Raízes Perdidas

Cinzas do passado

A cena abre com a pequena Kaela, de apenas 7 anos, correndo alegremente pelos becos sombrios da Subferia. Seu irmão mais novo, Ekko, de 5 anos, a seguia de perto, com um sorriso travesso enquanto os dois brincavam de esconde-esconde. A luz fraca de Zaun iluminava o suor em suas testas, enquanto o som de vozes abafadas dos adultos preenchia o ar.

"Ekko, cuidado! Você vai cair se subir aí!" Kaela gritou, mas Ekko, teimoso como sempre, escalava uma pilha de sucata. Ele era pequeno, mas cheio de energia.

Kaela riu, mas seu riso foi interrompido por um som distante. Primeiro, era apenas um estalo, como se algo estivesse quebrando. Mas logo o cheiro de fumaça encheu o ar. Seus olhos se arregalaram quando ela viu chamas surgindo no horizonte, crescendo rapidamente em direção a eles.

"Kaela! Ekko!" A voz de sua mãe soou desesperada, cortando o caos crescente.

Kaela agarrou a mão de Ekko e começou a correr na direção da voz de seus pais. A fumaça escurecia o céu, e o calor das chamas tornava difícil respirar. Seus pais apareceram, os rostos marcados pelo desespero.

"Proteja seu irmão, Kaela! Não solte a mão dele, não importa o que aconteça!" seu pai gritou, empurrando-os na direção oposta ao fogo.

Eles correram juntos por um tempo, mas em meio à confusão, uma explosão sacudiu o chão. O som ensurdecedor fez Kaela soltar a mão de Ekko por um breve momento. Quando olhou para trás, seus pais estavam desaparecendo em meio às chamas, suas vozes abafadas pelos gritos ao redor.

"Papai! Mamãe!" ela gritou, mas ninguém respondeu.

Com medo, Kaela tentou encontrar Ekko, mas o caos era demais. O fogo consumia tudo. No momento em que ela se virou, viu uma figura surgir na escuridão: Silco.

Silco se aproximou, a expressão calma e fria. Ele era imponente, mas sua voz era suave, quase paternal. "Você está sozinha, pequena. Onde estão seus pais?"

Kaela soluçava, agarrando o próprio corpo. "Eles... eles me deixaram! Eles me deixaram no fogo! Eu tenho que achar meu irmão!"

Silco franziu a testa, inclinando-se para ficar na altura dela. "Eles se foram, criança. Eles te abandonaram. Mas você não precisa deles. Venha comigo. Eu posso te dar um lar. Posso te dar força."

Kaela hesitou. Ela queria correr, mas não sabia para onde. As palavras dele pareciam verdadeiras, mesmo que algo dentro dela gritasse que algo estava errado. Mas ela era apenas uma criança perdida e assustada. Com lágrimas nos olhos, ela estendeu a mão para Silco.

Corta para Kaela, agora com 13 anos. Ela está mais alta, mais forte, mas ainda carrega as cicatrizes daquele dia fatídico, tanto físicas quanto emocionais. Em um armazém escuro, ela treina intensamente, golpeando um boneco de treinamento até ele cair em pedaços. Silco observa de longe, seus olhos avaliadores.

"Você está ficando mais forte, Kaela. Mas força não é tudo. Você precisa de controle. De estratégia. Você está pronta para missões mais importantes, mas há momentos em que o perigo está além do seu alcance."

"Eu posso cuidar de mim mesma!" Kaela rebateu, a frustração evidente. "Você nunca me deixa fazer nada sério. Eu posso ser útil!"

Silco suspirou. "Não desta vez. Há missões que são... diferentes. Você precisa confiar em mim."

Kaela bufou, mas obedeceu. Ela sabia que Silco tinha uma maneira peculiar de proteger aqueles que considerava próximos, mas isso a fazia sentir-se insuficiente, como se ele não confiasse totalmente nela.

Dias depois, Kaela estava sozinha no esconderijo de Silco, mexendo em alguns equipamentos. Ela estava entediada e preocupada com a ausência prolongada de Silco. Missões demoradas nunca eram um bom sinal.

Quando a porta se abriu, Kaela correu até ele. Mas antes que pudesse reclamar sobre o tempo que ele ficou fora, ela viu a figura pequena atrás dele: uma garotinha de cabelos azul-claros.

"Quem é ela?" Kaela perguntou, intrigada.

"Powder," Silco respondeu simplesmente. "Ela precisa de um lar. Assim como você precisou."

Powder parecia nervosa, escondendo-se atrás de Silco, mas seus olhos grandes e curiosos encararam Kaela. Apesar de seus 10 anos, ela ainda estava visivelmente assustada, e seus olhos eram carregados de um medo sutil.

Kaela se ajoelhou para ficar na altura da garota. "Oi, Powder. Meu nome é Kaela. Você está segura aqui."

Powder deu um pequeno sorriso tímido, mas ainda parecia hesitante. Nos dias que se seguiram, Kaela fez o possível para se aproximar dela, percebendo que, apesar de serem muito diferentes, havia algo que as conectava: ambas haviam perdido tudo.

Kaela e Powder passaram a maior parte do tempo juntas. Mesmo com a diferença de personalidade - Powder sendo mais insegura e Kaela mais séria e determinada - elas começaram a formar uma ligação genuína. Kaela passou a cuidar de Powder, como uma irmã mais velha, ajudando-a a superar seus medos e se adaptar ao novo lar.

Certa noite, enquanto ambas estavam sentadas no esconderijo, Powder perguntou: "Você tem família?"

Kaela hesitou, olhando para a pequena menina ao seu lado. "Tinha. Um irmão. Mas ele... ele está perdido. Assim como nós estávamos."

Powder inclinou a cabeça. "Você acha que vai encontrá-lo?"

Kaela deu um sorriso triste. "Eu não sei. Às vezes, eu sonho com ele. Mas o rosto dele... está ficando embaçado."

Powder se aproximou, segurando a mão de Kaela. "Talvez... ele ainda esteja por aí. E talvez, quando encontrarmos ele, você encontre um pedaço de você mesma também."

Kaela olhou para Powder, tocada pela inocência da garota. Ela sabia que as chances eram mínimas, mas no fundo, ainda havia uma chama de esperança.

Naquela noite, Kaela percebeu que, mesmo sem seu irmão, ela havia encontrado alguém para proteger. Alguém que precisava dela tanto quanto ela precisava de Powder.

E, mesmo sem saber, aquela relação estava prestes a ser testada de maneiras que nenhuma delas poderia imaginar.

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Espero que vocês gostem!!