A ideia era ousada e arriscada, mas ela precisava tentar. Recuperar o testamento original de sua mãe era a chave para conseguir o dinheiro necessário e se livrar do controle de seu pai.

Ela ainda tinha as chaves da antiga casa da família e rezava para que o pai estivesse fora no momento certo. Com sorte, conseguiria entrar, procurar o testamento no cofre do escritório e sair sem ser notada. Caso contrário, teria que lidar com as consequências.

Naquele dia, enquanto ajustava os detalhes do plano, Wilbert entrou no quarto, já pronto para sair.

— Amor, vou resolver uma coisa... Talvez só volte mais tarde. — Ele disse, casualmente, mas seu tom denunciava que havia mais na história.

Sara ergueu os olhos para ele, tentando parecer despreocupada.

— Vai fazer o quê? — perguntou, mantendo a voz neutra.

Wilbert hesitou por um momento antes de responder.

— O Evandro me pediu pra fazer um negócio. — Ele finalmente disse, de forma evasiva.

Sara sabia que "um negócio" significava algo perigoso, mas decidiu não pressioná-lo. Tinha seus próprios problemas para resolver.

— Tá bom... Vai lá. — respondeu, desviando o olhar enquanto pensava em sua próxima mentira. — Eu vou sair também, vou na faculdade trancar a minha matrícula.

Wilbert franziu o cenho brevemente, mas não questionou.

— Só toma cuidado, tá bom? — Ele pediu, com a voz carregada de preocupação.

— Você também, amor. — disse Sara, sorrindo levemente. — Volta inteiro pra mim, tá?

Wilbert se aproximou, os olhos fixos nos dela, e segurou o rosto de Sara entre as mãos. Ele se inclinou e a beijou, de forma lenta e carinhosa, como se quisesse transmitir tudo o que sentia.

— Eu te amo. — Ele disse, sua voz grave mas suave.

O coração de Sara se aqueceu, mesmo em meio a tanta incerteza. Um sorriso genuíno surgiu em seu rosto.

— Eu te amo. — Ela respondeu, não apenas repetindo as palavras, mas reafirmando seu sentimento por ele.

Por alguns segundos, eles ficaram assim, juntos, como se o mundo ao redor tivesse pausado. Mas o tempo não esperava, e cada um tinha um caminho a seguir naquele dia, caminhos que poderiam mudar suas vidas para sempre.













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Sara parou diante da casa do pai, respirando fundo enquanto observava o lugar que um dia chamou de lar. A fachada imponente ainda estava impecável, mas para ela, o ambiente parecia vazio, como uma concha oca. Não era mais sua casa, não era mais seu refúgio. Ela apertou a chave em sua mão, hesitando por um momento antes de finalmente abrir o portão lateral.

A rua estava silenciosa, e Sara aproveitou para caminhar até a entrada dos fundos, a menos óbvia. Com passos leves, ela abriu a porta cuidadosamente, rezando para que ninguém estivesse por perto. Quando entrou, a familiaridade do lugar a golpeou como uma faca. O cheiro da madeira encerada, os móveis luxuosos, cada detalhe lembrava uma época mais simples, quando ela ainda acreditava que sua família era perfeita.

Agora, tudo parecia sufocante.

Ela se moveu rapidamente, cruzando o corredor até o escritório do pai. O espaço era tão organizado que parecia quase clínico. Cada objeto estava em seu lugar, refletindo o perfeccionismo quase obsessivo de Fontes. Sara fechou a porta atrás de si e começou a vasculhar.

Primeiro, abriu gavetas, revirando papéis e pastas. Havia contratos, relatórios e até mesmo anotações pessoais, mas nada do testamento. Ela franziu a testa, olhando ao redor, até que seus olhos pousaram no cofre embutido na parede, atrás de um quadro.

"Claro, só poderia estar aí", pensou.

Com cuidado, ela removeu o quadro, revelando o cofre digital. O teclado brilhava levemente, iluminando os números. Ela passou os dedos sobre os botões, tentando acalmar a mente para se lembrar da combinação.

Primeira tentativa: a data de casamento dos pais. Ela digitou, mas a tela piscou em vermelho.

— Droga! — sussurrou para si mesma.

Segunda tentativa: o aniversário de sua mãe. Mais uma vez, o vermelho acendeu, aumentando sua frustração.

Terceira tentativa: o próprio aniversário. Quando o vermelho apareceu de novo, Sara sentiu o desespero começar a tomar conta.

Ela respirou fundo, tentando se concentrar. Então, como um estalo, lembrou-se de algo que odiava no pai: o egoísmo. Ele sempre colocava a si mesmo em primeiro lugar. Sara apertou os botões com firmeza, digitando o aniversário dele.

A tela piscou verde, e o cofre se abriu com um clique.

Dentro, havia dinheiro, documentos e, finalmente, o que ela procurava: o testamento original de sua mãe. Sara o pegou, sentindo uma onda de alívio misturada com uma pontada de medo. Agora só precisava sair dali.

Quando se virou para recolocar o quadro no lugar, ouviu um barulho vindo do corredor. Passos. Seu coração disparou, e ela congelou.

— Tem alguém aí? — A voz firme de um cida, a senhora que cuidava da casa, fazendo o sangue de Sara gelar.

Ela apagou rapidamente a luz do escritório, se escondeu atrás da porta e segurou a respiração. Cida sem ouvir mais barulhos, se acalmou.

Sara ouviu os passos se afastando e aproveitou a oportunidade para sair, movendo-se tão rápido e silenciosamente quanto podia. Ao passar pela sala de estar, ouviu o som de um carro estacionando na entrada.

Seu pai tinha chegado.

Ela correu para a saída dos fundos, fechando a porta com cuidado antes de sumir. Com o testamento em mãos, Sara sabia que havia vencido a primeira batalha, mas que a guerra estava apenas começando.

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