Capítulo 11 - Cleo

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No outro dia pela manhã, havia acordado cedo, ansiosa com a ligação que tivera com Jake na noite anterior. A dor que sentia em meu peito misturado a frieza da sua voz era cortante.

A medida que degustava o chá de amora do Rainbow Café, sentia que lentamente meus nervos e batimentos cardíacos se acalmavam. Não tinha gosto de nada, mas era bom. Em meu estômago não havia nada, além de um grande vazio. A chuva cairá a noite toda, e Duskwood estava completamente fria.

Pessoas iam e vinham nas ruas com determinados rumos, enquanto eu me sentia completamente perdida e sem direção. Encarando a xícara vazia a minha frente, deixei o dinheiro sobre a mesa e levantei caminhando para fora do local.

A brisa fria bagunçava meus cabelos enquanto meus passos me levavam a algum lugar que eu não fazia ideia. Meus pensamentos estavam fixos em Jake e nada além. Com o vibrar do telefone em minhas mãos, encarei o nome da Jessy na chamada de voz na tela do meu celular.

—  Jessy  —  chamei seu nome sem ânimo.

—  Ei! Onde você está?  —  perguntou animada.

—  Não sei  —  olhei em derredor avistando do outro lado da rua uma confeiteira  — Estou de frente a “Sweet Charm”.

—  Ah  —  Jessy fez um silêncio do outro lado da linha, no mesmo momento em que atravessei a rua.

—  Nos falamos mais tarde  —  desliguei o telefone antes mesmo que ela pudesse dizer qualquer coisa.

Assim que entrei, o ambiente morno e repleto de bolos confeitados, cupcakes e bolos em potes me preencheu os olhos. Haviam algumas pessoas por ali, nenhum rosto conhecido. Pelo vidro na sessão de rosquinhas confeitadas, avistei a morena de cabelos lisos e castanhos, ela estava limpando alguma coisa quando pigarrei.

—  Oh céus! Perdão  —  ela levantou retirando os fios soltos do rosto. Era Cleo.

Assim que me viu, sua expressão mudou de risonha para surpresa. Seus olhos, que antes brilhavam com um sorriso despreocupado, agora estavam arregalados, como se eu fosse um fantasma surgindo do nada.

—  Oi!  —  disse ela, tentando recuperar a compostura, mas a cor em suas bochechas traía seu desconforto  —  Não esperava te ver aqui.

Eu também não esperava encontrá-la. O jeito como seus dedos brincavam nervosamente com a corrente no pescoço indicava que ela estava lidando com algo mais profundo.

—  É, eu… vim apenas dar uma volta  —  respondi, tentando soar casual, mas a verdade é que meu coração estava acelerado.

Ela olhou ao redor, como se quisesse encontrar uma saída ou um assunto para mudar de direção. A confeitaria onde nos encontramos estava repleta de burburinhos, mas parecia que estávamos em uma bolha isolada, onde apenas nós duas existíamos.

—  Eu… estou fazendo algumas mudanças na minha vida  —  Cleo finalmente disse, quebrando o silêncio tenso. Sua voz era baixa e hesitante  —  Sabe como é, né? Às vezes precisamos de um tempo para nos redescobrir.

Eu sabia exatamente do que ela estava falando. Nós duas tínhamos passado por tantas coisas nos últimos dias: desentendimentos, mágoas e a inevitável distância. Mas ao ouvir Cleo falar sobre mudanças fez meu coração apertar. Parte de mim queria saber mais, entender o que estava acontecendo com ela.

—  Isso é bom…  —  comecei, mas as palavras pareciam insuficientes  —  Como você está se sentindo?

Ela respirou fundo e sorriu novamente, mas dessa vez era um sorriso mais triste e sincero.

—  Um pouco perdida, na verdade. Mas estou tentando encontrar meu caminho de volta.

Aquelas palavras tocaram uma corda dentro de mim. Eu também me sentia perdida às vezes e queria ajudar Cleo a encontrar o caminho dela novamente, mesmo que eu estivesse completamente às cegas.

—  Se precisar conversar ou qualquer coisa do tipo… estou aqui  —  ofereci sinceramente.

—  Obrigada… Isso significa muito para mim  —  ela respondeu suavemente.

Não era o tipo de coisa que eu esperava da Cleo. Ela sempre foi mais humana e aberta com a Hannah e sua família. Mas ao ouvir esse palavras ressoar dos seus lábios, percebi que não só ela, mas também os outros estão em uma luta constante com a própria vulnerabilidade, escondendo suas inseguranças atrás de sorrisos e conversas falsamente leves. E naquele momento, tudo parecia desmoronar.

—  Eu… eu não sei como lidar com isso  —  Cleo disse, a voz embargada. Seus olhos estavam cheios de uma mistura de dor e confusão  —  Eu nunca imaginei que…  —  suas palavras dissiparam.

—  Você pode sair um pouco? Podemos dar uma volta e conversar  —  sugeri.

Ela apenas afirmou com a cabeça, comunicou a sua chefe e deixou o avental saindo por trás do balcão. Eu estava tensa por nunca ter tido uma conexão tão íntima com ela. Cleo sempre se mostrou forte e determinada e vê-la assim era completamente incomum.

Assim que chegamos a uma praça, nós escolhemos um dos bancos mais secos, cobrimos com jornais velhos e nos sentamos. Cleo estava trêmula e seu olhar estava tão distante e perdido.

—  Como tem sido desde então?  —  sorri fraco pra ela com as pernas cruzadas.

—  Minha vida tem sido essa que você viu  —  ela disse desviando seus olhos para a vasta grama verde e molhada.

—  Cleo, você não precisa carregar isso sozinha  —  eu disse, tentando encontrar as palavras certas  — Ninguém esperava por isso, nem mesmo eu.

As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto. Lágrimas silenciosas de dor e sofrimento. Aquilo me partiu o coração.

—  Eu não consigo vê-la da mesma forma  —  falhou a voz mas continuou  —  É como se ela fosse uma mentira por todo esse tempo e isso também faz referência ao Richy  —  Cleo respirou fundo  —  Agora que tudo que está vindo à tona, eu sinto que estou perdendo tudo.

—  Você não está perdendo tudo — tentei encorajá-la   —  Isso é um momento difícil, mas você ainda tem pessoas que se importam com você. Eu estou aqui para você e para os outros  —  segurei em sua mão apertando-a.

Cleo me olhou novamente com uma tristeza imensurável em suas pálpebras, ela estava magoada e ferida.

—  E se as coisas não forem mais as mesmas?

—  E se as coisas forem melhores do que antes?  —  sorri para ela.

—  Porque tem tanta esperança em algo que já não tem mais jeito?  — disse friamente e se levantou limpando as lágrimas com o dorso de mão.

—  Porque ainda há um caminho!  — exclamei  tentando animá-la.

—  Você sempre foi assim  —  ela sorriu diante do choro, tocou em meu ombro e com dor prosseguiu  —  É isso que te faz única.

Cleo deu um leve aperto em seus lábios e, em seguida, se afastou, me deixando para trás. O espaço entre nós parecia se expandir a cada passo que ela dava. Olhei-a partir de onde estava, sentindo uma mistura de impotência e desespero. Por que ela estava se afastando quando mais precisávamos uma da outra?

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Oi, oi. Peço perdão pelos erros ortográficos, obrigada por ler até aqui, e desculpa a demora para atualizar, me siga na rede vizinha, tiktok: evduskmoon, até mais 🤍 ☕ 👋🏻

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