Capítulo 4: Jogos de Caça

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A adrenalina corria como um rio pelas veias de Miguel e Ana enquanto fugiam pelo labirinto de becos e ruas desertas. O som dos passos de seus perseguidores ecoava atrás deles, misturado às vozes abafadas que gritavam ordens. A cidade parecia conspirar contra eles: a escuridão oferecia esconderijos, mas cada sombra podia ser uma armadilha.

Miguel puxava Ana pela mão, guiando-a como se conhecesse aquele terreno de cor. Ele sabia que não podiam parar, nem por um segundo. A respiração de Ana era pesada, quase ofegante, mas ela não reclamava. Seus olhos estavam arregalados, fixos na figura de Miguel, confiando cegamente que ele a levaria para fora daquele pesadelo.

— Para onde estamos indo? — Ana finalmente perguntou, sua voz abafada pelo esforço.

Miguel não olhou para trás. Seus olhos estavam fixos numa saída estreita à frente, um espaço entre dois prédios onde uma escada de metal subia até o telhado.

— Lá em cima! — gritou ele, sem parar de correr. — Temos que ganhar vantagem de terreno!

Chegaram à base da escada. Miguel fez sinal para Ana subir primeiro. Ela hesitou por um momento, olhando para ele, mas a urgência em seu olhar era impossível de ignorar. Ela começou a subir, seus pés escorregando nos primeiros degraus enferrujados. Miguel virou-se para cobrir a retaguarda, sacando uma pistola velha que mantinha escondida no cós da calça.

Os passos dos perseguidores estavam cada vez mais próximos. Ele podia ouvir suas vozes, baixas e disciplinadas, avançando como uma unidade de caça. Não eram simples criminosos; isso estava claro agora. Esses homens eram treinados, organizados — e estavam atrás deles como predadores atrás de presas.

Quando o primeiro homem surgiu no beco, Miguel atirou. O som da bala ecoou como um trovão na noite, e o atacante se jogou para trás, buscando cobertura. Não era sua intenção matá-los — não ainda. Ele só precisava de tempo para fugir.

— Vai logo, Ana! — gritou Miguel, subindo os degraus atrás dela.

No topo do prédio, o vento chicoteava seus rostos, e a vista da cidade se estendia como um mar de luzes e sombras. Miguel olhou ao redor, procurando uma rota de fuga. Não havia tempo para pensar; os homens já estavam subindo atrás deles.

— Vamos pular para o próximo prédio — disse ele, apontando para uma estrutura um pouco mais baixa à frente.

Ana olhou para o vão entre os prédios, os olhos arregalados.

— Isso é loucura! E se não conseguirmos?

Miguel segurou seu braço, seu tom era firme, mas com um fio de compaixão.

— Não temos escolha. Confie em mim.

Ela assentiu, respirando fundo. Miguel tomou a dianteira, correndo e saltando com um movimento fluido. Ele caiu do outro lado, rolando para amortecer o impacto. Ana hesitou, seus pés enraizados no concreto, mas ao ouvir os passos dos perseguidores tão próximos, reuniu toda a coragem que tinha e saltou.

Ela quase não conseguiu. Suas mãos escorregaram na beirada do prédio, e por um momento, parecia que iria cair. Miguel correu e a segurou, puxando-a para cima com esforço.

— Está bem? — perguntou, olhando fundo em seus olhos.

Ana apenas assentiu, respirando com dificuldade, mas a expressão de gratidão em seu rosto dizia mais do que palavras.



Finalmente, encontraram um alçapão que levava ao interior do prédio. Era um antigo complexo industrial, com maquinário velho e uma camada de poeira cobrindo tudo. Miguel trancou o alçapão atrás deles, usando uma corrente enferrujada que encontrou ali.

— Isso deve nos dar alguns minutos — disse ele, mais para si mesmo do que para Ana.

Ana desabou numa cadeira velha, tentando recuperar o fôlego. Seus olhos estavam fixos no chão, mas sua mente estava a mil.

— Quem são esses homens, Miguel? — perguntou, quebrando o silêncio. — E por que estão tão determinados a nos pegar?

Miguel se encostou numa parede, passando a mão pelos cabelos suados. Ele queria dar uma resposta que a tranquilizasse, mas a verdade era que ele também não sabia exatamente com quem estavam lidando.

— Eles não são amadores, isso é certo — respondeu. — E se estão atrás de nós com essa intensidade, significa que estamos muito próximos de algo importante.

Ana levantou a cabeça, seus olhos brilhando com uma mistura de medo e determinação.

— Então precisamos descobrir o que é, antes que eles nos encontrem de novo.

Miguel sorriu de lado, admirando a coragem que ela estava começando a demonstrar. Mas antes que pudesse responder, um som distante os interrompeu: o ruído de botas pesadas no concreto do andar inferior.



— Eles nos acharam... — murmurou Ana, levantando-se rapidamente.

Miguel fez sinal para que ela ficasse em silêncio, os olhos fixos na escada que levava ao andar onde estavam. Ele verificou sua pistola: apenas três balas sobrando. Não seria suficiente.

Ele olhou ao redor, tentando encontrar alguma vantagem no ambiente. Sua mente trabalhava rápido, analisando as possibilidades.

— Precisamos separá-los — disse, sua voz baixa, mas carregada de urgência. — Se eles vierem em grupo, estamos acabados. Vou distraí-los. Você segue para a saída que vimos mais cedo, entende?

— Não vou te deixar aqui! — Ana respondeu, a voz quase se quebrando.

Miguel segurou seus ombros, olhando-a nos olhos.

— Você precisa confiar em mim. Não vou deixá-los me pegar. Mas se ficarmos juntos, eles vão nos encurralar.

Ela hesitou, mas finalmente assentiu, os olhos marejados.

— Cuidado, por favor.

Miguel apenas sorriu, um sorriso triste, antes de desaparecer nas sombras. Ana observou enquanto ele sumia, sentindo um peso no peito que ela não conseguia explicar.

Miguel desceu silenciosamente para o andar inferior, movendo-se como um fantasma. Ele sabia que estava em desvantagem, mas também sabia que precisava ganhar tempo. Os homens estavam se movendo em formação, suas lanternas cortando a escuridão. Miguel segurou a respiração, esperando o momento certo para agir.

Do outro lado do prédio, Ana seguia pelo caminho indicado. Cada passo parecia um teste de coragem, cada sombra uma ameaça iminente. Ela ouviu um tiro distante, seguido por gritos, e seu coração quase parou. Mas ela continuou, sabendo que não podia fraquejar agora.

O capítulo termina com Miguel enfrentando os homens, usando sua inteligência e habilidades para confundi-los, enquanto Ana encontra uma possível saída. A tensão permanece no ar, deixando a dúvida sobre o destino de ambos.

A Última TestemunhaOnde histórias criam vida. Descubra agora