WenClair em Linhas De Sangue e o Destino

Capítulo 22: Decisões difíceis

O sol da manhã atravessava a janela da sala, criando padrões suaves de luz no sofá onde Enid havia dormido. Ela abriu os olhos lentamente, sentindo-se estranhamente aquecida ao lembrar que Wednesday estivera ali com ela na noite anterior. Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto, mas logo desapareceu quando a realidade voltou à tona.

Sua mãe. A expulsão. A humilhação.
Ela suspirou, sentindo o peso da escolha que precisava fazer: aceitar o emprego no hospital ou trabalhar para a excêntrica família Addams. Ambas as opções pareciam assustadoras à sua maneira, mas a primeira, pelo menos, parecia mais... segura.


Levantando-se, começou a arrumar a sala como forma de organizar os próprios pensamentos. Quando terminou, decidiu que precisava de um banho para clarear a mente. Caminhou até o quarto de Cheryl, onde a encontrou sentada em sua escrivaninha, super concentrada no notebook. Cheryl usava grandes fones de ouvido e balançava a cabeça no ritmo da música, enquanto dublava a letra com uma animação tão exagerada que parecia estar performando para uma plateia.


Enid sorriu, hesitante.
_ Bom dia.


Cheryl tirou os fones de um jeito teatral e respondeu:
_ Bom dia, querida! Dormiu bem? Espero que o sofá não tenha te devorado!


_ Foi ótimo, obrigada.
Enid deu um pequeno sorriso antes de continuar:
_ Posso usar o seu banheiro para me arrumar?


Cheryl fez um gesto expansivo com as mãos.
_ Minha casa é sua casa, sabe disso. Use o que precisar, quando precisar.


Aliviada, Enid foi para o banheiro. Ela escovou os dentes, sentindo o gosto de menta limpa afastar o amargor de seus pensamentos. Decidiu que precisava de um banho para se recompor completamente.


Mas mesmo sob o chuveiro, não conseguiu evitar que a tristeza a atingisse com força total. Passando as mãos pelo corpo, sentiu os hematomas ainda recentes deixados pela brutalidade de sua mãe. As palavras cruéis ecoaram em sua mente como dardos envenenados: "Você é uma puta... Você me decepcionou mais do que eu pensei que fosse possível."


Enid tentou afastar os pensamentos, mas eles a engoliram. Silenciosamente, lágrimas misturaram-se às gotas de água do chuveiro, descendo pelo ralo junto com um pouco da dor acumulada. Ela chorou sem emitir um som sequer, como se quisesse guardar aquele momento apenas para si.


Quando terminou, sentiu-se estranhamente aliviada, como se o choro tivesse limpado mais do que apenas o corpo. Vestiu-se com cuidado, escolhendo sua melhor roupa, uma simbologia de um recomeço, talvez. Prendeu o cabelo de maneira prática, colocou um scrub na bolsa, e calçou os crocs, pronta para assumir seu posto no hospital, se precisassem dela imediatamente.


Voltando à cozinha, encontrou Cheryl no computador. Dessa vez, a amiga estava tomando um gole de café enquanto folheava algo online.


_ Cheryl, eu decidi.
Disse Enid com firmeza na voz.

Cheryl olhou para ela com curiosidade, mas não interrompeu.


_ Vou aceitar o emprego no hospital. Trabalhar com os Addams não é para mim. É o hospital que pode me dar alguma estabilidade. E...
Enid hesitou, mas prosseguiu:
_ Se eu for boa o suficiente, talvez minha mãe veja que sou capaz e me aceite de volta em casa.


Cheryl suspirou, escondendo a preocupação com um sorriso leve.
_ Se é isso que você quer, eu apoio. Só... saiba que você não precisa provar nada para ninguém. Muito menos para quem não enxerga o seu valor.


Enid sorriu de volta, mas estava decidida. Ela não podia explicar, mas sentia que aquela era sua chance de resolver as coisas.


Pouco tempo depois, ela deixou o apartamento, caminhando para o ponto de ônibus ou a estação de metrô mais próxima. O ar frio da manhã parecia lhe dar energia para seguir adiante. Mesmo com as dúvidas e os medos, Enid estava convencida de que estava tomando a decisão certa. Afinal, o caminho que escolhemos às vezes é mais sobre quem queremos ser do que sobre quem já somos.


Xxx


O hospital era uma estrutura grandiosa e intimidadora. Enid sentiu o peso da responsabilidade logo ao cruzar a porta principal. Na recepção, foi encaminhada ao RH, onde um rapaz de terno elegante e sorriso cordial a aguardava.

_ Bem-vinda, Srta. Sinclair! Vamos fazer um tour pelo hospital e mostrar o que será sua nova casa profissional, caso decida aceitar a proposta.

Enquanto caminhavam pelos corredores impecavelmente limpos, ele gesticulava com entusiasmo, explicando as funções de cada ala, os recursos disponíveis e a história do hospital.

A certa altura, o rapaz comentou: _ Ficamos impressionados com o seu currículo e, especialmente, com a carta de recomendação. É raro encontrar algo tão elogioso.

Enid parou, surpresa.