12: Aventura

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Minha mãe estava parada na porta da cozinha, com os braços cruzados e uma expressão que misturava cansaço e curiosidade. Ela usava um robe claro e tinha uma xícara de chá entre as mãos, mas parecia mais atenta à nossa presença do que ao conteúdo da xícara. Seus olhos passam de mim para Valentina e, finalmente, para nossas mãos entrelaçadas.

Valentina, com sua confiança habitual, manteve o sorriso enquanto apertava levemente minha mão antes de soltá-la. A sua calma parecia um desafio, um contraste gritante com o turbilhão de emoções que começava a se formar em meu peito.

— Boa noite, dona Helena. — O sorriso de Valentina era educado, mas havia algo em seus olhos, um brilho que eu não conseguia decifrar.

Eu me esforcei para manter a compostura, mas meu rosto queimou. Como sempre, minha mãe estava a milímetros de perceber mais do que eu queria mostrar.

— Oi, mãe. A gente estava... estudando. — Eu tentei soar casual, mas a tremor na minha voz entregou tudo. Eu podia jurar que minha mãe sentia o desconforto no ar.

Ela ergueu uma sobrancelha, sua expressão inconfundível de quem não se deixa enganar tão facilmente.

— Estudando? É isso que estão chamando agora? — Perguntou, cruzando os braços, os olhos perscrutando a cena com uma precisão desconcertante. — Imagino que vocês tenham uma boa razão para estar descendo as escadas às escondidas.

Valentina, com seu sorriso mais cativante, respondeu com uma tranquilidade que só aumentou a pressão no meu peito.

— Na verdade, dona Helena, achei que Luiza precisava de um pouco de ar fresco.

Minha mãe olhou para Valentina, sua expressão de ceticismo não disfarçada. A falta de convencimento estava estampada em seu rosto.

— Ar fresco às onze da noite? — Ela perguntou, o tom carregado de uma ironia que só ela conseguia fazer soar tão natural.

— Sempre é um bom horário para respirar um pouco, não acha? — Valentina rebateu, mantendo um tom leve, mas com um brilho provocador em seus olhos, como se estivesse brincando com a tensão no ar.

Eu sentia minha respiração acelerar enquanto olhava para minha mãe, que agora parecia nos examinar, tentando decidir se queria mais uma explicação ou se estava apenas se divertindo com o que via.

— Mãe, eu... só íamos dar uma volta rápida. Não vamos demorar. — Falei, agora com um pouco mais de firmeza, mas minha voz traiu a nervosismo. O que aconteceria se ela realmente soubesse a verdade?

Ela permaneceu ali, observando-nos com uma paciência que só tornava o momento ainda mais tenso. O silêncio entre nós foi quase insuportável. Eu podia ouvir o leve som da xícara de chá se mexendo nas mãos dela.

Finalmente, ela balançou a cabeça, o queixo erguido em uma expressão que me era familiar. Ela estava decidida, mas não necessariamente convencida.

— Tudo bem. Mas quero você em casa em uma hora, Luiza.

Minha mãe lança um último olhar em nossa direção antes de voltar para a cozinha, o som dos seus passos ecoando pela casa. O peso do silêncio entre nós só aumenta quando ouvimos a porta se fechar atrás dela, deixando-nos sozinhas.

Valentina se vira para mim, o brilho divertido em seus olhos ampliando o sorriso em seu rosto. Ela parece completamente à vontade, como se a interação com minha mãe fosse mais uma daquelas situações em que ela sabe exatamente como se comportar.

— Acho que já passei no teste da sogra. — Ela diz, a voz suave e cheia de um tipo de provocação sutil.

Eu respiro fundo, tentando manter a calma, mas não posso evitar o sorriso que aparece nos meus lábios.

Atrávez na minha janela (Em Revisão, sujeito a Mudanças)Onde histórias criam vida. Descubra agora