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Um novo início, uma nova era. Era algo completamente inesperado para nossos protagonistas, Tweek e Craig, dois jovens de personalidades tão diferentes, mas igualmente marcantes. Tweek, com sua sensibilidade à flor da pele, contrasta fortemente com Craig, cuja tranquilidade beira a indiferença. Essas almas distintas carregam dentro de si uma gama de emoções que, ao se expressarem, parecem sobrecarregar o sangue de quem os observa.

São as diferenças entre eles, afinal, que afetam cada traço de quem somos. Porque, no fundo, todos sabemos: ninguém é igual, e ninguém é perfeito. Essa imperfeição é uma verdade inevitável. Mas a vida não se limita a aceitar o que é óbvio. Ela nos apresenta obstáculos difíceis — pessoas manipulativas, falsas, que entram em nossas vidas sem permissão, se infiltram em nossos corações e incendeiam o amor que cuidamos com tanto zelo. É agoniante testemunhar o amor, antes tão vivo e quente, se dissipar em segundos por causa de quem nunca o mereceu.

Mas, apesar dessa dor, isso é apenas o começo. Ainda há muito por vir. Por ora, decidimos ignorar as verdades amargas e focar no presente, no aqui e no agora, onde o inesperado ainda pode se transformar em algo belo.

CRAIG ON:

Acordei ao entardecer, no exato momento em que o sol poente pintava o céu com tons dourados e alaranjados. Uma luz clara e penetrante invadiu minhas pupilas dilatadas, fazendo meus olhos lacrimejarem. Senti um cansaço profundo pesar sobre meu corpo, como se carregasse o mundo inteiro nos ombros. Mas eu não podia ceder ao esgotamento. Não hoje. Tinha passado em uma das melhores faculdades da América, um sonho que parecia inalcançável, mas que agora era realidade. Isso, porém, exigia um sacrifício enorme: eu teria que deixar South Park.

A ideia de partir me rasgava por dentro. Três anos longe da minha família, desse lugar que foi palco de tantas memórias, não seria fácil. Cada lembrança que construí aqui parecia desfilar pela minha mente como cenas de uma linha do tempo — cada riso, cada lágrima, cada amizade conquistada. Despedir-me deste lugar era como arrancar parte de mim. South Park não era apenas um local; era o cenário de mil maravilhas, o abrigo de momentos que moldaram quem eu sou.

Uma lágrima quente escorreu pela minha bochecha, queimando minha pele como o peso da despedida. Meu coração doía, apertado pela angústia de tudo que eu deixaria para trás. Ainda assim, eu sabia que precisava manter a fachada de força, fingir ser mais duro do que realmente era. Mas não era fácil, nunca seria tão simples quanto as pessoas imaginavam. Essa era a decisão mais difícil que já enfrentei.

Meus pais sempre foram conhecidos por sua ignorância e força, qualidades que carregavam como troféus de um orgulho amargo. Eles me criaram para ser exatamente como eles, para carregar esse mesmo peso, para honrar o que chamavam de "o legado da família". E foi assim que me tornei quem sou: alguém que feriu tantas pessoas por conta dessa ignorância cega. Essas cicatrizes, mesmo que não estejam na minha pele, estão gravadas na minha memória, e nunca vou me perdoar por isso.

Eu me sinto horrível. Já machuquei até mesmo os meus próprios amigos — aqueles que me estenderam a mão quando eu precisava. E o pior é que tive a coragem de fazer isso. Coragem ou loucura? Não sei mais. Talvez seja loucura mesmo. Mas o mais estranho é que me dizem para não me importar. "Pelo bem do legado da família", eles dizem. Um mantra que ecoa na minha mente, como se fosse a única coisa que importasse.

No entanto, há uma pessoa de quem nunca me arrependi de ferir. O nome dele me escapa agora, como uma lembrança borrada por cinco anos de distância e silêncio. Foi um erro tão grande quanto os outros, mas diferente de tudo. Não foi apenas minha criação que me impediu de lidar com isso; eu nunca tive a liberdade de expressar o que realmente sentia. Nunca pude ser vulnerável, mostrar quem sou por trás dessa casca dura que meus pais moldaram.

