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Ingrid 🐆

Estava sentada na pequena parede que tem na mureta da urca, contemplando o pôr-do-sol. Esse é um dos meus lugares prediletos aqui do Rio, eu sinto um silêncio, uma paz e quando eu preciso pensar, eu sempre venho pra cá.

Hoje eu acordei com um sentimento de saudade, saudade do meu antigo amor.
Eu me perguntava, por onde ele andava, a gente não se vê a tanto tempo.

Comecei a caminhar de volta para casa, pensando em como é injusto eu não poder estar a com a pessoa que eu amo, que no fundo sempre vai ter o meu coração todo para ele, eu já me relacionei com outras pessoas, já gostei de outras pessoas, mas às vezes bate essa saudade do que eu não pude aproveitar do tanto que eu gostaria. 

Por isso que sempre dizem; existe dois amores, o amor da sua vida e o amor para a sua vida e eu vejo tanta verdade nisso! Eu tenho o amor da minha vida e queria que ele fosse o amor para a minha vida, mas é praticamente impossível, pois no meio de nós, eu e ele, existem pessoas que eu considero muito, na verdade, entre nós sempre teve alguém, que impedia que o nosso amor podesse dar em alguma coisa.

-

Silvana: meu amor, a Brenda veio aqui mais cedo, querendo saber de você, eu falei que você tinha dado uma saída, aí ela falou que voltaria mais tarde, pois ia em outro lugar e tava apressada para te esperar - minha mãe falou assim que entrei em casa, e eu já fui deixando minha bolsa em cima da mesinha e indo até aonde ela estava -

Ingrid: tá bom, mãe, ela me mandou uma mensagem,  que havia passado aqui e eu não estava, mas que viria de novo, porém ela não falou o assunto. - eu disse me sentando no sofá junto a ela -

Silvana: deve ser coisa boa, ela parecia animada - ela riu e piscou o olho para mim, e eu me perguntei o que a Bruna estava armando dessa vez. -

Passei um tempo conversando com a minha mãe, e fui para o meu quarto, estudei umas coisas que eu estava precisando estudar, enem está se aproximando e eu estava querendo tentar, eu fiz no meu último ano, mas infelizmente não fui aprovada no curso que eu queria e aí decidi ficar "de boa" estudar mais, trabalhar e aproveitar um pouco a minha vida, se tem uma coisa que eu aprendi é que eu não devo me cobrar em relação ao tempo, cada pessoa tem o seu, Deus tem planos traçados para a nossa vida e tudo acontecerá no tempo dele.

Eu passei umas duas horas estudando e depois fui tomar banho, estava um calor fora do comum hoje!

Entrei no banheiro e já dei play na minhas músicas

"...eu quero a paz do teu sorriso 
para enfeitar meu paraíso
dê uma chance não custa nada pensar
meu bem-querer
preciso te amar..."

eu cantei junto e sambei enquanto a água caia sobre o meu corpo.

Depois de um banho mega gelado, eu saí e já escutei a voz da safada da Brenda conversando com minha mãe.

Ingrid: olha quem apareceu - falei abraçando ela por trás -

Brenda: tem que aparecer né, pra vocês não morrerem de saudade de mim - nós rimos juntas, e eu falei que ia colocar uma roupa e já voltava -

Eu estava passando meu perfume, quando a Brenda entrou no quarto com aquela cara de quem vai pedir alguma coisa

Brenda: então, neguinha...- cortei ela logo -

Ingrid: Fala logo o que você quer, dona Brenda - cruzei os braços esperando ela dizer -

Brenda: vai ter uma roda de samba amanhã- ela começou a falar animada e eu me animei junto né, eu amo samba, até então, não estava vendo nenhum problema -

Ingrid: Ué, vamos né? que, que foi?

Brenda: Então, é que vai acontecer na Rocinha e sabe aquele menino? - ela disse eu e já me sentei na cama olhando pra ela -

Ingrid: Sei - falei séria -

Brenda: Então, foi ele que me chamou, nega

Ingrid: Poxa, Danda, você sabe como eu me sinto em relação a subir lá...- eu falei já me lembrando do meu pai -

Brenda: poxa, amiga, eu sei, mas tenta vai, vai ser muito legal, eu te garanto! - ela falou tentando me convencer-

Ingrid: tá bom, Danda! eu vou pensar e vou falar com minha mãe - falei e ela já veio me abraçando -

Brenda: OBRIGADA, NEGA - falou alto, me enchendo de beijo e eu comecei a rir -

Tá, mas porquê eu tenho esse medo de subir na Rocinha e em qualquer outra favela? o meu pai, ex policial, morreu em uma invasão que eles fizeram lá, isso aconteceu quando eu tinha 8 anos e desde então, eu criei esse receio das favelas, tenho
medo de subir e acontecer alguma invasão enquanto eu estiver lá, nossa senhora, tá arrepreendido.

ʀᴇᴇɴᴄᴏɴᴛʀᴏsOnde histórias criam vida. Descubra agora