"Não se trata do carro. Trata-se das pessoas que o dirigem."
***
O dia estava começando com aquela energia elétrica que só o GP de Monza consegue trazer. O som dos motores já ecoava pela pista, e eu, como sempre, estava presa à agitação dos boxes, observando os mecânicos e engenheiros se movimentando em um ritmo frenético. Eu era a engenheira de Lewis, e posso te dizer que estou mais que acostumada com o caos da "First Practice". Mas, hoje, tinha algo diferente no ar. Algo... pesado.
Ou, melhor dizendo, George estava pesado. Não fisicamente, claro, porque o cara é um tostão de gente. Mas emocionalmente, parecia que o peso de um caminhão estava sobre seus ombros. E eu sabia exatamente o que era. Era o novato Kimi Antonelli, o prodígio da Mercedes, que estava prestes a dar suas primeiras voltas no carro de George.
Eu dei uma olhada para o George, que estava ajustando os fones de ouvido como se estivesse prestes a embarcar em uma missão secreta. Ele tinha aquele sorriso largo de sempre, mas eu sabia. Eu sabia que por trás da fachada de tranquilidade, ele estava segurando a raiva de um jeito que até os melhores atores de Hollywood teriam inveja.
— Ei, George — eu falei, tentando quebrar o silêncio enquanto me aproximava dele. — Não precisa ficar tão tenso, o Kimi vai se sair bem. Ele tem talento, você sabe.
Ele virou lentamente a cabeça para mim, e seu sorriso aumentou um pouquinho, como se tentasse se convencer de algo.
— Eu sei, eu sei. Só que... é o meu carro, você entende, né?
Eu dei uma risada.
— Sim, George, eu entendo. É o seu carro. Mas ele vai aprender, você vai ver.
Ele soltou um suspiro que, honestamente, era quase audível. Sabe aquela frustração silenciosa, quando você tenta esconder o que está sentindo, mas é impossível? Era exatamente isso.
Eu sabia que, para ele, aquela máquina não era só um carro. Era a extensão do seu trabalho, das suas vitórias, dos seus desafios. E mais do que isso, era uma peça crucial de tudo o que ele vinha construindo na Fórmula 1.
Mas aí, o momento chegou. Kimi entrou no cockpit, e eu podia ver George observando a tela do monitor, tentando manter o foco no que estava acontecendo. Kimi parecia tranquilo. Muito tranquilo, até. Ele era bom, eu sabia disso, mas nunca é fácil quando se está atrás do volante de um carro de outro piloto. E, claro, nunca é fácil para quem teve que dar seu carro para um novato. O que, é claro, deixou George ainda mais nervoso.
Aí, o que ninguém esperava aconteceu. O carro de George perdeu o controle na reta oposta e foi para a área de escape. O impacto contra a barreira foi ouvido até nas áreas mais distantes do paddock. Eu dei um pulo na cadeira, e, com uma leveza que só quem trabalha em uma equipe de Fórmula 1 entende, uma onda de tensão se espalhou.
George estava em pé ao lado do monitor, os olhos fixos na tela enquanto assistia ao replay do acidente. A frustração em seu rosto era clara, e seu sorriso, que normalmente iluminava a sala, tinha desaparecido por completo.
— Não é bom — ele disse, a voz completamente sem emoção.
Eu respirei fundo, tentando não mostrar o quanto estava pensando em uma coisa que não devia: o meme do "Meu carro, AAAAAAAA". Eu só imaginava o que estava passando pela cabeça dele. Esse era o tipo de coisa que um piloto nunca quer ver – o seu carro sendo destruído por um outro piloto, ainda mais quando esse outro piloto é um novato.
Mas, em vez de explodir, como eu esperava, George ficou em silêncio. E quando a equipe começou a correr para tentar entender a extensão dos danos, ele se afastou um pouco, como se quisesse fugir do próprio sofrimento. Um passo atrás. Eu sabia que ele estava tentando se manter calmo, não mostrar o que sentia. Mas eu também sabia o quanto aquilo significava para ele.
— Pelo menos ele está bem, né? — Eu disse, tentando suavizar a tensão, mesmo sabendo que uma frase como essa nunca resolve nada para alguém que acaba de ver o seu carro destruído.
Ele deu uma risadinha, mas era daquelas risadas que você faz para disfarçar o quanto está irritado.
— Claro, claro... mas é o meu carro.
Eu quase não aguentei.
— Eu sei, amor. Eu sei. Mas o Kimi vai aprender. E, olha, o carro não é de vidro. Vai dar tudo certo.
— Se ele conseguir fazer isso mais uma vez... vou pedir um aumento de salário só para pagar a frustração — George disse, forçando uma risada.
Eu dei um sorriso de volta. Ele estava tentando aliviar, mesmo que só um pouquinho, a pressão que estava sentindo. Mas, convenhamos, a situação não estava fácil para ele. Naquele momento, o carro de George não era mais um pedaço de metal e carbono. Era o resultado de todo o trabalho duro, o sacrifício e as horas gastas com ajustes minuciosos. Era o seu "bebê", e, se eu fosse ele, também não ficaria nada feliz em vê-lo quebrado daquela maneira.
Enquanto a equipe começava os reparos, eu me peguei pensando: como será que o Kimi se sente agora? Deve ser o tipo de situação que ele nunca imaginou vivenciar em sua carreira de piloto. Mesmo sendo prodígio, eu tenho certeza de que aquele momento, ver o carro de um colega bater contra a barreira, não é algo que ele imaginava enfrentar tão cedo. E quem pode culpar o garoto? O mundo da F1 é implacável, mas todos nós já passamos por esses altos e baixos.
George não parava de olhar para o monitor, e eu senti que ele estava, de alguma forma, tentando entender tudo o que havia acontecido. Ele só não queria admitir o quanto estava chateado com a situação.
Eu sabia que, depois de todo aquele turbilhão, ele iria superar, como sempre. George é do tipo que encara os desafios de frente, e, por mais que estivesse claramente frustrado com a situação, ele era um piloto de classe.
Enquanto as horas passavam e a equipe trabalhava para colocar o carro de volta na pista, eu sabia que o GP de Monza seria mais um capítulo na história de George. E, claro, que o sorriso dele voltaria. Talvez não naquela hora. Mas voltaria, com certeza. Afinal, é só um carro, não é?
Mas... até lá, eu não resisti. A cada vez que alguém falava sobre o incidente, eu não podia deixar de pensar no George com aquela cara de "Meu carro, AAAAAAAA".
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Imagines Fórmula 1
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