Verdades Expostas.

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A notícia de que Evandro havia sido preso chegou rápido. Burgos foi quem contou, trazendo não só o dinheiro, mas também a informação. Sara sentiu uma onda de alívio misturado com pesar. Evandro fora importante para Geise, e agora ele estava preso, assim como Wilbert. Ela pensou em como Geise deveria estar lidando com aquilo.

Mas a dor maior era outra. O rosto de Wilbert continuava gravado em sua mente. Os hematomas, o corte no lábio, a expressão exausta e o olhar ferido. Tudo consequência da violência de seu pai. Aquilo a corroía por dentro. Sara estava cansada de fingir que nada acontecia, de engolir as manipulações e agressões dele. Precisava confrontá-lo.

Pegou as chaves sem pensar duas vezes e dirigiu até a mansão do pai.








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Ao entrar na casa, a familiaridade dos corredores e móveis caros apenas intensificava sua raiva. Sara caminhou com passos firmes até o escritório dele. Lá estava ele, sentado em sua cadeira de couro, segurando um copo de uísque, como se o mundo ao redor estivesse perfeitamente em ordem.

Ele levantou os olhos com um sorriso cínico.

— O que devo à honra dessa visita, filha? Resolveu voltar para a civilização?

Sara parou diante da mesa dele, ignorando o sarcasmo.

— Eu voltei porque estou cansada, pai! — ela disse, sem esconder a indignação. — Cansada de você controlar a minha vida, machucar as pessoas que eu amo e achar que pode manipular tudo à sua volta!

O sorriso de deboche dele se transformou em uma expressão de indiferença fria.

— As pessoas que você ama? Você está falando daquele traficantezinho do Dendê? — Ele tomou um gole do uísque e soltou uma risada seca. — Sara, você perdeu a cabeça. Esse homem é um criminoso, e eu só estou tentando proteger você da sua própria estupidez.

Sara se inclinou sobre a mesa, os olhos faiscando de raiva.

— Criminoso? Quem é você para falar de crime, pai? Acha que eu não sei o que você fez com Wilbert? Machucá-lo enquanto ele estava preso, indefeso? Isso é covardia!

O pai dela colocou o copo sobre a mesa com força.

— Eu fiz o que era necessário! Você não percebe que está arruinando sua vida ao se envolver com alguém como ele? Ele não tem futuro, Sara! Ele é um peso morto que só vai te arrastar para baixo.

— E você acha que é melhor? — ela retrucou, a voz tremendo de indignação. — Pelo menos Wilbert é honesto! Ele não esconde quem ele é. E você? Você é um hipócrita!

Ele se levantou, finalmente deixando transparecer a fúria que mantinha controlada.

— Cuidado com o que diz, menina. Eu sou seu pai, e você vai me respeitar!

Sara soltou uma risada amarga.

— Respeitar? Respeitar um homem que adulterou o testamento da minha mãe para roubar a herança dela?

O silêncio caiu sobre o ambiente como uma bomba. O rosto dele, antes tão seguro, agora exibia surpresa e desconforto.

— Do que você está falando? — ele perguntou, tentando manter a compostura.

— Você sabe exatamente do que eu estou falando — Sara disse, os olhos fixos nele. — Eu descobri tudo, pai. Você é um ladrão.

Ele avançou um passo, o rosto rígido de raiva.

— Você está delirando! Essa sua irresponsabilidade está passando dos limites. Eu fiz tudo para te proteger, e é assim que você me agradece?

— Proteger? Você me destrói! — ela gritou. — Você não sabe fazer nada direito, não cuidou da minha mãe direito, não me criou direto e é só questão de tempo até você vacilar. Vai perder tudo que você conseguiu por que você é um imbecil. É um incompetente de merda que destrói tudo que você toca.

A tensão no ar era sufocante. Então, quando Sara terminou sua frase, sentiu o impacto. O tapa do pai queimava em sua pele, mas a dor física não era nada comparada à indignação e ao desprezo que cresciam dentro dela.

Ela levou a mão ao rosto, respirando fundo para conter as lágrimas.

— Eu te odeio — disse ela, a voz baixa e cheia de rancor. — Você é um Filho da puta de merda.

Virou as costas e saiu do escritório. Seus passos ecoaram pelos corredores vazios da mansão enquanto ela se afastava, deixando para trás não só a casa, mas também o homem que ela um dia tentou chamar de pai.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora