Uma forte frente fria atingiu toda a cidade quando Novembro chegou.
Embora estivesse agasalhada, Mabel estremeceu quando uma forte corrente de ar entrou pela janela e inundou a sala de aula. Ela bateu a ponta da caneta no caderno aberto, não deixando que a interrupção inesperada lhe tirasse a atenção do professor. Terça-feira ditava a data do calendário e a rotina corriqueira de aulas estava de volta a todo vapor, mesmo que a maior parte dos estudantes que Mabel havia visto pelo campus parecessem estar de ressaca da noite anterior e com os olhos mal abertos.
Quando o professor terminou a aula e começou a limpar o quadro, Mabel estava terminando as anotações adicionais em sua agenda quando a voz dele retornou, anunciando um novo trabalho para o último semestre.
O trabalho seria em duplas, e Mabel torceu o nariz para o anúncio. Embora ela não tivesse nenhum conflito com seus colegas de classe, não era próxima de nenhum além de raras conversas casuais.
— Oi — a garota de fios castanhos e médios a saudou, cautelosamente, enquanto Mabel se levantava para ir até a próxima aula. Mabel a conhecia de vista, sempre com canetas rosas de pompons na ponta. E embora provavelmente estudasse com ela desde o primeiro ano, Mabel só veio ter a ciência que seu nome era Zoe quando o professor a anunciou como sua dupla para o projeto.
— Oi — Mabel respondeu, ajeitando a mochila nas costas.
— Ahn… — ela hesitou, parecendo estar reunindo coragem. Mabel se questionou se parecia tão inacessível e intimidante como lhe diziam — Poderíamos trocar números para falarmos sobre o projeto?
— Claro — Mabel concordou, tirando o celular do bolso.
Depois que terminaram, a garota agradeceu com um sorriso e se despediu. Mabel devolveu com um aceno, observando-a sair pela porta antes de seguir seu percurso.
Ela saiu pela porta e caminhou pelos corredores largos e cheios de estudantes, ainda com o celular nas mãos. Ela ergueu o objeto sutilmente, observando as ligações perdidas que não parava de receber. Mabel sabia que era errado ignorar o mundo que existia fora da bolha invisível que ela mantinha em volta de si, mas não se importava muito em estar sendo egoísta naquele momento. Já havia deixado que ultrapassassem seus limites tantas vezes, invadindo seus próprios sentimentos e vontades que, agora, ela queria se deixar permitir ser egoísta só mais um pouco.
Assim, Mabel desligou o celular e o guardou no bolso.
Seu estômago estava começando a dar indícios de estar vazio quando ela entrou na sala da próxima aula, onde seus olhos percorreram por todos os assentos, procurando, mesmo que inconscientemente, um certo loiro irritante de sardas. Os ombros de Mabel murcharam sutilmente quando ela não o encontrou em lugar nenhum.
Mabel caminhou até o assento onde geralmente se sentava, pondo a mochila em cima da mesa. A sala começou a encher gradativamente à medida que o tempo passava, e ela logo conseguiu reconhecer a cabeleira loira que passou pela soleira da porta.
Ele vestia calças jeans largas e um suéter verde, tão diferente da forma que Mabel o havia visto na noite passada.
Quando os olhos dele a encontraram, mesmo que de longe, Mabel viu o vislumbre de algo suave, fugaz demais para ser percebido, passar por todo o rosto dele. Oliver se moveu entre as pessoas, desviando das silhuetas e ignorando alguns olhares curiosos que lançavam sobre ele pelo caminho até o seu assento. Ele propositalmente passou pela cadeira dela, lançando uma piscadinha atrevida, daquele jeito sorrateiro que ninguém além deles poderia saber.
Mabel desviou os olhos e tentou fazer com que a anomalia em seu corpo, aquela agitação esquisita em seu estômago e em seu coração, cessasse antes que a aula começasse.
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Entre competições e acordes de guitarra
RomanceMabel Campbell, a garota mais inteligente de toda a faculdade - de acordo com a lista de melhores notas do ano - possui uma pedra no sapato. Ele se chama Oliver Cooper, o garoto de argolas pratas, sardas no rosto e um inconfundível ego. O maldito l...