Abismo?

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Por mais que eu tentasse, não estava conseguindo ficar parada

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Por mais que eu tentasse, não estava conseguindo ficar parada.

Desde que fomos a área de descanso, onde havia duas cabanas projetadas de tábuas finas com mesas de madeira em volta, a maioria ocupadas por mineradores que comiam focados na refeição, muitos sequer desviando para olhar seus companheiros na própria mesa e sequer se importaram quando chegamos.

Assim que sentamos, Lenos colocou a mochila apoiada no chão e deixou as cestas no banco de pedra ao seu lado, nos servindo com pedaço de pães e suco engarrafado, usando os copos de plásticos também tirados da cesta. O cheiro de comida caseira se misturou com o ar fresco da mina, me causando uma estranheza no nariz.

Eu não me sentei, tentando usar a agitação física para distrair a mente das vozes.

Eles não me impediram, não me chamaram pra me unir pela terceira vez porque já tinha recusado duas vezes e entenderam que eu precisava daquilo, me mover para me acalmar. Eu não sumiria de vista.

Podia sentir como se as paredes rochosas fossem se desfazer, cair sobre minha cabeça, me esmagar, mesmo que houvessem imensos pilares naturais de sustentação que marcavam a solidez do lugar.

Andando de lá pra cá, ouvindo o som distancia do tintilar das ferramentas de mineração batendo contra as rochas, reparei que havia uma estranha névoa se rastejando no chão, cobrindo parcialmente meus pés. Absolutamente ninguém parecia se importar com tal fator.

─ O se- você gosta de trabalhar aqui? ─ escutei Feyre perguntar ao Beddor, mas não estava realmente interessada na conversa deles e nem eles em mim.

─ É claro, senhorita Feyre. Estou nisso há quase quarenta anos...

─ Quarenta anos?

Minha mente simplesmente deixou de ouvi-los, estando mais concentrada em olhar em volta. Na névoa, nas paredes de pedra que pareciam se encolher e em como as vozes pareciam estar mais altas vindo da frente.

Só quero que elas parem!

Encarei adiante, vislumbrando a névoa cair em cascata a alguns passos indicando que não havia piso que a mantesse estável. Espiei por cima do ombro, todos seguiam comendo em silêncio, somente Feyre e Lenos falando.

Ao me aproximar, não fui capaz de ver nada além de um poço, um abismo insondável que parecia não ter fim e as poucas luzes da área do descanso criavam sombras inquietantes ao redor, sendo de pouca ajuda para ver o fundo.

Sem saber explicar, sentia que as vozes, elas... Me puxavam de maneira surreal para ali, como se desvendar o que quer que pudesse ter no abismo, fosse me ser útil. As vozes seguiam aumentando, me chamando por Clare e Tenebris.

Quem eu sou? 

As vozes ficam mais urgentes, quase como se tivessem impacientes pela minha demora. Continuo sentindo as paredes se movendo, a névoa gelada tocando atravessando minhas botas e tocando meus pés, como serpentes.

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Clare Beddor - ACOTARWhere stories live. Discover now