Uma noite de natal

Superações

     Era dezembro. As ruas estavam vestidas com luzes coloridas e a cidade, apesar da ansiedade natalina, parecia mais sombria para Alice. O Natal sempre teve um significado especial para ela, mas desde o ano passado, essa época do ano se tornara um lembrete doloroso de sua própria fragilidade. O frio cortante não era nada comparado ao gelo que havia se instalado em seu peito.

    Alice havia perdido sua confiança naquele dezembro, no ano anterior. Tudo parecia perfeito — o Natal chegaria, e ela passaria com as pessoas que amava. Mas as coisas mudaram quando descobriu a traição de seu ex-namorado com sua melhor amiga, Clara. Eles tinham planejado tudo junto: o presente, o encontro, até os planos para a noite de Natal. Alice só não sabia que esse "presente" seria um golpe direto no coração. E ao invés de ser uma surpresa de amor, foi uma traição cruel, em uma noite que, para ela, simbolizava união.

     Desde então, o Natal deixou de ser uma celebração de amor e se transformou em um lembrete de tudo o que ela havia perdido. A dor de ver Clara, sua amiga de longa data, envolvida com alguém que ela considerava uma parte fundamental de sua vida, consumia-a. Ela havia perdido mais do que um relacionamento, perdeu a confiança nas pessoas, e, de alguma forma, sentia que o Natal estava sempre rindo de sua dor.

   Agora, mais de um ano depois, Alice tentava recomeçar. Ela se concentrou no trabalho, afastou-se de amizades antigas e tentou seguir em frente. Mas as lembranças a assombravam. A imagem de Clara e seu ex, trocando promessas de amor sob a árvore de Natal, a persegue.

   Esse ano, o estresse do trabalho parecia ser o maior obstáculo. Seu chefe, Diego, parecia estar decidido a torná-la ainda mais infeliz. Ele não era de facilitar as coisas para ninguém, mas em dezembro ele estava especialmente implacável. Todo dia era uma cobrança sobre o desempenho, mesmo que Alice estivesse se desdobrando para atender às expectativas.

- Preciso de resultados, Alice. O final de ano está aqui, e a empresa não vai parar para a sua ‘crise de fim de ano, ele dissera com seu tom cortante na manhã de segunda-feira. - Deixe suas emoções na porta e se concentre no que importa. Vamos ver se consegue entregar os relatórios com a mesma eficiência com que se distrai com o Natal.

- O peso daquelas palavras parecia esmagar o pouco de ânimo que ainda restava em Alice. O Natal se aproximava, e a dor do passado não a deixava descansar, enquanto as pressões do trabalho se intensificavam. Ela não podia simplesmente fechar os olhos para tudo isso. O ex-namorado, a traição, e agora Diego... Tudo parecia um ciclo de frustração sem fim.

                                  Dia 24/12

    Na véspera de Natal, quando Alice retornava para casa após mais um dia de cobranças de seu chefe, a neve começava a cair, cobrindo as ruas com uma camada suave e fria. Ao longe, ela via as luzes cintilantes das casas, cada uma com suas árvores decoradas. Mas a sensação de vazio a consumia. Ela não sabia como seria capaz de enfrentar mais um Natal sozinha, com tudo o que havia acontecido.

    O telefone tocou. Era Clara.

- Oi, Alice... Eu sei que talvez você não queira ouvir isso, mas eu preciso te contar. Eu... eu errei. Eu te traí, e não posso mais carregar isso sozinha.

    Alice parou. O som da neve caindo, a voz de Clara... tudo parecia paralisado por um momento. Ela sentiu uma mistura de raiva, dor e tristeza, mas também uma pequena centelha de alívio. Clara estava pedindo desculpas? Tinha algo em sua voz que sugeria que ela estava realmente arrependida.

- Eu sei que você está magoada... Mas por favor, me escute. Eu entendo que você não quer me ver, mas quero tentar fazer as coisas certas.

   Alice não sabia o que dizer. No fundo, ela sabia que não seria possível simplesmente esquecer o que havia acontecido, mas uma parte dela ainda se perguntava se poderia perdoar. Afinal, o Natal sempre fora uma época de renovação, de esperanças e de novos começos, não?