92 - Carlos Sainz

212 18 0
                                    

"Não é o fim, apenas um até logo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

"Não é o fim, apenas um até logo."

***

A noite estava começando a se dissolver, e o primeiro brilho do dia já começava a iluminar o céu. A casa estava em um silêncio tenso, o tipo de silêncio que preenche os espaços com o peso de tudo o que não foi dito. Eu estava sentada na cama, os olhos fixos em minhas mãos entrelaçadas, tentando encontrar alguma forma de trazer um pouco de paz ao meu coração. Cada movimento parecia pesar mais, cada respiração parecia mais difícil. Ele estava ali, parado diante da porta, a mochila pesada pendendo de seu ombro. Sabia o que tinha que fazer, e sabia também o que viria a seguir. Mas, naquele momento, o tempo parecia ter parado.

Carlos ainda não havia dado o passo definitivo. Ele me observava, seus olhos carregados de uma tristeza que eu sentia até nos ossos, mas também de uma resignação que era impossível de ignorar. Ele sabia que aquele era o fim. Nós dois sabíamos. Mas isso não tornava as coisas mais fáceis. Era como se a dor estivesse se infiltrando por cada pedaço de nossa pele, um veneno lento, mas constante.

— Eu vou sentir sua falta — a minha voz saiu baixa, tremendo, como se, ao dizer aquelas palavras, algo dentro de mim fosse quebrar de vez. Ele não precisou dizer nada, eu sabia que ele sentia o mesmo. Mas aquilo... ainda parecia irreparável. Eu não estava preparada para essa despedida, mesmo sabendo que ela era inevitável.

Carlos respirou fundo, seus ombros se movendo levemente, como se tentasse se livrar do peso das emoções. Ele deu um passo à frente, seus olhos nunca se afastando dos meus, e, com um gesto suave, puxou uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. Seus dedos estavam tremendo levemente, como se estivessem tentando tocar cada pedaço de mim para guardar para si. Eu podia ver a luta interna nele, a tentativa de não se entregar ao desejo de ficar.

— Eu sei, eu também vou sentir sua falta. — Sua voz estava rouca, carregada com a mesma dor que eu sentia.

Olhei para ele, sem palavras, porque não havia nada que eu pudesse dizer que mudasse o que estava acontecendo. A distância entre nós sempre foi um problema. E, ao longo do tempo, ela foi se tornando um peso impossível de carregar. Eu sabia disso, mas ainda assim, aquilo me rasgava por dentro. Carlos era a minha escolha, sempre foi. Mas o que estávamos vivendo não era o suficiente. Não era suficiente para o futuro que ele tinha pela frente, não era suficiente para a vida que ambos sabíamos que precisaríamos seguir.

Eu tentei encontrar algo nos seus olhos, uma pista, uma promessa, qualquer coisa que me dissesse que ele ficaria, mas não havia nada. Apenas a compreensão mútua de que nossos caminhos estavam se separando. Ele estava indo embora e, por mais que eu quisesse, não podia detê-lo.

— Fica mais um pouco — eu disse, quase sem esperança, mas com uma urgência na voz que, acredito, ele percebeu. Eu estava tentando agarrar o que restava, tentar segurar o que estava escapando pelas minhas mãos. Mas ele não podia. Ele não podia ficar.

Carlos fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando reunir forças para não ceder à tentação de ficar. Eu sabia o quanto ele queria, assim como eu. Mas as circunstâncias estavam além do nosso controle. Ele precisava ir, e eu precisava deixá-lo partir.

— Eu... — Ele hesitou, e eu pude sentir a dor em sua voz. Ele queria encontrar as palavras certas, mas sabia que não havia mais nada que pudesse ser dito. — Eu vou voltar para você. Isso não é o fim.

Eu não sabia se ele estava falando a verdade ou se ele mesmo estava tentando se convencer de algo. Porque a verdade era que a distância seria nossa inimiga. E, por mais que ele tentasse me convencer do contrário, ambos sabíamos que o que estávamos vivendo agora não era sustentável.

Olhei para ele, tentando encontrar alguma resposta no seu olhar. Eu queria acreditar nas palavras dele, mas a realidade me dizia que não era assim. Ele iria embora, e eu ficaria aqui, esperando por um retorno que eu não sabia se aconteceria.

Eu queria mais tempo, mais momentos com ele. Eu queria mais beijos, mais sorrisos, mais toques e mais risadas. Mas a vida não esperaria. A distância não daria trégua. E, mesmo que o amor fosse grande o suficiente, não podia vencer tudo isso.

— Eu te amo, Carlos — eu sussurrei, a voz quebrada, e o vi fechar os olhos ao ouvir minhas palavras. Eu sabia que ele sentia o mesmo, mas aquilo não bastava.

Ele se inclinou para a frente, os lábios tocando os meus com suavidade. O beijo foi lento, cheio de uma emoção que transbordava para além das palavras, como se ele estivesse tentando comunicar tudo o que não podia dizer. Eu me entreguei a ele, sem pensar, sem querer mais nada além de sentir aquele momento, aquele toque, como se fosse a última vez. E, por um breve segundo, o mundo ao nosso redor desapareceu.

Quando ele se afastou, olhou-me por um instante, como se tentasse memorizar cada detalhe meu. Eu o puxei de volta, mais uma vez, querendo sentir o que restava, o que ainda existia entre nós. E ele se entregou, como se não houvesse mais nada a ser feito, como se esse fosse o fim e o começo de algo que jamais poderia ser resolvido.

— Eu te amei mais do que devia — ele sussurrou, e eu senti o peso de suas palavras no fundo do meu coração. Porque, sim, ele havia me amado mais do que qualquer coisa. Mas o que isso significava agora?

Eu não consegui mais segurar as lágrimas. Elas desceram silenciosas, uma atrás da outra, como se a dor finalmente tivesse encontrado uma maneira de sair. Eu sabia o que ele estava fazendo, sabia o quanto ele queria ficar, mas, no final, ele também sabia que não poderia. Ele tinha que ir.

Carlos deu um passo para trás e pegou sua mochila, e eu fiquei ali, sentada na cama, observando-o enquanto ele se afastava. Ele hesitou na porta, e por um momento, eu achei que ele fosse voltar. Mas ele não voltou. E, com um último olhar para mim, ele saiu, deixando-me sozinha com o vazio daquilo tudo.

O silêncio tomou conta da casa, mas dentro de mim, o silêncio era ainda mais profundo. Porque, apesar de tudo o que fizemos, do amor que compartilhamos, o que restou foi a despedida.

Eu sabia que ele me amaria para sempre, de alguma forma. Mas, mesmo assim, não era o suficiente. Ele se foi, e eu fiquei aqui, com as memórias e as promessas não cumpridas, com a saudade do que poderia ter sido.

Imagines Fórmula 1Onde histórias criam vida. Descubra agora