O dia das eleições finalmente chegou, e o Dendê estava em um turbilhão de movimentos. As ruas estavam cheias de pessoas agitadas, debates acalorados sobre política dominando as conversas, e o som de vozes ecoava por toda parte. Sara estava em casa, inquieta, andando de um lado para o outro. O peso da ansiedade era quase palpável, como uma nuvem escura pairando sobre ela. Algo grande estava prestes a acontecer, e ela podia sentir isso em cada fibra do seu ser.
Se seu pai ganhasse, tudo mudaria. Para pior. Tudo o que ela havia construído nos últimos meses, todas as pequenas vitórias e esperanças, seriam destruídas. O Dendê perderia ainda mais a sua alma, e ela não sabia como poderia lidar com isso.
A tensão tomava conta de sua respiração, irregular e descontrolada. Ela não podia descer o morro para procurar notícias, sabia que isso seria muito arriscado. Mas não podia simplesmente ficar ali, esperando. A televisão não era suficiente. Ela precisava de respostas, precisava de algo mais concreto, algo real.
Com esse pensamento, ela decidiu sair em busca de Wilbert. Ele tinha as respostas que ela tanto precisava, ou pelo menos, algo que a fizesse entender o que estava acontecendo.
Sara caminhou apressada até a porta, calçou rapidamente os chinelos e começou a caminhar pelo Dendê. Sua mente estava acelerada, seus passos apressados, e a ansiedade corria pelas suas veias. Ela só queria encontrar Wilbert, ou qualquer pista que a guiasse para a verdade.
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Apesar de procurar por várias ruas, Sara não conseguiu encontrar Wilbert. Perguntou para algumas pessoas, mas ninguém tinha visto ele. Sua esperança estava começando a se esvair, quando, finalmente, avistou Dona Arlete. Ela estava com sacolas de mercado, acabando de voltar da rua. Sara, sem hesitar, se aproximou dela.
— Dona Arlete, a senhora já foi votar? — Perguntou, tentando esconder o nervosismo na voz.
— Já sim, minha filha. Acabei de voltar. — Respondeu Dona Arlete, sem perceber a tensão que Sara sentia.
— E... A senhora sabe como estão as coisas? Como está a votação? Acha que meu pai vai ganhar? — Perguntou Sara, com um medo evidente na voz, embora tentasse disfarçar.
— Ele tem que ganhar, minha filha. — Dona Arlete falou com firmeza. — Seu pai vai finalmente colocar ordem nesse lugar.
A raiva se apoderou de Sara ao ouvir essas palavras. A indignação subiu pela sua garganta, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Wilbert apareceu diante dela. O coração de Sara disparou.
Mas o que ela viu a deixou paralisada.
Charles, o gringo sempre tão simpático, estava sendo arrastado pelos homens do movimento, claramente incapaz de reagir. Ele estava machucado, e a situação era muito mais grave do que Sara poderia imaginar. O que ele estava fazendo ali? O que ele sabia? O que estava acontecendo?
Dona Arlete, ao ver a cena, correu até o grupo, pedindo para ser ouvida.
— Vocês não podem fazer isso! — Ela tentou interceder, a voz carregada de desespero. — Ele não tem nada a ver com isso! Ele estava só fotografando! Wilbert, o que está acontecendo?
Wilbert, com a expressão grave, respondeu com pressa:
— Traiu o movimento, vai ter que pagar. — Ele não olhou para ela, sua voz firme, mas com um toque de urgência. — É a lei.
— Wilbert... — Sara sussurrou, a voz cheia de confusão e medo. — A gente precisa conversar.
Mas antes que ele pudesse responder, o rádio de Wilbert apitou. A voz de Evandro, firme e autoritária, ecoou pelo ar.
— Wilbert, porra. Cadê você — A voz de Evandro se fez clara. — sobe logo.
Wilbert olhou para Sara, com um olhar que ela não conseguiu entender.
— Agora eu não posso, amor. — Ele disse, sua voz baixa, mas cheia de decisão. — Vai para casa agora. Depois a gente conversa.
— Já tô subindo, chef. — disse Wilbert pelo rádio, com a voz cheia de determinação.
Com um último olhar tenso, Wilbert se afastou, e Sara ficou ali, olhando para Charles, ainda sendo arrastado pelos homens do movimento, sem saber o que fazer ou para onde ir.
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A noite havia caído, e o Dendê estava imerso em uma tensão quase palpável. O ar estava pesado, como se todos estivessem esperando por algo que não poderiam controlar. Sara, sentada na sala de estar, não conseguia tirar os olhos da televisão, onde os números estavam sendo atualizados, lentamente, a cada segundo.
Ela sentia o peso da ansiedade comprimindo seu peito. Seus pensamentos estavam tão confusos que ela mal conseguia distinguir a realidade da ilusão. O cheiro no ar parecia diferente, algo forte, algo estranho. Talvez fosse o medo, talvez fosse o cheiro da cidade, mas, no fundo, ela sabia que o ambiente estava mudando. Ela estava tão nervosa que não conseguiu distinguir de onde vinha aquele cheiro, mas algo dentro dela dizia que não era bom. No entanto, não importava. Nada mais importava. Só o resultado.
Os números começaram a ser anunciados, e a tensão aumentava a cada atualização. A sala estava em um silêncio mortal. Sara olhava fixamente para a tela, o estômago apertado, como se ela estivesse prestes a desmaiar. Suas mãos suavam, e seus pensamentos estavam em um turbilhão. O que aconteceria se o resultado fosse positivo para seu pai? O que seria do Dendê? Ela não podia mais fugir dessa realidade.
Finalmente, a voz do apresentador ecoou pela sala, quebrando o silêncio tenso.
— Chegou ao fim a contagem dos votos. — Ele fez uma pausa, aumentando o suspense. — O vencedor é... Ricardo Fontes!
Sara parou, o ar pareceu desaparecer de seus pulmões. Ela não sabia o que sentir. A vitória de seu pai significava mais do que qualquer coisa que ela pudesse imaginar. Era o fim de um ciclo. Era o fim de suas esperanças, de seus sonhos. O que aconteceria com as pessoas que ela amava? E com ela mesma?
O medo a consumiu completamente. Seu corpo estava tenso, e uma sensação de paralisia tomou conta dela. Não conseguia se mexer, não conseguia respirar direito. Seu pai havia vencido. E agora? O que viria a seguir?
Ela se levantou abruptamente, as pernas fracas, e caminhou até a janela. A cidade estava mais silenciosa do que nunca. O cheiro estranho no ar parecia se intensificar, uma mistura de incerteza e algo mais... Como se a cidade estivesse esperando por algo ainda mais sombrio, algo que ela não estava pronta para enfrentar.
Agora é tarde demais, não tinha mais volta.
O que aconteceria com a sua vida, com o Dendê? E o pior de tudo... Será que ela ainda tinha algum controle sobre o que estava por vir?
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Impuros - Nossa Liberdade.
FanficSara Ribeiro, filha de um poderoso político, se vê atraída pelo perigoso mundo do Dendê, onde conhece Wilbert, um líder misterioso e irresistível. Em meio a segredos familiares e um romance proibido, Sara precisa decidir até onde está disposta a ir...