Capítulo XI

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Cecília colocou o plano — difícil e totalmente perigoso —, em prática. Logo, o noivado com o maldito fazendeiro foi efetivado e a data do casamento, marcada.

Mamãe estava feliz, muito feliz.

A carta que seria enviada ao bispo para a minha transferência, ficou no fundo de uma gaveta. Não ousei pegá-la, rasgá-la ou queimá-la. Ela estava ali e permaneceria ali, porque, de alguma forma, servia como aviso.

Por dias e noites sem fim, meditei sobre o que fazer. Enquanto a data do casamento se aproximava, eu cogitava inúmeras formas de finalizar aquela novela.

Mas, Cecília surgiu certa noite, na janela do meu quarto. Quando a abri, mal pude acreditar no que avistava.

— O que houve?

— Tenho péssimas notícias, Charlie.

— O velho abusou de você? — gelei os ossos e peguei as mãos pequenas e frias de Cecília.

— Não! Mas uma tragedia se anuncia.

— O que há?

— Estou grávida!

— Grávida?

— E você sabe quem é o pai dessa criança. Não me peça para abortar. Sou incapaz de cometer tal crime novamente.

— Jamais pediria algo assim para você, Cecília. Mas, então... — lacrimejei. — Essa criança é minha?

— Sim. Nossa! Não sei como explicarei para o fazendeiro, pois a criança terá que ser gerada por ele, se me entende. Os planos de fugir da consumação do ato, precisa ser repensada. Para piorar, a criança nascerá com uma diferença de tempo gestacional, se pode me entender. Ele não acreditará que nasceu prematura, quando verificar que a criança jaz em plena saúde, se Deus assim desejar que o filho de um pecado como o nosso, vingue.

— Não sei o que dizer, nem o que pensar. Eu não quero que se deite com aquele sujeito.

— Não tenho escolha.

— Você pode falar que dormiu com meu irmão.

— Charlie. Ele ficaria possesso e pior, sua mãe descobriria a nossa mentira. O casamento será no sábado. Eu não tenho escolha. Devo me deitar com ele e assim, dizer que o filho é fruto dessa maldita noite de núpcias.

— Não! Apenas espere. Eu vou pensar em algo.

— Três meses, Charlie. Não evoluímos em nada nas nossas estratégias. Você é refém da sua mãe, admita. Você tem medo. Eu entendo. Eu realmente sabia que essa história acabaria de uma forma ruim. E que eu seria a mais prejudicada. Sempre as mulheres são prejudicadas nessas situações.

— Aguente mais um pouco. Por favor. Eu não vou abandonar nosso filho, nem você.

— Você já nos abandonou, Charlie. Eu entendo suas razoes e nunca esperei nada em troca. Se tranquilize. Eu seguirei sendo esposa daquele idiota e criarei nosso filho com muito amor. Ele, um dia, saberá quem é o pai dele. Garanto.

Ela virou as costas e não me atrevi a gritar.

...

O sábado nasceu mais fúnebre que o habitual na Terra da Poeira. Para minha surpresa, chovia timidamente, como se os céus soubessem da minha dor. Mamãe arranjou as coisas na igreja, colocou vasos de flores no altar, esticou toalhas novas, bordadas por suas mãos habilidosas.

Eu estava em completa inercia, sentado na primeira fileira de bancos, nem piscar direito eu conseguia. Em duas horas, Cecília entraria naquela igreja, vestida de noiva, porque as viúvas podem se casar novamente. Minha mente estagnava quando eu imaginava que abaixo do vestido, em seu ventre, crescia nosso filho.

Holy Water - Nicholas Alexander Chavez fanfic - PT-BROnde histórias criam vida. Descubra agora