CAPÍTULO 30 - EU NÃO SOU UM MONSTRO

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Os dias passaram lentos, como se o tempo tivesse se esticado, dilatado, para corresponder à prisão que eu mesma criei. Cada manhã, eu acordava, uma sensação estranha e oca no peito, mas ainda com uma necessidade insaciável de vê-la, de me aproximar, Jenna.

Era uma rotina, uma necessidade mórbida. Todos os dias, descia ao porão, a mesma escada rangendo sob os meus pés, até chegar à porta da jaula. Eu sentia a pressão nos meus ombros, a sensação de que todo o peso do que estava fazendo se acumulava. Mas nada me parava. Nada me fazia retroceder. Ela precisava entender.

Eu levava um prato simples de comida toda vez. Nunca mais foi como antes, quando me preocupava com a qualidade do que fazia, o sabor, ou até mesmo se ela gostaria do que eu preparava. Agora, era apenas uma refeição básica, algo que ela pudesse comer ou não. O que importava era que eu a controlava até nesses pequenos gestos.

Ela nunca olhava para mim enquanto eu descia. Ela estava sempre lá, encolhida, de costas, tentando se afastar da minha presença, tentando me ignorar. Mas eu sabia que, no fundo, ela não conseguia. Ela não poderia.

- Jenna... - minha voz vinha rouca, quase imperceptível, mas carregada de uma tensão que a fazia se arrepiar.

Ela se vira lentamente, olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, mas nunca dizia nada. Não precisava. Eu via a dor estampada em seu rosto, e isso me alimentava. Cada vez que ela me olhava assim, com repulsa e medo, era como um lembrete de que, no fundo, ela ainda se importava.

Coloquei o prato com a comida na frente da jaula, mantendo uma distância prudente. Ela olhava para o prato, mas não o tocava de imediato, como se fosse uma escolha entre se alimentar ou não. Como se alimentar fosse aceitar mais um pedaço da minha posse sobre ela. Eu sabia disso. Eu sabia que ela preferia sofrer de fome a ceder.

- Você vai comer, Jenna? - perguntei, tentando soar calma, mas havia uma camada de frieza na minha voz que ela não podia ignorar.

Ela balançava a cabeça, olhos afastados, recusa silenciosa. Eu sabia o que ela queria, mas ela não compreendia que, enquanto fosse assim, o sofrimento dela só aumentaria.

- Você sabe que isso é sua escolha, não sabe? - continuei, o tom da minha voz mais suave, quase persuasivo. - Comer ou não comer... Tudo isso é parte do seu jogo, da sua maneira de tentar me desobedecer. Mas isso não vai mudar nada, Jenna. O que você sente, ou o que pensa, não vai me fazer recuar.

Ela me encarava em silêncio, os olhos vazios, sem respostas. A expressão dela era de uma dor irreversível, como se tudo o que ela já soubera tivesse sido arrancado dela. Mas a culpa não era minha. A culpa era dela, por me ignorar por tanto tempo, por nunca ter me dado a atenção que eu precisava. Eu não tinha mais pena de sua dor.

Eu me ajoelhei perto da jaula, encarando ela.

- Você vai me amar, Jenna.

- Eu nunca vou te amar! - gritou se agarrando a grade da jaula, logo cuspindo em meu rosto.

O cuspe gelado atingiu meu rosto, mas eu não me movi. Não reagi de imediato, permitindo que a humilhação se transformasse em algo mais. Algo que fosse ainda mais eficiente. Uma demonstração clara de que a resistência dela só me fortalecia, que, por mais que ela tentasse me ferir, nada poderia mudar o que estava sendo construído entre nós.

Eu levei minha mão até o rosto, limpando a saliva de maneira lenta e meticulosa, quase como se estivesse absorvendo aquilo. A dor, a repulsa, tudo isso era apenas parte do jogo. Um jogo em que ela ainda não entendia o verdadeiro objetivo.

Quando terminei, olhei diretamente nos olhos dela, com uma raiva crescendo. Só um olhar frio, implacável.

- Tudo que eu fiz foi por você, que tal ser grata só um pouquinho!?

AMOR EM CORES VIVAS - JENNA ORTEGA / GP!Onde histórias criam vida. Descubra agora