Capítulo VI

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Capítulo VI:
"O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente...
- Mario Quintana"

Não soube quando, ou como, mas quando Wallace piscou seus olhos, ele já estava dentro do carro de seu pai, na segunda feira de manhã, indo em direção a cidade, à escola. Sua cabeça estava vazia, seu corpo leve e seus olhos lutavam para continuarem abertos. Os remédios que tomara durante a madrugada faziam efeito agora, e durariam até a tarde daquele dia. Wallace havia levantado cedo demais, se esguiado para a cozinha e engoliu aquelas cápsulas enquanto se sentava na varanda fora de casa, em uma poltrona com um cobertor ao seu redor, vendo o sol nascer de pouco a pouco. Ele já estava com suas roupas e a mochila ao seu lado quando desceu as escadas, seu pai saltou ao o ver ali quando fora fumar seu cigarro, o xingou antes de o acender e o deixou ali quando voltou a entrar na casa a fim de fazer o café da manhã.

Wallace não tomou café, nem mesmo comeu, não sentiu fome, talvez por causa dos remédios, mas não se importou. Ele criará esse mecanismo depois que sua mãe se fora, certas situações eram piores vivenciar sóbrio, a indiferença e falta de reação era necessária, ele precisava sentir aquilo, não sentir nada. Seu pai não disse palavra alguma, mas sua expressão mostrava que ele não concordava, porém para Wallace, sua opinião era irrelevante.

Ele notou o prédio surgindo em meio aos pequenos prédios da cidade, o campus verde a sua frente mostrava vários alunos chegando, alguns deles de carro ou o onibus, outros vinham de bicicleta ou moto, outros andavam descontraídos. Eles riam, conversam entre si, grupos variados de estéticas diferentes, amigos e conhecidos, amantes e famílias. Wallace odiaria aquilo se ele estivesse no seu normal, mas vendo aquelas cenas, apenas olhou para um ponto morto, esperando seu pai estacionar.

   - Eu vou te buscar as 14h, a diretora insistiu que você tivesse uma reunião de boas vindas com alguns conselheiros a 13h e após os acontecimentos anteriores na cidade, agora é obrigatória fazer uma visita a psicóloga da escola. – Seu pai falava ao conseguir finalmente colocar seu carro em uma vaga em frente ao campus. – Isso apenas hoje, amanhã te busco no horário normal. Você pegou seus papéis? O número da sala e o horário?

  - Psicóloga? – Wallace encarou seu pai.

  - Ela disse que muitos alunos sofreram quando seus colegas sumiram, ou quando alguns deles apareceram...mortos. – Seu pai suspirou. – É só uma vez no mês, e talvez isso te ajude.

  - Sabe o que vai me ajudar? – Wallace encarou o campus, abrindo a porta do carro e colocando um de seus pés pra fora. – Voltar no tempo.

Seu pai ficou em silêncio, deixou que seu filho saísse e o deixasse sozinho ali, o encarando sumir pelo campus. Wallace caminhou em direção a escadaria encarando seus pés, deixou que os outros o encarassem e cochichassem, seus olhos sem foco o guiaram em direção a entrada da escola, e só deixou de encarar o piso quando precisou pegar um papel em seu bolso e verificar onde era sua sala.

   - Segundo ano? – Uma voz familiar surgiu atrás de si, e Wallace tomou um susto ao ouvi-la tão perto de seu ouvido, se virando rapidamente para encarar a figura.

Atrás de si, vestindo roupas totalmente pretas e cheia de pulseiras e colares entalhados, com mechas azuis desbotadas e um sorriso frouxo, a mesma menina que antes falou com Wallace a primeira vez que ele fora a escola, estava parada ali. Wallace teve que forçar sua mente a trabalhar, em processo lento ele falhou duas vezes antes de sua voz voltar a si.

   - Mia? – Ele perguntou incerto.

   - Em pessoa. – Ela respondeu, se aproximando outra vez de Wallace e olhando o papel em sua mão. – Você não tá meio atrasado? Deveria estar no terceiro ano. Deixa eu adivinhar, acampamento de estudos?

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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