O som dos passos pesados na trilha abafava qualquer outro ruído ao redor. A floresta estava envolta em um silêncio misterioso, com as árvores altas se agitando suavemente com o vento noturno. Nolan e Jhonatan, dois amigos inseparáveis desde a infância, seguiam pela trilha, rindo e conversando como se o tempo não passasse.
Nolan, com 16 anos, sempre foi o mais introvertido dos dois. Ele tinha uma aura séria e focada, e sua vida parecia estar perfeitamente controlada, com seu compromisso com os estudos e a responsabilidade que vinha com sua mãe, uma médica respeitada no hospital da cidade. Era o tipo de cara que preferia pensar antes de agir, muitas vezes até demais. Jhonatan, por outro lado, tinha 17 anos e era o oposto em muitos aspectos. Sempre carismático, espontâneo e com uma personalidade vibrante, ele sabia como animar qualquer situação. Seu pai, o Xerife Cruz, era uma figura de respeito em Silverwood, e Jhonatan sempre se orgulhou disso, embora gostasse de brincar com a autoridade e seguir suas próprias regras.
"Eu não entendo como você consegue fazer essas trilhas à noite, cara", disse Jhonatan, ofegante, enquanto dava uma olhada ao redor. A noite parecia mais densa do que o habitual.
"Você já se acostumou, Jhonatan. Tem que aprender a apreciar a paz do lugar", respondeu Nolan, ajustando sua mochila e continuando a caminhada.
O som de um telefone interrompeu a conversa. Jhonatan pegou o celular e viu o nome do pai na tela.
"É meu pai. Acho que ele quer que eu volte logo", disse Jhonatan, olhando preocupado para Nolan. "Você fica por aí? Vou pedir para ele me buscar."
"Pode deixar, eu volto para o carro depois", respondeu Nolan com um aceno de cabeça.
Jhonatan saiu rapidamente da trilha e ligou para seu pai. Enquanto isso, Nolan continuava andando, apreciando a tranquilidade da noite, mas uma sensação estranha começou a crescer dentro dele. Algo estava errado, mas ele não conseguia identificar o que.
Logo, o som de um carro quebrando o silêncio da floresta chamou sua atenção. O Xerife Cruz estava ali, dirigindo com sua presença imponente. O carro parou ao lado de Nolan, e Jhonatan desceu apressado.
"É melhor ir para casa, garoto", disse o Xerife Cruz com um tom firme. "Algo aconteceu aqui na floresta. Um homicídio."
"Uau", Jhonatan murmurou, uma mistura de surpresa e preocupação no rosto. "É sério?"
"Sim", respondeu o Xerife. "Vamos. Você vai para casa agora."
"Você quer uma carona, Nolan?" perguntou o Xerife, enquanto olhava para ele no espelho retrovisor.
"Não, eu estou de carro. Fico por aqui", respondeu Nolan, acenando.
"Então, fiquem bem. Tomem cuidado. Vou estar de olho."
O Xerife deu partida e saiu, levando Jhonatan de volta para a cidade. Nolan, porém, ficou ali, sozinho no meio da trilha. Ele olhou para o carro do Xerife, estacionado próximo ao seu, e sentiu um frio na espinha. Algo não estava certo. Os eventos daquele dia começavam a se conectar de maneira estranha e inexplicável.
Quando ele entrou em seu próprio carro para sair dali, algo peculiar chamou sua atenção. Os pneus estavam furados. Nolan, perplexo, tentou ligar o carro, mas sem sucesso. Uma sensação de pavor tomou conta dele.
De repente, um uivo distante cortou a noite. O som parecia vir de dentro da floresta, e não era um som qualquer — era profundo, primitivo, ameaçador. Nolan observou a floresta à sua frente, enquanto o vento se intensificava, e mais e mais animais apareciam, correndo em pânico, fugindo para longe. Ele sentiu um medo crescente, algo muito além da simples inquietação. A natureza estava em alerta, e o perigo estava perto.
Deitado no banco, Nolan tentou se acalmar, mas o som de um rosnado próximo fez seu coração disparar. Ele olhou pela janela e viu o gerente do estabelecimento ao longe, aparentemente em um confronto com algo. Em seguida, tiros ecoaram pela floresta.
