In Memoriam
"A vitória não está apenas no troféu, mas na jornada e nas pessoas que amamos."
***
A pista estava perfeita. O motor rugia como uma extensão do meu corpo, cada curva, cada reta, cada ultrapassagem calculada com precisão. Eu estava em total sincronia com o carro, com o asfalto, com a adrenalina que corria em minhas veias. Nada poderia me distrair naquele momento, ou pelo menos era o que eu pensava.
Nada, exceto ela. Sn. Minha mulher, minha força, meu ponto de equilíbrio. Desde que nos conhecemos, ela se tornou a minha maior torcedora, a pessoa que me lembrava, todos os dias, que a vida fora das pistas também era cheia de conquistas e desafios importantes. Mesmo agora, com o barrigão da gravidez prestes a atingir seu ápice, ela nunca deixou de estar presente, ali, nas arquibancadas, com seu sorriso iluminando tudo ao redor.
Eu pedi inúmeras vezes para ela descansar, ficar em casa, se poupar. Mas Sn era teimosa – ou determinada, como ela preferia dizer.
— Eu não vou perder isso, Ayrton. Cada corrida sua é um momento que quero guardar para sempre.Hoje, contudo, havia algo diferente no ar. Era como se um pressentimento pairasse no fundo da minha mente, algo que não consegui afastar, mesmo enquanto focava na corrida.
A disputa estava acirrada. A cada volta, o calor do motor parecia aumentar, assim como a pressão dos adversários. Mas essa era a minha zona de conforto. Eu sabia como agir sob pressão, como usar cada segundo para encontrar vantagem. Na última volta, o mundo ao meu redor parecia desacelerar. A bandeira quadriculada tremulava à frente, e, com um último suspiro do motor, cruzei a linha de chegada em primeiro lugar.
Mais uma vitória. Mais um troféu. Mais um momento para celebrar.
Só que a celebração não veio como esperado. Quando parei o carro no pit lane, pronto para sair e abraçar minha equipe, fui surpreendido pela expressão do meu engenheiro correndo em minha direção. Ele parecia diferente. Não havia aquele brilho de euforia que normalmente acompanhava uma vitória. Em vez disso, havia urgência.
— Ayrton, é a Sn! Ela entrou em trabalho de parto!Eu demorei alguns segundos para processar aquelas palavras. Trabalho de parto? Agora? O coração deu um salto no peito. O barulho dos motores e os flashes ao redor se tornaram apenas um borrão.
— Ela está no hospital. A bolsa estourou no meio da corrida!Eu nem pensei duas vezes. Arranquei o capacete, mas deixei o macacão. Não me importava com o pódio, com os jornalistas, com os fãs que aguardavam para celebrar mais uma vitória. Havia algo – ou melhor, alguém – muito mais importante esperando por mim.
No carro, a caminho do hospital, minha mente estava a mil. Eu, que sempre fui tão calmo e focado nas pistas, me sentia vulnerável, inquieto. Cada farol parecia uma eternidade. Quando finalmente cheguei, corri pelos corredores, ainda com o cheiro de gasolina impregnado em mim, buscando a sala indicada pela recepção.
E então, eu a vi.
Sn estava deitada, exausta, mas ainda assim parecia radiante. Seus cabelos estavam grudados na testa por causa do suor, mas o sorriso que ela me deu quando me viu entrar era o mais bonito que eu já tinha visto.
— Ayrton — ela chamou, a voz fraca, mas cheia de amor e alívio. — Ele esperou você terminar a corrida.Meus olhos encheram de lágrimas. A expressão de vitória agora não tinha nada a ver com o que acontecera na pista. Lá, nas mãos dela, estava o nosso filho. Tão pequeno, tão frágil, mas ao mesmo tempo tão perfeito.
Me aproximei devagar, como se temesse quebrar aquele momento mágico. Toquei o rostinho dele com dedos ainda tremendo, e uma onda de emoção tomou conta de mim.
— Você venceu duas corridas hoje — Sn brincou, com aquele tom de humor que eu tanto amava.
— Essa foi, sem dúvida, a vitória mais importante da minha vida — respondi, segurando a mão dela com firmeza e olhando novamente para o nosso bebê.Naquele instante, percebi que nada, nem mesmo a emoção das pistas, poderia se comparar àquele sentimento. Eu, Ayrton Senna, campeão mundial de Fórmula 1, agora era campeão em um novo desafio: o de ser pai.
A corrida da vida, descobri ali, era a mais emocionante de todas.
***
Olá, pessoal!
Não sei se já postei esse, mas, se sim, me avisem, por favor.
Beijinhos!
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Imagines Fórmula 1
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