A noite parecia se arrastar enquanto Ana seguia pelo corredor mal iluminado do complexo industrial. Cada som — o ranger de uma viga velha, o gotejar de água em algum canto escuro — fazia seu coração disparar. Miguel havia lhe dito para encontrar a saída, mas agora, sozinha, ela se sentia vulnerável. E culpada. Ele ficara para trás para protegê-la.
Ana passou por uma janela quebrada e, por um momento, parou para olhar a cidade lá fora. As luzes tremulavam à distância, um contraste com a escuridão sufocante ao seu redor. Mas algo dentro dela dizia que não podia simplesmente fugir. Ela sabia que Miguel estava arriscando tudo para ganhar tempo, e a ideia de deixá-lo para trás era insuportável.
"Não vou abandoná-lo", pensou, virando-se para voltar.
Miguel estava agachado atrás de uma velha máquina industrial, os olhos atentos aos movimentos dos homens que o perseguiam. As luzes de suas lanternas cortavam a escuridão em feixes incertos, e suas vozes sussurradas carregavam uma tensão palpável. Miguel contou pelo menos quatro deles, espalhados pelo piso abaixo.
Ele apertou o cabo da pistola, ainda sentindo o peso das poucas balas que restavam no tambor. Precisava ser inteligente. Mirar na confusão, não no confronto direto. Pegou uma chave de fenda enferrujada que encontrou no chão e, com um movimento rápido, jogou-a para o outro lado do galpão. O som metálico reverberou pelo espaço vazio, e como esperado, os homens viraram suas atenções para lá.
— Movimento ao leste! — uma voz firme soou.
Dois deles correram em direção ao barulho, enquanto os outros se moviam com mais cautela. Miguel aproveitou a distração para se esgueirar pelo lado oposto, seus passos quase silenciosos no concreto. Ele sabia que estava ganhando segundos preciosos, mas ainda assim sentia o peso da perseguição.
Ana não foi muito longe antes de ouvir os tiros ecoando pelo prédio. Seu corpo congelou por um instante, mas, em seguida, começou a se mover em direção ao som. Cada passo parecia uma decisão contra a razão, mas algo dentro dela dizia que Miguel precisava dela tanto quanto ela precisava dele.
Ela encontrou uma escada que descia para o andar inferior. Suas mãos tremiam enquanto segurava o corrimão frio e enferrujado. Ao alcançar o térreo, viu as luzes das lanternas varrendo o espaço à frente. Ana prendeu a respiração, espiando pela lateral de uma velha estrutura metálica.
— Certo, Miguel... onde você está? — ela sussurrou para si mesma.
De repente, um braço forte a puxou para trás, e ela quase gritou, mas uma mão cobriu sua boca. Ela virou a cabeça para encontrar os olhos intensos de Miguel.
— O que você está fazendo aqui? — ele sussurrou, o tom de sua voz carregado de surpresa e preocupação.
— Não podia deixar você... — ela começou, mas ele a interrompeu com um gesto urgente.
— Eles ainda estão por perto. Precisamos sair daqui agora.
Os dois se moveram em silêncio, usando a escuridão como aliada. Miguel liderava, mas seus olhos estavam constantemente checando Ana, garantindo que ela o seguia de perto. Eles chegaram a uma área onde as máquinas eram maiores, oferecendo mais cobertura.
— Qual é o plano? — Ana perguntou, sua voz quase inaudível.
— Temos que eliminá-los ou criar uma distração grande o suficiente para sair daqui — ele respondeu.
— Eliminar? — Ela engoliu em seco, sua mente lutando para processar o que isso significava.
Miguel não respondeu. Em vez disso, apontou para uma série de tambores de óleo empilhados no canto. Ele gesticulou rapidamente, indicando que ela deveria segui-lo. Ana obedeceu, mas seu coração estava disparado. Era um plano perigoso, e ela sabia disso.
Miguel usou o isqueiro que carregava no bolso para preparar uma armadilha improvisada. Ele encharcou um pedaço de pano com o óleo que vazava de um dos tambores e o colocou como um pavio improvisado. Ana observava em silêncio, sua mente dividida entre a admiração por sua habilidade e o medo das consequências.
— Quando isso explodir, eles vão correr para cá. Vamos usar o caos para sair pelo lado oposto — explicou ele.
— E se eles não caírem nisso? — Ana perguntou.
— Então vamos precisar de um plano B muito rápido.
Miguel acendeu o pano e puxou Ana para longe, enquanto as chamas começavam a consumir o pavio. Por alguns segundos, nada aconteceu. Então, um estrondo ecoou pelo galpão, seguido por uma onda de calor e fumaça. As luzes das lanternas tremularam na confusão, e os gritos dos homens foram engolidos pelo caos.
— Agora! — Miguel gritou, puxando Ana pela mão.
Eles correram através da fumaça, mantendo-se agachados para evitar serem vistos. O som da explosão ainda reverberava em seus ouvidos, mas eles sabiam que não tinham muito tempo antes que os homens recuperassem o controle.
Finalmente, encontraram uma saída. Era uma porta pesada, parcialmente corroída pelo tempo. Miguel usou toda sua força para empurrá-la, enquanto Ana ajudava. Do outro lado, encontraram uma escada que levava ao nível da rua. O ar fresco da noite os atingiu como um alívio bem-vindo, mas eles sabiam que não estavam seguros ainda.
— Para onde agora? — Ana perguntou, tentando recuperar o fôlego.
— Temos que nos esconder. Conheço um lugar — respondeu Miguel, já começando a andar.
Mas antes que pudessem dar mais de alguns passos, ouviram o som de um motor. Um carro preto, com os faróis apagados, estava estacionado na esquina. A porta do passageiro abriu, e um homem alto, de terno impecável, saiu.
— Eu esperava mais de você, Miguel — disse o homem, sua voz fria e calculista. Ele tinha um sorriso cruel no rosto, como se estivesse se divertindo com a situação.
Miguel parou no lugar, protegendo Ana atrás dele.
— Quem é você? — Ana perguntou, mas Miguel não respondeu. Seus olhos estavam fixos no homem, como se tentasse decifrar cada movimento seu.
— Meu nome não importa, garota. — O homem deu alguns passos à frente. — O que importa é que você e seu amigo têm algo que me pertence.
Miguel apertou os punhos, sua mente trabalhando freneticamente em busca de uma solução. A tensão era palpável, e o capítulo termina com os dois lados em um impasse, deixando o leitor em suspense sobre o próximo movimento de Miguel e Ana.
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A Última Testemunha
Mystery / ThrillerApós anos de paz, um detetive aposentado é arrastado de volta para o turbilhão de um caso que marcou sua carreira. A reaparição de uma testemunha, a única sobrevivente de uma série de assassinatos brutal, reabre feridas do passado e coloca sua vida...