Silêncio.
Então, algo foi jogado para fora do estabelecimento. Nolan engoliu em seco. Ele viu um ser monstruoso se aproximar, seus olhos brilhando com uma maldade indescritível. O ser sentiu a presença de Nolan no carro e começou a se aproximar, sua respiração pesada ecoando na noite. O pavor tomou conta de Nolan, e seu coração acelerou. O ser parecia perceber seu medo. Sem hesitar, ele deu um passo em direção ao carro de Nolan e, com uma força brutal, jogou o carro para frente, fazendo-o capotar violentamente.
Nolan, atordoado e sangrando, conseguiu se arrastar para fora do carro e começar a correr. Ele ouviu o ser atrás de si, cada passo sendo mais rápido, mais forte, mais mortal. Mas então, um animal que corria em pânico colidiu com o lobisomem, fazendo-o cair. Nolan aproveitou a oportunidade e correu o mais rápido que pôde, até encontrar abrigo em um condomínio próximo.
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No dia seguinte, o céu de Silverwood amanheceu cinza, sem deixar transparecer a noite aterrorizante que Nolan havia vivido. Ele se encontrou com Jhonatan na escola, mas as coisas estavam diferentes. Nolan parecia mais introspectivo, seus olhos cansados e o corpo marcado pelas cicatrizes da noite anterior.
"Eu... eu vi algo ontem, Jhonatan", começou Nolan, sem saber por onde começar. "Eu não sei se vou conseguir explicar."
Jhonatan sorriu, confiando na amizade deles, mas logo percebeu o estado de Nolan. Ele tirou sarro, mas Nolan mostrou os ferimentos no abdômen, onde uma mordida de algo selvagem estava visivelmente em sua pele.
"Você está me dizendo que foi um... lobisomem?", Jhonatan riu, mas a preocupação se misturava com o ceticismo.
"Eu não sei, Jhonatan. Eu só sei que o que eu vi... foi real. E aquilo não era humano."
Na escola, Nolan tentava se concentrar nas aulas, mas o sinal da escola soou tão alto em seus ouvidos que ele não conseguiu evitar de tapar os ouvidos. Era insuportável. Jhonatan percebeu, preocupado, e o conduziu até o local onde estavam os acessórios do time de Lacrosse. Ao se acalmar um pouco, Nolan finalmente relaxou. Mas Jhonatan, com seu senso de alerta, lembrou-se do que Nolan lhe havia contado sobre o uivo.
"Você... você está com os sintomas da licantropia, Nolan", disse Jhonatan, tentando manter a seriedade. "Eu acho que você vai se transformar."
Nolan olhou para ele, com a expressão confusa. A ideia parecia absurda, mas no fundo ele sabia que algo estava acontecendo com ele.
Após o final das aulas, Nolan, com a mente cheia de dúvidas, resolveu chamar Jhonatan para ir até o local do ocorrido na noite anterior. Mas ao chegar, descobriram que tudo havia sido consertado. O gerente do estabelecimento era outro, e a atmosfera parecia tranquila.
"Você está me dizendo que a história toda foi invenção?", Jhonatan perguntou, desconfiado.
"Não! Eu vi o que aconteceu!", Nolan insistiu, frustrado.
Eles discutiram brevemente, antes de irem para casa, e, à noite, durante o treino de Lacrosse, Nolan demonstrou habilidades surpreendentes. Ele se tornou uma estrela inesperada, surpreendendo o treinador que o colocou no time principal.
Jhonatan, preocupado, passou a noite pesquisando sobre lobisomens. Ele encontrou uma série de informações sobre licantropia e como ela se manifestava. No entanto, Nolan estava cada vez mais afastado de suas preocupações, até que, enquanto caminhava de volta para casa, algo se espreitava...
O lobisomem da noite anterior estava esperando por ele, na estrada, com fome de vingança.
A noite estava longe de acabar.
(Continua...)
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Ecos da Lua
LobisomemA noite de Silverwood, uma cidade pequena e tranquila no interior do Canadá, sempre teve sua dose de mistérios, mas nunca nada que passasse de uma simples conversa entre os moradores. Até que algo começou a mudar. Uma sombra se levantava das profund...