Capítulo 45: Epilogo

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Era tão confuso. Minha mente oscilava entre o vazio e lampejos de consciência, como uma TV tentando sintonizar um canal. Eu sentia os solavancos intensos, os movimentos rápidos e descoordenados que me faziam oscilar para frente e para trás. O mundo ao meu redor parecia girar, se contorcer em uma dança estranha que me deixava completamente desorientado.

As vozes vinham de todos os lados, abafadas, distantes, como se alguém tentasse gritar comigo através de uma parede espessa de vidro. Elas eram urgentes, carregadas de emoção, mas seus significados escapavam de mim. Eu sabia que estavam tentando me dizer algo importante, algo que eu precisava ouvir, mas era impossível entender. Parecia que eu estava preso em uma bolha, separado de tudo e de todos.

Tentei abrir os olhos, mas a visão vinha em flashes borrados, manchas de luz e sombra que não faziam sentido. Minha cabeça latejava, o som do meu próprio coração era um tambor surdo em meus ouvidos. Era como estar à deriva, perdido em um mar de caos e ruído.

De repente, uma luz ofuscante me tirou daquele caos. Quando abri os olhos, minha visão turva revelou as paredes brancas e estéreis de um quarto de hospital. O cheiro de álcool e medicamentos preencheu o ar, me trazendo de volta à realidade. Aquele seria meu novo lar naquele instante. Mas eu não tinha tempo para processar o que estava acontecendo. Assim que percebi onde estava, uma única imagem tomou conta da minha mente: Roger.

Roger? Onde está o Roger? — minha voz saiu fraca, mas cheia de urgência, enquanto eu me esforçava para me sentar.

Foi então que notei a figura de meu avô. Ele se aproximou devagar, o olhar cansado e triste, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. Ele não precisou dizer nada de imediato; seu silêncio já era um aviso cruel. Mas, mesmo assim, ele abriu a boca, e suas palavras vieram como facas afiadas rasgando minha alma.

Sinto muito, garoto... Ele se foi.

O mundo ao meu redor pareceu desmoronar. As palavras dele ecoaram como um trovão, acertando meu coração em cheio. O amor da minha vida estava morto.

Não... Não pode ser. — balbuciei, mas a negação não tornava aquilo menos real.

Meus olhos se encheram de lágrimas, e antes que pudesse me conter, o pranto tomou conta de mim. Agarrei-me às cobertas, puxando-as para perto como se fossem uma armadura contra a dor insuportável que me consumia. Meu avô não disse mais nada. Ele apenas me envolveu em seus braços, um abraço firme, como se quisesse me segurar enquanto eu desabava por completo.

As memórias de Roger começaram a vir, nítidas, como se ele estivesse ali, sussurrando em meu ouvido. Palavras tão doces, tão dele.

"Eu... sinceramente, não sei se seria capaz de ser feliz novamente, de qualquer forma."

Eu lembrava do nosso último diálogo, e as lembranças eram como punhais cravados fundo em mim.

"Nem se fosse pra vingar minha morte?" — Eu tinha insistido, apenas curioso.

"Principalmente se alguém te matasse. A verdade é que, sem você, nada mais faria sentido, nem mesmo a vingança."

As palavras dele voltaram com força total, atingindo meu coração como um golpe gentil, mas devastador. Agora eu entendia. Ele estava certo. Sem ele, o mundo parecia vazio, o ar pesado, a dor insuportável. Nada mais fazia sentido.

E ali, nos braços do meu avô, afundei ainda mais na agonia de saber que jamais ouviria sua voz novamente, jamais sentiria seu toque ou o calor reconfortante que ele transmitia com um simples abraço. Tudo aquilo que eu amava, que fazia o mundo ter sentido, agora estava perdido. Roger não estava mais comigo. E a pior parte disso era saber que nunca estaria de novo. Ele se foi, e levou consigo uma parte de mim que eu jamais recuperaria.

As horas passaram lentamente, o peso do silêncio do quarto de hospital tornando tudo ainda mais insuportável. Mesmo tentando fechar os olhos, tentando buscar algum alívio no sono, minha mente não me deixava descansar. Toda vez que eu os fechava, ele estava lá.

Eu via seu rosto, mas não o rosto sorridente e cheio de vida que eu amava. Era um rosto morto, pálido e imóvel, entrecortado pelas memórias daquele sorriso encantador que ele sempre carregava. O contraste era como uma lâmina afiada, rasgando minhas emoções.

E, como um fantasma que se recusava a partir, aquela maldita máscara de demônio surgia em minha mente. O olhar frio e inumano do invasor, os movimentos calculados e cruéis, e o som do disparo que mudou tudo. Era como se ela estivesse impregnada em mim, uma marca que nunca mais sairia.

Eu não conseguia escapar. Não da dor, não da culpa, e muito menos daquela máscara. Ela parecia me observar mesmo na escuridão do meu quarto, como uma lembrança cruel do que eu tinha perdido. E enquanto as horas arrastavam-se, um pensamento crescia em mim, devorando qualquer resquício de razão:

Eu não podia deixar isso assim.

Olhei para o meu avô. O peso da dor, da culpa e do ódio já era insuportável. Eu não aguentava mais viver com aquelas imagens na minha cabeça, com aquela máscara maldita me assombrando a cada segundo. Estendi a mão trêmula e segurei a dele. Ele estava ao meu lado, me olhando com seus olhos cheios de preocupação e cansaço.

Vovô... — minha voz saiu quase como um sussurro, mas carregava uma força que eu não sabia que ainda tinha. — Quero sua ajuda.

Seus olhos franziram ligeiramente, analisando meu rosto, como se tentasse entender o que eu estava pedindo.

Com o que, meu neto?

Respirei fundo, engolindo o nó na garganta. Não havia hesitação em mim. Não mais.

Quero que me treine de novo. Quero encontrar aquele desgraçado. Quero olhar nos olhos do assassino do Roger... quando eu matá-lo.

As palavras saíram frias, carregadas de uma determinação sombria que eu nunca havia sentido antes.

O rosto do meu avô endureceu, os olhos dele agora sérios, avaliando cada palavra que eu tinha acabado de dizer. Ele ficou em silêncio por um momento, deixando a gravidade do que eu havia pedido pairar no ar. Eu sabia que ele entendia o que aquilo significava, sabia o que eu estava pedindo para ele fazer.

E, mesmo assim, ele apertou minha mão, forte, e deu um leve aceno com a cabeça.

Se é isso que você quer... então nós vamos fazer.

Aquele foi o momento em que tudo mudou. Eu não era mais apenas uma vítima. Eu era alguém que iria caçar o monstro que destruiu minha vida.

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