[OSSOS]: Crrrrreeeeeek... Crrrrrreeeeek... Creeeeeeeeeeeeek... Crrrrrreeeeeeeeeeek....
Você levanta da cama. Algumas luzes intensas em tons azuis e rosas invadem a parede de seu quarto, o que fazem você detestar abrir os olhos com aquele susto irradiador.
[IMPULSO]: fuja do espelho...
Você está sem camisa e apenas uma cueca escura. Não demora muito para procurar a sua blusa preta jogada em um amultuado de roupas sujas.
[CÉREBRO]: Ainda estou aqui...
[MIOLOS]: COLOQUE AS MÃOS NA CABEÇA! ESTAMOS CAINDO!
O seu ouvido continua não funcionando.
[IMPULSO]: arma.
Você PRECISA DE UM CIGARRO.
[PERCEPÇÃO OLFATIVA]: Cheiro... ruim...
Você não liga para o quão decadente está o seu quarto, ou como o cheiro parece cada vez pior. O escuro da cidade nublada de poluição não permite você se afundar na própria bagunça. Não soa nada importante quando você pisa no chão e sente os dedos grudarem no piso. É provável que seja a coca cola de sábado.
Alexa revela em uma tela grande a você:
É segunda-feira.
[CÉREBRO]: Quem se importa?
[LIBIDO]: Quero bater uma...
[RAZÃO]: O seu humor não está dos melhores... Você vai se sentir mal depois.
Leo ainda não havia retornado a chamada.
Você queria xingá-lo mais uma vez por ser tão ingênuo, mas isso o fez se sentir mal com as suas escolhas. Você soa como uma mãe escandalosa tentando avisar o filho sobre as suas decisões ruins, não um amigo.
[RAZÃO]: Vocês não são mais amigos.
Esse pensamento que pairou em sua mente apertou o seu coração, mas você desvia a mente para procurar cigarro.
[IMPULSO]: cigarro
Você aceita o fluido de pensamentos e tenta ir a procura de um cigarro. Caminha em direção a mesa da cabeceira recheada de lixo de sábado. O isqueiro não está ali e você se pergunta se a garota de sexta não acabou tomando de você. Esse pensamento o fez ficar irritado, mas antes que você pudesse grunhir palavrões e comentários misóginos.
[CELULAR]: TRRRRRRRRIIIIIIIIMMMMMMM!!!!!! TRRRRRRRRIMMMMMMMMM!!!!!!!! TRRRRRRRIMMMMMMMMMM!!!!!
Em um salto, porque você sente como se seus miolos fossem gritar novamente que estavam saindo pelos buracos de sua cabeça, você atende.
Infelizmente, é Luís.
[CÉREBRO]: Desligue.
[RAZÃO]: Você não pode.
[ . . . ]
[Você]: "Eu não vou participar disso."
Os olhos do sargento Luís o encararam com seriedade.
A sala está vazia, há apenas vocês dois. Você se sente um médico, conhecido por ser doente por trabalho em seu horário de plantão, toda vez que pisa naquele horário no escritório, porque nenhuma alma viva parece ousar passear pelos corredores. As paredes eram de um vidro fosco, podendo somente ver uma policial caminhar em busca de seu café.
Você odeia militares. Odeia ter que cooperar com cada um deles.
Você se pergunta onde teve boa escolha em seguir aquele caminho.
[Luís]: "Claro que vai."
[Você]: "Eu fiz alguma coisa de errado?"
[Luís]: está te julgando, você percebe pelas sobrancelhas loiras levantadas, porém não se importa o suficiente para querer ouvir o que ele tem a dizer.
[RAZÃO]: Você recebe no final do mês.
Não é questão de escolha.
[Luís]: O rosto de Luís se contorceu em uma espécie de risada sarcástica.
[Luís]: "Você quer mesmo que eu diga?"
Na realidade, você torce apenas para Luís calar a boca, e ir embora. Em uma súbita raiva recheada de resmungos inaudíveis com clareza, você esfrega as mãos no rosto.
[Você]: "Qual é o nome do estúpido?"
[Luís]: "Giovanni."
Giovanni. Esse nome ressoa em sua mente.
[CÉREBRO]: Não me soa um nome comum... Parece gringo.
[INTUIÇÃO]: Parece ser um problema.
[Você]: "Mas afinal..." Você para um pouco a frase para esfregar o nariz. "Por que caralhos eu tô encarregado disso? Não seria melhor outra pessoa?"
[Luís]: "Bom... Já que você pergunta..." ele sorri e você consegue vê que dali vem merda, uma merda bem provocativa. "Como perguntado antes inclusive, sim, você fez algo de errado. Aquele seu teatrinho no bar do Distrito Rosé, bom... Não caiu bem." Luís forçou um sorriso, entortando o nariz, como se estivesse sentindo o seu cheiro de bebida passado daquele dia. "Se você quer se matar, tente não interferir o trabalho."
[IMPULSO]: Eu quero socar a cara desse filho da puta agora.
[Você]: "Ainda não entendi porque eu vou ser encarregado de fazer esse trabalho."
[Luís]: "A sua mãe... Ela foi puta dos Gonzalez. Puta de luxo, e de confiança. Os Gonzalez não confiam na gente."
Você dá de ombros como se fosse óbvio.
[Você]: "Somos Agentes da Secretaria de Segurança da cidade. Eu consigo entender bem o motivo de eles não nos quererem por perto."
[Luís]: "E eles teoricamente não fazem nada ilegal... Diante dos nossos olhos."
Você sente que algo está errado naquela história, mas ao mesmo tempo são as ordens. Não sabe perfeitamente como questionar.
A sua origem não é a mesma da maioria das pessoas da Secretaria de Segurança de Huahen. Sem nacionalidade, a sua família pulava de país a país procurando um local para ter o mínimo. A sua mãe conseguiu um lar, depois de muito esforço, na cidade de Huahen, em São Paulo. Ela havia sido tomada por uma onda de imigrantes chineses após a guerra entre China e EUA. Apesar dos chineses serem espertos, os outros imigrantes também eram. Mesmo sendo de grande quantidade na localidade, quem controlava as redondezas haviam sido as máfias da família Florenzo e da Gonzalez.
Gonzalez eram os mais próximos de conseguir se estabelecer sem muitos problemas por debaixo dos panos, como ocorria agora. Por mais que fossem mafiosos, as pessoas tivessem ideia dos contrabandos que realizavam e do grande controle na localidade, era mais seguros mantê-los no controle de tudo. Com a imposição das máfias por família, as milícias brasileiras e as facções passaram a se enfraquecer, tendo menos poder local, logo menos ameaça à autoridade ligada à lei.
Entretanto, apesar de todo o respeito duvidoso entre os agentes da lei e as máfias, a desconfiança ainda persistia. Assim, entra o seu trabalho suspeito. Ficar de olho em um jovem Gonzalez, sem nenhuma informação relevante, seja lá o porquê.
[Luís]: traga um cigarro e solta a fumaça, parecendo mais relaxado e distante da raiva que sentia antes. Até os seus ombros haviam relaxado.
[Luís]: "De qualquer forma, ele quer alguém como você. Origem similar."
[CÉREBRO]: De fodido, você quis dizer.
[Você]: "Certo... E o que eu preciso fazer?"