A estrada estava deserta, a noite envolvia tudo em uma capa escura e pesada. O som do motor do carro preenchia o silêncio, mas minha mente estava longe, ocupada com o caos dos últimos momentos. Eu precisava manter Jenna segura, mais do que qualquer coisa. A casa que nos esperava na colina era um refúgio, um lugar onde eu poderia respirar novamente e tentar encontrar alguma paz.
Eu não podia deixar o pânico tomar conta. Não agora. Não enquanto ela estivesse comigo. Eu tinha aprendido a me orientar pelos sons, pelos detalhes que o mundo de fora me dava. Quando a vida escureceu, a cegueira se tornou minha aliada, forçando-me a confiar nos outros sentidos e no instinto. O cheiro da terra molhada, o som da chuva suave batendo no vidro, o som do motor fazendo a estrada vibrar ligeiramente... tudo isso me guiava.
- Estamos quase lá, Jenna... - falei, a voz mais calma do que me sentia. - Você está bem?
Ela não respondeu imediatamente, e eu pude ouvir o ar que ela tentava prender em seus pulmões, como se estivesse engolindo cada pedaço de medo que ainda restava. Eu a entendia. A pressão do que tínhamos acabado de fazer estava nos esmagando. Não era só sobre proteger a nós mesmas, mas também sobre o peso da decisão que tomamos.
- Eu... Eu não sei como lidar com tudo isso. - sua voz tremia, quase como se estivesse tentando se convencer de que aquilo tudo era um pesadelo.
- Eu sei. - eu disse, mais para mim mesma do que para ela. - Mas é por isso que estamos indo para lá. Para a casa de minha mãe adotiva. Não podemos ficar em nenhum lugar que possa nos conectar a isso.
A cada quilômetro que percorríamos, o peso no meu peito aumentava. A casa na colina sempre foi um refúgio para mim, e agora, mais do que nunca, precisava ser isso novamente. Um lugar onde os fantasmas do passado pudessem ficar para trás.
Quando chegamos à entrada da estrada íngreme que levava à casa, o silêncio tomou conta. As árvores ao redor da estrada pareciam se curvar, como se quisessem proteger a casa. O som das rodas do carro deslizando na terra molhada ecoava na noite tranquila.
- Aqui estamos. - falei, apontando para a estrada que subia. - A casa é no topo da colina. Vai ser difícil se alguém nos seguir, mas não podemos correr o risco.
Jenna não respondeu, mas pude ouvir sua respiração mais calma. Era o alívio de estar em um lugar aparentemente seguro. Quando o carro estacionou, respirei fundo, ouvindo o som do motor ser desligado, o que quebrava o silêncio da noite.
Desci do carro, tocando as superfícies com os dedos, me orientando pela estrutura da casa antes de entrar. Sabia que cada cômodo ali estava marcado pela presença de minha mãe adotiva. Quando ela faleceu, a casa ficou vazia, mas para mim ainda tinha vida. Eu a usava para minhas telas, para encontrar a paz que a escuridão da minha visão muitas vezes me roubava. Mas agora, não era apenas sobre arte. Era sobre sobrevivência. E sobre Jenna.
A casa, uma construção de madeira, com grandes janelas em estilo antigo, estava vazia e silenciosa, exceto pelo som dos nossos passos e da chuva caindo forte lá fora. O cheiro de madeira velha, misturado ao de tinta e óleo de minha última sessão de pintura, ainda estava no ar. Eu me movi com cuidado, guiando Jenna pela casa.
- Vamos para o ateliê. - falei, com a voz suave. - Lá você pode descansar um pouco.
Ela seguiu, relutante, mas sem questionar. O ateliê ficava no segundo andar, uma sala ampla com uma grande janela de onde se podia ver toda a paisagem ao redor, a colina, as árvores e o mar ao longe. Ali, as telas e as pinceladas eram tudo o que eu tinha para me concentrar. Para me perder.
Quando entramos no ateliê, Jenna se sentou em uma das poltronas, a respiração ainda um pouco irregular. Eu me movi até o canto, onde guardava os pincéis e as tintas. O som de gotas de chuva batendo na janela era quase hipnótico, mas não o suficiente para me distrair da tensão ainda presente entre nós.
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AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!
Fanfic[ CONCLUÍDO] Julia HolloWay perdeu a visão em um acidente que mudou sua vida para sempre. Antes, as cores e formas eram sua paixão; agora, a pintura se tornou um refúgio, uma maneira de expressar tudo o que sente, mesmo sem enxergar. Ela aprendeu a...