Com o tempo, essa incapacidade de sentir e demonstrar tornou-se quase um hábito, uma escolha que passou a ser minha. Não mais uma imposição deles, mas uma vontade própria. E eu me pergunto: por quê? Por que continuo assim? Por que ainda tento justificar?

Mas agora sinto que preciso mudar. Preciso tentar, pelo menos. Não por eles, não pelo legado. Por mim. Porque, se continuar nesse caminho, nunca vou sair desse ciclo de mágoas e arrependimentos. Talvez ainda haja tempo para melhorar. Talvez, se eu tentar o suficiente, eu consiga transformar a dor que causei — e a que carrego — em algo que valha a pena.

Acordo pouco depois de mergulhar em meus pensamentos, a mente ainda enevoada pelas reflexões que não me deixaram descansar por completo. De repente, lembro-me de algo essencial: esqueci de arrumar minha mochila para encarar as doze longas horas de viagem de ônibus. Doze horas. Só de pensar nisso, meu corpo já se contrai em antecipação ao desconforto. Eu odeio viagens de ônibus. O som incessante das rodas deslizando sobre o asfalto entra nos meus ouvidos como agulhas, fazendo minha cabeça latejar. É algo tão estressante que parece desafiar minha paciência a cada segundo.

Mas não há outra escolha. Resignado, começo a organizar o que chamo de meu "kit de sobrevivência". Protetores de ouvido, claro, são prioridade absoluta. Talvez um bom livro, algo que me distraia da monotonia esmagadora. Alguns lanches, água, e até um carregador portátil — porque, sem dúvida, minha única tábua de salvação será o celular. Coloco tudo na mochila, verificando cada item como se me preparasse para uma missão.

Enquanto isso, minha mente começa a vagar. Quem será que vai se sentar ao meu lado? Será alguém conhecido, alguém com quem eu possa trocar algumas palavras? Ou será um completo estranho, talvez até alguém que torne essas doze horas ainda mais longas com uma conversa incômoda ou, pior, um silêncio constrangedor? Não adianta me perguntar; só vou descobrir quando chegar o momento.

Por ora, decido deixar de lado essas preocupações e tentar me concentrar no trabalho que tenho em mãos. Focar, me ocupar, esquecer o que está por vir, pelo menos por agora. Afinal, de alguma forma, preciso me preparar mentalmente para a próxima etapa dessa jornada — uma viagem que, mais do que física, parece ser um teste para minha paciência e resiliência.

Decido deixar por último o computador, minha companhia fiel em momentos como esse. Antes de colocá-lo na mochila, não resisto à tentação de mexer nele por alguns minutos. Abro alguns vídeos na esperança de que o tempo passe mais rápido. Cada clique é quase um ritual para me distrair da espera, e, sinceramente, espero que funcione.

7 horas da noite

A hora havia chegado. Uma ansiedade crescente borbulhava no meu peito, um sentimento que raramente me visitava. Eu nunca fui do tipo que se deixa dominar por esses nervosismos, mas esta situação era diferente. Estava prestes a sair da cidade sem meus pais pela primeira vez. Algo totalmente novo, quase assustador. Minha mente não parava de repassar tudo o que poderia dar errado. E, de certa forma, fazia sentido me preocupar tanto.

Era hora de me despedir. Minhas mãos suavam levemente enquanto abraçava meus pais. As palavras de despedida deles eram confortantes, mas eu sabia que o peso do momento estava em mim. Respirando fundo, peguei minha mochila e subi no ônibus. Meu assento era o 16B. Caminhei pelo corredor estreito, carregando minha bagagem com cuidado. Ao chegar, coloquei a mala no compartimento acima, tentando ignorar a leve tremedeira nas mãos.

Enquanto me preparava para sentar, levantei o olhar e... Kenny?!

the constellations unite usWhere stories live. Discover now