A estrela já nasce no horizonte da cidade que se assenta sobre sete colinas, colorindo o soturno céu negro com a sua luz amarelada que dança acompanhada das nuvens lilases, entretanto os raios luminosos não atravessam as densas cortinas do quarto do Remus.
A escuridão é a única companheira do Romulus, que está ajoelhado na beira da cama onde está o cadáver de seu irmão. Lágrimas continuam teimosamente escorrendo de seus olhos e sua respiração é falhada. Ele segura na mão fria de Remus, apertando firmemente, e solta imediatamente quando uma batida na porta o assusta.
Romulus limpa suas lágrimas e se levanta, indo abrir a porta. A abrupta mudança de iluminação o faz fechar os olhos rapidamente e, em um efêmero instante, ele retorna às suas feições frias, observando a doutora diante dele com seu olhar mais aterrorizante que o costumeiro e acompanhados de olheiras.
— Sua Majestade — faz uma reverência — Estou aqui para realizar a autópsia — Romulus fecha a porta.
A doutora bate na porta, de novo, de novo, de novo.
— Eu não permitirei.
— É necessário e é um procedimento obrigatório de acordo com a lei — bate na porta.
— Eu sou a lei — a doutora suspira.
— Sua Majestade, é pelo bem de seu próprio irmão. Se a morte dele não foi natural, podemos prosseguir com uma investigação.
— Eu não permitirei que ninguém toque em meu irmão.
— Sua Majestade… — a porta é aberta bruscamente, e a doutora olha para cima, encontrando com o olhar sombrio do imperador — Perdoe-me.
— Prossiga com o seu trabalho — passa direto pela doutora.
Romulus caminha pelos vastos corredores de mármore branco de seu novo palácio. O piso reflete a amarelada luz de Calvera, que é parcialmente dispersa na pedra, como se estivesse iluminando a superfície de um lago. O céu resplandece atrás das janelas, exibindo sua deslumbrante tonalidade azul que dança com nuvens liláses.
Ele sobe os degraus de uma escada, chegando ao terraço que é agraciado por uma suave brisa fresca. Um “jovem” loiro que veste um longo manto negro o aguarda, observando o nascer da estrela sobre o horizonte adornado pelas ruínas do incêndio que quase alcançou esta área da cidade, próximo de uma vasta janela. Romulus se senta ao lado dele, atraindo a atenção do bruxo.
— Bom dia — Focalor cumprimenta o imperador, sorrindo.
— Bom dia — retribui com a tonalidade de voz desanimada, como a pertencente a um morto-vivo.
— Encontrou o Magnus?
— Enviei a Exousía e alguns de meus militares. Eles ainda não retornaram.
— Ela é competente, é certeiro que houve avanços.
— Obteve informações dos príncipes?
— Sim, entretanto meu amigo ainda permanece com a investigação dele.
— Descobriram o quê? — seu olhar, outrora pesado de sono e perdido no horizonte, se abre e concentra-se no Focalor.
— Que eles estão com o rei Davi, quem havia derrubado os aviões naquele dia; possuem um ex-bruxo talentoso como aliado, um conhecido meu; e, com alguns aliados, se infiltraram na sua base militar de Caelum, a comandada pelo tenente Laurentius.
— Possui informações sobre o plano deles? O quão avançado eles estão?
— Quatro dos cinco militares que foram contratados recentemente são do grupo deles.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Julgamento do Carrasco
FantasíaA remanescente chama de bondade se apagou no coração dos depravados terráqueos e o Ankou tomou a responsabilidade de executar a sentença merecida pela perversa espécie humana. Ninguém escapava de seu juízo e ele também não escapou do julgamento de s...