entre laços | tdbk- bktd |

05.

Bakugou Katsuki, pov
aquele com problemas de família

meus pés estavam descalços. e essa era a única coisa que enxergava.

estava em um corredor estreito, tão mal iluminado que as paredes pareciam ondular.
me arrependi de me mexer no primeiro passo. a madeira fazia um barulho exageradamente alto, mas foi encoberta por um pancada, seguida de gritos.

meus pés reagiram antes do meu corpo e me vi correndo entre os corredores.
eu andava em círculos, um labirinto sem fim.

mas então, lá no fundo, um feixe de luz.
me perguntei porque havia corrido tanto... sequer sei onde estou.

imaginei que fosse um sonho como tantos outros; aqueles em que me vejo como um herói, mas nada poderia me preparar pra arrastar a porta e ver um cenário de destruição.

no canto do cômodo, um garotinho de cabelos bicolores se arrastava até encostar na parede. balançava as pernas em agonia e desespero.
em vão, tentava proteger seu rosto.
ele chorava. gritava.

a figura em sua frente, alta, forte, o dobro do meu tamanho, andava em sua direção de forma tão intimidante que eu, tendo pra onde fugir, me sentia sufocado.

não sei o que aquele homem dizia, suas palavras chegavam como gritos desconexos em meus ouvidos, mas em nada mudava que ele estava sendo agressivo.

tentei andar até o menino.
eu quero... não, eu preciso protegê-lo.

um passo.
cambaleei e dolorosamente, acertei a parede.

dois passos.
caí e a pressão em minhas costas mal me deixava levantar.

continuei em passos vacilantes.
só mais um pouco...
o chão abriu em meus pés.

[...]

a sala de treinamento não estava nada silenciosa, cheirava a suor e um toque metálico de sangue. dava pra ouvir as respirações falhas e os gritos de Endeavor.
a tensão entre mim e o Todoroki mais novo era quase palpável, lutávamos nos encarando sem desvios. quase dava pra sentir uma corrente elétrica passando entre nós. 

o meio a meio começou a prever meus movimentos, quanto mais cansado eu ficava. começou a ser inútil tentar golpeá-lo.
impressionante que não foram muitas as vezes que lutamos no corpo a corpo e mesmo assim, sou muito bom nisso.

-mais forte! —Endeavor gritou, nos rodeando.

sua voz não me deixava pensar.

-mais!

impulsivo, desferi um golpe muito mais forte em direção as costelas de Todoroki, que não teve tempo a desviar e caiu no chão, de joelhos e tossindo.

-levanta! —Endeavor parou a centímetros dele.
notei o braço do mais novo tremendo, pela força que fazia. ele não reagiu ao grito do pai.

-Shoto! levanta! —sua voz saiu mais densa; dei um passo pra trás, hesitante.
na verdade, queria me aproximar. perguntar se tava tudo bem, a ordem que recebi foi outra. paralisou meu corpo por inteiro.

-Bakugou, acabe com isso. —ele não soava como um herói.

olhei pra baixo, no tatame, o mais novo ali recuperou o fôlego, estava prestes a levantar.
na minha cabeça, eu conseguia visualizar o momento em que eu viraria um chute em seu rosto. ele desmaiaria.
Endeavor ficaria orgulhoso.

-não estamos lutando de verdade. —tirei os olhos do meio a meio.

acho que isso chateou o herói, já que prolongou nosso treino por mais algumas horas.