Capítulo 16

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Era uma noite de verão escaldante até para quem estava acostumado. Para quem não estava, como Lily, mas que era sempre maravilhada com uma novidade, estava muito bom. Ela e Mateus estavam na casa simples dos pais dele, e a mãe de Mateus queria de qualquer maneira que ela comesse um ovo de codorna.

-Não, obrigada, dona Marta. Vou ficar sem apetite para a ceia.

-Besteira, um ovinho desse tamaninho! Aproveita que está aqui e prova umas comidas diferentes.

Lily não teve coragem de dizer que havia ovos de codorna na Inglaterra, por isso tirou um. Na verdade, ela não gostava muito e estava guardando espaço para:

A rabanada

O pernil

O arroz colorido

A farofa

As castanhas

A macarronese

O pudim

Logo, achava um desperdício alimentar a Betsy, sua lombriga imaginária, com ovos de codorna. Sua mãe, três horas à sua frente, havia mandado uma mensagem: "Feliz Natal, meu amor. Estamos com saudades (já). Mande um beijo para o Mateus". Aquele era seu primeiro Natal longe de casa, além do famoso ano que provocara uma enorme crise diplomática entre a vovó Lewknor e sua mãe, mas na época ela tinha três anos recém-completos e não se lembrava de nada. O fato de estar no Brasil naquela data a fazia se sentir mais independente do que quando fizera dezoito anos, do que quando fora morar sozinha, do que quando se casara. E estava com saudades também.

-A gente pode tirar uma daquelas fotos bem cafonas e mandar para eles – Mateus falou, quando ela lhe mostrou o recado.

-Com gorro de Papai Noel? – Lily perguntou, animada.

-Eu tenho certeza de que tem uns gorros desses em algum lugar.

-Por que vocês têm gorros de Papai Noel, Mateus?

Ele sorriu, sem graça, e duas covinhas apareceram no seu rosto.

-Meu pai fazia a gente usar em dezembro para fazer as entregas do depósito. Ele dizia que era uma vantagem sobre a concorrência porque ficávamos mais natalinos.

Lily riu:

-Meu Deus! E você usava?

-Usava até sair das vistas dele. Maior vergonha.

-É uma mente empreendedora.

-Super.

Mateus foi perguntar à sua mãe se ela possuía alguma ideia de onde estariam os gorros. Marta, que não se livrava de nada na vida e ainda possuía uma memória de elefante, logo encontrou quatro deles. Não era o suficiente, mas Lily, Mateus, a própria dona Marta e o irmão de Mateus os vestiram, e a família tirou uma foto em frente ao pinheiro falso cheio de pisca-piscas e bolas vermelhas e douradas.

"Também estamos todos com saudades", Lily escreveu na legenda.

-E conte para a gente, como é ser estrela da música? – O irmão do Mateus perguntou para a Lily. – Tinha uma época que você achava que ia ser astro do rock, né, Mateus? Ficava enchendo o saco com aquela guitarra.

-Era música, ignorante, não era encheção de saco. E acabou que eu não comecei uma banda, mas gosto pra caramba do que eu faço.

-O que você faz mesmo, Mateus? – Seu pai perguntou. Ele sempre perguntava isso. Mateus simplificou e respondeu, pela milésima vez:

-Faço pesquisa, pai.

-Pesquisa música – Sua mãe ajudou. Sua compreensão do trabalho do filho terminava aí. Para ela, só fazia sentido ter as profissões tradicionais, como médico, dentista, professor ou advogado.

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⏰ Última atualização: 14 hours ago ⏰

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