105 - A Tempestade (MICHAEL SCHUMACHER)

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"As luzes irão te guiar para casa, e acenderão seus ossos, e eu tentarei consertar você

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"As luzes irão te guiar para casa, e acenderão seus ossos, e eu tentarei consertar você."

***

A vida tem um jeito peculiar de testar nossas forças. Por anos, acreditei que nada poderia me abalar, que já havia enfrentado desafios suficientes nas pistas e fora delas. Mas, naquele dia, percebi que a maior corrida da minha vida ainda estava por vir — uma corrida na qual eu não tinha controle do resultado.

Era uma tarde ensolarada. Gina e Mick brincavam no jardim, tentando ensinar nosso cachorro a buscar um frisbee. Enquanto isso, Sn e eu estávamos na sala, aproveitando um raro momento de paz, quando o telefone tocou. Ela atendeu, e a mudança em sua expressão foi imediata.

— Michael... — sua voz tremia, e eu soube, antes mesmo de ouvir qualquer palavra, que nossa vida estava prestes a mudar.

Após semanas de exames e consultas, a confirmação chegou: era câncer. As palavras ecoaram como um golpe seco, tirando o chão sob meus pés. Olhei para ela, esperando que tudo não passasse de um engano, mas a realidade era implacável.

Nos primeiros momentos, tentei ser forte. Ela precisava de mim, assim como as crianças. Mas, naquela noite, enquanto ela dormia ao meu lado, senti meu coração se despedaçar. Nunca me senti tão impotente.

Contar para Gina e Mick foi ainda mais difícil. Gina, sempre perspicaz, entendeu imediatamente.

— Mamãe vai ficar bem, não vai? — ela perguntou, com os olhos marejados.

Eu queria mentir, dizer que tudo ficaria bem, mas Sn balançou a cabeça levemente. Não faríamos promessas que não podíamos cumprir.

— Vamos enfrentar isso juntos, Gina. Somos uma equipe, lembra? — respondi, tentando esconder minhas próprias lágrimas.

Mick permaneceu em silêncio, mas, mais tarde, encontrei-o em seu quarto, segurando uma foto nossa. Quando nossos olhares se cruzaram, ele finalmente desabou.

— Não quero perder ela, papai.

— Nem eu, filho. Nem eu.

***

Apesar da gravidade da situação, ela mostrou uma força que me inspirava diariamente.

— Isso não vai me definir, Michael. Quero que eles se lembrem de mim como sou, não como uma paciente.

Ela insistiu em manter a rotina o máximo possível: ajudava Gina com os deveres, assistia aos treinos de kart de Mick, e fazia questão de participar dos almoços em família. Mas, quando estávamos a sós, permitia-se desmoronar.

— Tenho medo, Michael... Medo de não estar aqui para vê-los crescer.

Eu a segurava, tentando absorver toda a dor, mesmo sabendo que não podia carregá-la por ela.

— Você estará sempre com eles, Sn. Sempre.

Os dias que se seguiram foram uma montanha-russa de emoções: consultas, tratamentos e esperanças renovadas ou devastadas. A cada manhã, eu a levava ao hospital. Ela segurava minha mão, às vezes em silêncio, às vezes falando sobre as coisas que queria fazer quando estivesse melhor.

O tratamento era brutal. Eu via o cansaço nos olhos dela, os sorrisos forçados para tranquilizar as crianças. Ainda assim, ela nunca desistiu.

Houve dias de vitória, como quando os médicos disseram que o tumor estava respondendo bem. Celebramos com um jantar simples em casa. Gina fez um bolo torto e mal assado, mas rimos e comemos como se fosse a melhor sobremesa do mundo.

Mas também houve dias de desespero. Dias em que ela mal conseguia levantar da cama, e eu me perguntava como encontrar forças para apoiá-la.

Mesmo em meio à tempestade, buscamos refúgio nos momentos que podíamos criar. Um dia, ela insistiu em visitarmos o lago onde passeávamos antes das crianças nascerem.

— Quero que se lembre de mim assim, Michael. Não presa a um hospital.

Passeamos de mãos dadas, como antes, conversando sobre tudo e nada.

— Você sempre será minha melhor volta, Michael.

— E você, meu troféu mais valioso.

Ela riu, e, por um breve instante, o peso do mundo pareceu desaparecer.

Gina e Mick surpreenderam-me com sua força. Gina, mesmo jovem, cuidava da mãe com dedicação. Mick, mais reservado, segurava a mão dela durante os tratamentos e fazia pequenos gestos para mostrar seu amor.

Eu via o quanto essa luta os estava moldando. Apesar da dor, havia amor em cada gesto, em cada sorriso forçado.

Houve noites em que, sozinho, eu desmoronava. A responsabilidade de ser a rocha para minha família era esmagadora. Sentia-me impotente, incapaz de protegê-la dessa batalha.

Mas, todas as vezes, eu a via lutar, e isso me dava força.

Ela era o coração da nossa família, e eu sabia que, por mais difícil que fosse, enfrentaríamos tudo juntos. Afinal, a maior vitória não era cruzar a linha de chegada, mas continuar correndo, mesmo sob a tempestade.

***

Continua...

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