Batidas e sentimentos

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Era domingo, dia de culto, e aos sons da baqueta onde Theo tocava, soava pelo templo da Igreja, com seus cabelos cacheados bagunçados em grande movimento, acompanhava e batia no ritmo do louvor como de quem fazia aquilo desde sempre. O olhar sério estava concentrado nas baquetas da bateria, mas Livia sabia que era ali, entre o louvor e as palmas, que seu coração sempre batia mais forte.

Ela estava sentada na primeira fileira como sempre, com a garrafa no chão e os olhos fixos no altar. Mas o seu foco estava na bateria, ou melhor, em quem estava atrás dela. Livia gostava muito de apreciar Theo, ainda que ele nunca tivesse notado a intensidade com que ela o admirava.

Desde crianças, eles frequentavam a mesma igreja. Na época, Theo era apenas o menino que adorava basquete e tinha uma implicância inexplicável com ela. Livia, por outro lado, sempre achou aquele sorriso torto e seus cabelos admiráveis. Ele zombava dos cachos desajeitados dela, do jeito desastrado de quando ela pegava a bola para tentar jogar basquete. Mas ela não ligava. Sempre teve um espaço reservado para ele em seu coração.

Com o passar dos anos, muita coisa mudou. Mas Livia ainda era a garotinha tímida de antes. Theo também não mudou muito, ainda tinha o sorriso provocador meio desengonçado, porém mais maduro e mais reservado. O que ainda não havia mudado era o fato de ele continuar vivendo no mundo dele, alheio à existência dela como algo além da "menina da igreja".

Enquanto o louvor se encerrava e o pastor subia ao altar, Livia deixou os pensamentos intrusivos começarem. "Será que ele percebe alguma coisa? Será que ele, em algum momento, olha para mim e sente algo parecido?" Era um pensamento que a perseguia, ainda mais nos últimos meses, quando o jeito dele parecia ter mudado ou talvez fosse só coisa da cabeça dela.

Depois do culto, Livia foi direto para casa. Assim que abriu o celular, viu muitas notificações no grupo dos adolescentes da igreja, e resolveu abrir. Tinha diversas mensagens das pessoas elogiando Theo, pois hoje ele foi além das expectativas de todos ao tocar.

Com o coração acelerado, doida para elogiar também, Livia respirou fundo e escutou seus pensamentos intrusivos, mas, ao invés de mandar no grupo, resolveu mandar no privado. Suas mãos suavam, mas ela fingiu estar normal, antes de mandar para ele, entrou no grupo de suas amigas (Clara e Carolina) e perguntou se ela realmente deveria fazer isso:

– E aí meninas, o que vocês acham de mandar uma mensagem para o Theo, dizendo que ele tocou muito hoje? Geral está falando no grupo, mas sinto que se mandar lá, todo mundo vai perceber algo – disse Livia.

– Aii, manda logo, acho divônico você mandar no privado – respondeu Clara.

– Amooo, manda e sai correndo – respondeu Carolina.

Ao ler essas mensagens, Livia pegou e criou coragem de mandar. Ela escreveu a mensagem dizendo:
– Nossa, vi o pessoal comentando no grupo, e realmente, você tocou muito, ficou muito bom!

Ele mandou algumas risadas descontraídas – Não sabia que você entendia de bateria.

– Quem sabe? – Ela mandou – Mas achei que talvez você pudesse, sei lá, me ensinar um pouco. Parece divertido.

Ele parou por um segundo, analisando a mensagem. Nunca imaginou trocar algum tipo de mensagem com ela, mas respondeu:
– Tá bom, Liv. Vamos ver o que você consegue fazer. Mas, aviso logo, não é tão fácil quanto parece, mas acredito em você.

Era a primeira vez que ele a chamava por um apelido. Simples, mas o suficiente para fazer o coração dela dar um salto. Livia sabia que aquele momento não significava que ele finalmente a via como algo além de uma conhecida da igreja, mas era um começo. Um começo também de grandes surtos para seus pensamentos e grupo de amigas.

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⏰ Última atualização: Nov 26 ⏰

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